Planejamento Financeiro #01 — Propósitos e Benefícios
Parte 1 — Entendendo um pouco sobre como fazer planejamento financeiro (processo, código de ética e competências do planejador) e material de Estudo para certificação CFP
Como primeiro artigo de uma série, cabe começar pela coisa mais importante: o que diabos é Planejamento Financeiro (PF)?
Se tem planejamento, então presumimos que tem uma (ou mais) estratégia. Ou seja, existe alguns objetivos, direcionamentos para atingi-lo e algumas tomadas de decisões pelo meio do caminho. O plano considera o passado, prepara o presente e almeja um futuro. Tempo é um conceito essencial quando se pensa em PF. O bom planejamento gera o maior benefício de todos: o equilíbrio financeiro entre ganhos e os gastos.
Através do equilíbrio é que se pode melhorar a vida das pessoas, porque ele pode significar, direta ou indiretamente, várias coisas para quem usufrui dele:
- Maior controle de gastos e investimentos
- Evita o acúmulo de dívidas
- Tranquilidade financeira
- Planejar as finanças, investimentos, seguros e sucessão
- Concretização de sonhos e metas
- Aquisição de bens materiais
Reflexão #01 - Muitas vezes as pessoas pensam em planejamento financeiro como algo que pode deixá-las ricas, ou as vezes como algo muito doloroso que vai exigir muito sofrimento da pessoa. E isso pode até ser parte do processo, mas nunca é a intenção do planejamento. O PF busca sempre o equilíbrio: nem precisa parar de gastar com o que lhe satisfaz e preenche, nem precisamos buscar ganhos absurdos e impossíveis. O planejamento financeiro é customizável, é para poder colocar todas as variáveis na balança e ver o que melhor se adequa a cada pessoa. As recomendações que podem gerar equilíbrio para alguém pode não servir pra outra pessoa, e vice-versa. Então a primeira grande pergunta para se refletir é: o que eu preciso para criar um equilíbrio na minha vida financeira?O processo de planejamento financeiro
A primeira etapa é a de definir e estabelecer um relacionamento com o interessado com quem precisa de PF. É necessário informar a outra pessoa sobre o processo, sobre as competências do planejador e se é possível atender as necessidades desta pessoa. Caso haja a relação comercial, faz-se necessário definir o escopo deste planejamento e as formas de remuneração (fee, comissionamento ou híbrido)
A segunda etapa (ou a primeira, se você está planejando para si mesmo) é coletar informações. Quais são os objetivos da pessoa? Pode evocar a reflexão do equilíbrio financeiro, mas principalmente é necessário entender as prioridade, necessidades e objetivos. Quanto mais informações da pessoa, melhor: tanto informações quantitativas (patrimônio, dívidas, investimentos etc.) quanto qualitativas (perfil de risco, conhecimento do mercado, situações familiares etc.).
A próxima etapa é a análise e avaliação da situação do cliente. O quanto a pessoa é avessa a determinados riscos, como ela costuma e/ou prefere alocar seus recursos financeiros, o perfil de investimentos (suitability) e verificar se objetivos e perfis da pessoa são coerentes (capacidade e disposição).
Há a etapa de desenvolvimento das recomendações e apresentação aos clientes, que ainda é uma fase de planejamento. Nesta etapa são definidos os possíveis cenários e podem servir de insumos para sugestões aos indivíduos: orçamento familiar, balanço patrimonial, planejamento de seguros, planejamento tributário, planejamento sucessório e investimentos.
Por mais que planejamento seja algo só teórico até aqui, chega o momento de colocar a mão na massa, por isso é importante uma nova etapa de implementação das recomendações. É aqui que se faz a procura dos produtos, investimento nos produtos e alocação dos ativos.
O cronograma é obrigatório, uma vez que, qualquer alteração deve ser realizada mediante autorização do cliente.
E por fim, há o monitoramento e reavaliação da situação do cliente. O planejamento deve ser revisado periodicamente, e deve haver mudanças sempre que os cenários sofrerem modificações e/ou os resultados estarem aquém das expectativas.
