A ciência explica: por que gastar mais pode te fazer menos feliz
Preciso admitir: no final do ano passado, o blog esteve bem parado. Mas, felizmente, eu tenho um motivo muito justificável. Afinal, eu estava fazendo uma disciplina na pós-graduação da UFMG que tem tudo a ver com o blog: Economia e Finanças Comportamentais.
Essa linha de estudos busca entender como as pessoas se comportam ao tomar decisões de consumo, investimento, etc, e eu estou podendo vincular muito dos estudos com os assuntos aqui do blog. Hoje, eu vou falar de um desses aspectos.
O primeiro carro que tive foi um Palio. Na verdade, o carro era meu e da minha irmã, mas, depois que ela casou, ficou só para mim. Eu amava meu Palio, as outras pessoas não. Meu pai chamava meu carro de “estrupiçado”, minha mãe dizia que o carro já estava velho, mas eu amava meu carro mesmo assim.
Quando ele fez 10 aninhos de vida, decidi que estava na hora de trocar. Pesquisei e acabei comprando um Pólo, carro superior e que tem também me feito muito feliz e grata até agora.
Mas, quando penso sobre o próximo carro que vou adquirir, não passa na minha cabeça comprar um Palio, às vezes, nem um Pólo: considero que preciso comprar um carro superior.
Por quê?
É claro que tenho mil e uma justificativas para isso. Porém, tenho descoberto que parte da causa não está em uma razão justificável, está na tendência de trabalhar com um ponto de referência e de ter aversão à perda.
O que as finanças comportamentais tem descoberto é que a satisfação da pessoa com um consumo ou com sua riqueza não é proporcional ao nível absoluto de valor daquilo que ela possui, mas, sim, ao ponto de referência. Quando meu ponto de referência era não ter nenhum carro, o Palio era um ganho enorme e me fazia muito feliz.
Agora, como meu ponto de referência é o Pólo, o Palio parece uma perda.
E é aí que entra a aversão à perda, me fazendo sentir mal e sofrer com algo que de forma alguma é um problema.
Esse raciocínio é natural nas pessoas e, em parte, está relacionado com a vontade de avançar, melhorar, crescer e ir comprovando esse avanço ao longo da vida. As pessoas querem que seus salários aumentem ao longo do tempo, nunca que eles diminuam. Elas querem deixar o melhor para o final.
Mas, quando essa vontade vira uma obrigação, ela pode causar problemas para a sua vida e diminuir sua felicidade. Por isso, tenho pensado melhor sobre os “avanços" que insiro em meu padrão diário, refletindo no que ele vai me acarretar em termos de esforços e no que poderá acontecer caso eu não consiga mante-lo.
Colocar o ponto de referência no que é efetivamente necessário ao invés do capricho não te impede de avançar, mas te permite viver uma vida mais satisfeito e feliz.