Reflexão #02 - Para ajudar outras pessoas a se planejarem, é sempre bom ter em mente duas macro variáveis daquela pessoa: capacidade e disposição. A capacidade está relacionado ao quanto aquela pessoa é capaz de honrar seus compromissos - está atrelado principalmente ao patrimônio e renda da pessoa, mas também ao ciclo de vida financeiro que ela está naquele momento (se está no momento de fundação, acúmulo, manutenção e conservação, e distribuição ou transferência de capital). A disposição está relacionado ao nível de conhecimento, comportamento e atitudes financeiras, além do quanto avesso ao risco a pessoa é. No geral, as pessoas são avessas ao risco e não gostam de correr riscos desnecessários.Não adianta a capacidade da pessoa ser limitada (por exemplo, uma pessoa com idade avançada e ganhando um salário mínimo) ter uma disposição muito maior (ex.: desejo de investir em criptomoeda, sem conhecer os riscos do ativo). É necessário buscar o equilíbrio financeiro.
Código de conduta ética e responsabilidade profissional da planejar
Assim como qualquer código de ética, este é muito importante para as atividades de um profissional. O código de ética do CFP é estruturado pela Planejar com as responsabilidades e princípios que um indivíduo certificado deve cumprir com confiança em seu trabalho junto ao cliente.
Note que o código já faz jus ao seu nome, pois o não cumprimento dessas práticas acarreta ao profissional CFP a instauração de apuração conforme previsto nos “Procedimentos Disciplinares” do código.
Com base nestes pilares, o código do planejador financeiro é dividido em cinco sessões:
I) Termos e Expressões: O economês pode trazer termos de difícil compreensão para quem está fazendo o planejamento financeiro pela primeira vez. A linguagem deve ser precisa e sem alterações de significado. A comunicação entre as duas partes deve ser com qualidade, clareza e ser concisa para que o planejamento seja adequado aos objetivos.
II) Princípios Éticos: Determinam o conhecimento do planejador com as suas funções e responsabilidades com o seu cliente
- Cliente em primeiro lugar: os interesses do cliente sempre vem em primeiro lugar e devem ser cuidados como se fossem os do planejador.
- Integridade: honestidade e transparência são essenciais para não haver omissão de ganhos, benefícios e vantagens.
- Objetividade: ser objetivo e sem delongas é comunicar todos os fatos relevantes ao cliente, sem viés, e certificar-se da sua compreensão.
- Imparcialidade (Probidade): revelar quaisquer possíveis conflitos de interesse mantendo-se justo e imparcial; segregação do patrimônio do cliente e seu próprio patrimônio.
- Profissionalismo (Conduta Profissional): para complementar um bom trabalho, o profissional deve ter postura exemplar zelando pela boa imagem, observar a legislação vigente, não deter dinheiro ou emprestar dinheiro para o cliente e, além de, observar as regras para o uso de marca CFP.
- Competência: manter-se sempre atualizado, assessorar o cliente em áreas apenas que tenha pleno domínio e zelar pela educação continuada.
- Confidencialidade: toda e qualquer informação dos clientes são sigilosas, por isso jamais expor informações exceto se: - Processos legais; - Legislação vigente; - Atender obrigações com empregadores ou sócios; - Defender-se ontra acusações contra conduta irregular; - Prestar serviços profissionais em nome do cliente com autorização por escrito do mesmo.
- Diligência: cumprir a palavra e seguir os acordos e respeitar prazos, objetivos e acordos.
Reflexão #03 - O "cliente em primeiro lugar" é o mais importante e transversal dos princípios. A relação profissional entre planejador-cliente deve ser pautada sempre com comprometimento, e respeitando todos os demais princípios.Cabe ressaltar que não existem “privilégios da relação planejador-cliente” e que o sigilo é condicional, desde que hajam motivos de força maior que seja necessário
III) Regras: existem uma série de regras na versão novo do código da Planejar, aplicáveis ao CFP. Vale a pena consultar o Código de Ética para sempre ter as regras atualizadas. O objetivo das regras é tangibilizar algumas situações previstas nos princípios.
IV) Procedimentos Disciplinares: segundo a Planejar, o descumprimento dos princípios e regras do código será objeto de apuração pela instituição, seja por meio de ofício ou mediante o recebimento de denúncia. Além disso, é garantido na condução do procedimento a ampla defesa ao contraditório, sendo observadas a celeridade e a simplificação dos atos (informalidade): - celeridade; - razoabilidade; - simplificação dos atos. Assim, na hipótese de constatada irregularidade será aplicado o processo disciplinar nos casos de descumprimento dos princípios e regras contidos no código, não a outras normas, de maneira eventual.
As penalidades que são oriundas de procedimentos disciplinares pela Planejar são: ⯀ Advertência Privada pelo Conselho, por escrito, não publicada, mas ficará nos autos da Planejar enviada diretamente ao denunciado; ⯀ Multa, não excedente a 50x o valor da anuidade vigente, por ocasião da infração, que pode ser aplicada em conjunto ou isolada; ⯀ Advertência Pública do Conselho que será divulgada nos meios de comunicação; ⯀ Suspensão temporária do denunciado do quadro e proibição temporária que será divulgada em todos os meios de comunicação e também do uso das marcas CFP®; ⯀ Revogação de uso das marcas CFP® e exclusão do quadro divulgada em todos os meios de comunicação da Planejar;
V) Melhores Práticas: esta é a última sessão, mas não menos importante. Ela apresenta as principais maneiras de um relacionamento entre um associado planejador e seu cliente. São elas:⯀ Desenvolvimento de mecanismos para formalizar o escopo de trabalho, custos envolvidos, remuneração pelos serviços, prazos acordados e outros itens que se julguem necessários; ⯀ Comunicar ao cliente qualquer informação que possa afetar sua decisão em contratá-lo; ⯀ Informar que a planejar é o canal oficial para reclamações.
Capacidades, habilidades e conhecimento técnico do Planejador Financeiro
Um planejador financeiro deve criar possibilidades que beneficiem e protejam os objetivos do cliente e fomente sua profissão. Por conta disso, o profissional precisa ter um mix de capacidades que envolvem:
⯀ Capacidades: ser capaz de realizar adequadamente boa coleta (entendendo necessidades, prioridades e contextos), análise (verificando condições e limitações) e síntese (objetivar e simplificar recomendações e estratégias) das informações do interessado pelo planejamento financeiro.
⯀ Habilidades Profissionais: deve sempre atuar como um profissional de planejamento financeiro, incluindo manter a responsabilidade profissional (atuar sempre pelos interesses do cliente e agir tecnicamente), prática (cumprir legislação e código de ética), comunicação (dar atenção especial ao cliente e saber lidar com feedbacks e ter clareza de conteúdo) e cognição (utilizar lógica e raciocínio para tomada de decisões, sendo capaz de adequar quando necessário).
⯀ Conhecimento técnico: com os conhecimentos essenciais o profissional possui a expertise de mercado para fornecer orientações necessárias sobre finanças e planejamento. Algumas sabedorias como em economia, e até mesmo de cursos e certificações são relevantes para a atuação profissional.
Reflexão #04 - É importante destacar que o planejamento financeiro é uma disciplina com diferentes saberes e atuações, que utilizam-se de bases de conhecimento econômico, mas precisa entender de pessoas, comportamentos, incertezas e outras manifestações políticas, culturais e sociais para sua aplicação. Desta forma, é importante ter em mente que o planejamento financeiro possui alguns componentes específicos, a saber:⯀ Gestão financeira: o que são os recursos, onde está o patrimônio e qual o fluxo de dinheiro envolvido
⯀ Gestão de ativos e investimentos: o que são os ativos financeiros, como eu consigo alocar recursos neles e quais estratégias de poupança e investimentos podem ser utilizados
⯀ Planejamento de Aposentadoria: como pensar o que vai acontecer no fim da vida econômica, como posso usufruir de tudo o que foi planejado ao longo da vida
⯀ Gestão de seguros e de Riscos: quais são os riscos envolvidos na vida financeira, quais são os comportamentos inerentes ao perfil de risco e como tratá-los, mitigá-los, aceitá-los ou terceirizá-los.
⯀ Planejamento Fiscal: quais as relações dos fluxos financeiros que fazemos com o governo, como entender e saber lidar com cobrança de impostos e tributos.
⯀ Planejamento Sucessório: o que é a sucessão financeira, como planejar como será transferido e distribuído meus recursos e ativos para as próximas gerações.
Questões comentadas — Processo de Planejamento Financeiro
Questões comentadas — Código de Ética
Questões comentadas — Perfil de Competências do Planejador
Mini-simulado:
Questão #01 — Em relação ao processo de planejamento financeiro em qual fase o planejador financeiro deve identificar os objetivos do cliente e suas prioridades?
(a) Fase 1 — Definição do relacionamento com o cliente
(b) Fase 2 — Coleta de informações necessárias para elaborar um plano financeiro
(c) Fase 3 — Análise dos objetivos, necessidades, valores e informações do cliente
(d)Fase 4 — Desenvolvimento de recomendações de planejamento financeiro e apresentação ao cliente
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Questão #02 — Klebão é planejador financeiro CFP e tem uma grande carteira de clientes. Certo dia, uma amiga, que trabalha em uma empresa siderúrgica de capital aberto, ligou para ela dizendo que achava que as ações da companhia subiriam no médio prazo, pois os negócios estavam indo bem. Kléber, muito esperto, gostou da dica e, sem maiores considerações, a repassou a clientes seus que investiam em ações. A conduta dele:
(a) Configura infração do princípio de Objetividade
(b) Configura infração do princípio de Imparcialidade
(c) Configura infração do princípio de Integridade
(d) Configura infração do princípio de Profissionalismo
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Questão #03 — Um profissional CFP foi contratado para um trabalho de planejamento fiscal/tributário de um determinado cliente. Esse profissional como estava muito ocupado, contrata um outro profissional que não é CFP e não tem muito conhecimento sobre o tema para ajudar na tarefa. O profissional CFP, ao chegar em casa comenta entre amigos sobre os trabalhos e as informações do cliente. Quais foram os princípios éticos violados:
(a) Confidencialidade e Competência
(b) Integridade e Objetividade
(c) Confidencialidade e Diligência
(d) Integridade e Diligência
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Questão #04 — São habilidades profissionais do Planejamento Financeiro na área “Prática”:
I — Aprendizado contínuo e atualização de conhecimentos e habilidade
II — Usar lógica e raciocínio nas avaliações de linhas de ação
III — Aplicar fórmulas matemáticas adequadas
Está correto o que se afirma em:
(a) I e III
(b) Apenas III
(c) Apenas I
(d) I e II
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Questão #05 — Saindo do trabalho, Kleber avoado esqueceu o seu computador desbloqueado. Um colega seu visualizou algumas informações sigilosas sobre seus clientes, mas não usou as informações para nenhum fim. Quanto ao princípio de confidencialidade, você:
(a) Infringiu o princípio apenas se o colega não fez mau uso das informações
(b) Infringiu o principio, ainda que o colega não tenha feito mau uso das informações
(c) Não infringiu o princípio
(d) Apenas o colega infringiu o princípio da confidencialidade
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Questão #06 — Com relação a etapa 6 do planejamento financeiro (Monitoramento das Recomendações), assinale a alternativa correta:
(a) Não se trata de uma etapa do planejamento financeiro, pois essa é uma etapa posterior ao trabalho de CFP
(b) É sempre responsabilidade apenas do cliente essa etapa, já que é o maior interessado
(c) É sempre responsabilidade apenas do planejador financeiro essa etapa
(d) As responsabilidades do monitoramento serão definidas por ambos (CFP e cliente)
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Questão #07 — Com relação ao princípio da Diligência, assinale a alternativa correta:
(a) Não se pode delegar as responsabilidades para os subordinados
(b) Um determinado investimento, depois de analisado, deve ser recomendado para todos os clientes
(c) As responsabilidades podem ser delegadas e não precisam ser supervisionadas
(d) As responsabilidades podem ser delegadas e devem ser devidamente supervisionadas
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Questão #08 — Alcemar está envolvido em um processo judicial e pede para confidenciar informações sobre questões legais a um profissional CFP, apelando para o sigilo absoluto requerido pelos privilégios da relação planejador-cliente. Essas informações podem afetar Ledesma, outro cliente do profissional CFP, que é parceiro profissional de Alcemar. Como o profissional CFP deveria agir diante dessa situação?
(a) Ele deve documentar todas as informações e comunicar ao comitê de Ética da Planejar
(b) Ele deve documentar tais informações passadas por Alcemar e, como requerido pelo código de conduta do profissional CFP, ele deve comunicar a Ledesma tudo o que disser respeito a ele
(c) Ele deve se certificar de que Alcemar assinou a política de privacidade antes de se envolver em qualquer assunto
(d) Ele deve alertar Alcemar de que não existem “privilégios da relação planejador-cliente” e que o sigilo é condicional
Gabarito:
#01 — alternativa c
#02 — alternativa a
#03 — alternativa a
#04 — alternativa c
#05 — alternativa b
#06 — alternativa d
#07 — alternativa d
#08 — alternativa d
obs: esses artigos são uma compilação de vários materiais que utilizei de estudo para a prova do CFP, e tem o objetivo de ajudar outras pessoas que estão dispostos a tirar a certificação ou conhecer um pouco mais sobre planejamento financeiro.
