Analise Técnica — como conversar e reagir ao mercado de ações e futuros

A análise técnica estuda o comportamento do preço e dos volumes negociados de determinado ativo na bolsa de valores

Bruno Oliveira
Educação, Finanças & Tecnologia
11 min readNov 21, 2020

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Antes de começar a falar de análise técnica, cabe ressaltar que esse é um artigo feito para quem já tem um mínimo de contato com o mercado de bolsa de valores, com negociação eletrônica e automação de ordens. Também é interessante ler um pouco antes sobre o artigo de Finanças Comportamentais (que pode influenciar diretamente nos resultados da Análise Técnica).

Considerando que o preço é o grande objetivo da análise técnica, é importante saber como ele se forma. Em linhas gerais, o preço de qualquer ativo no mercado é resultado da interação entre oferta (vamos chamar aqui de “força compradora”, isto é, a soma das ordens de quem quer comprar) e demanda (vamos chamar aqui de “força vendedora”, isto é, a soma das ordens de quem quer vender).

E a regra costuma ser bem simples: se a demanda for maior que a oferta, o preço subirá; se a oferta exceder a demanda, o preço cairá. E nessa dinâmica, a análise técnica (também chamada de análise gráfica) parte de algumas premissas:

  • Os preços trabalham em tendência;
  • Os gráficos de preços de ações refletem o comportamento e as expectativas do mercado;
  • Os gráficos de preços de ações formam padrões que se repetem ao longo do tempo.

Caso você tenha lido o artigo sobre Finanças Comportamentais, já deve ter notado que essas premissas podem levar a algumas das heurísticas e vieses mencionados. Mas é aí que vem um grande conceito dentro da análise técnica — o objetivo não deve ser nunca prever o amanhã, mas sim de reagir ao movimento dos preços. É entender como o mercado esta reagindo e responder a ele — de forma técnica, tentando minimizar ao máximo os vieses. Então, sempre que falarmos de análise técnica, estamos falando de três elementos principais: (i) definição de pontos de entrada em uma operação; (ii) definição de pontos de saída com prejuízo (o famoso “stop loss”); e (iii) definição de pontos de saída com lucro (o famoso “stop gain”).

As origens da Análise Técnica moderna estão nos trabalhos de Charles Dow (que também é co-fundador do The Wall Street Journal e do Dow Jones Company — do famoso índice de mesmo nome) e as ideias dele pregavam:

  • Os preços descontam tudo;
  • O movimento dos preços segue uma tendência;
  • O mercado sempre tem três tendências;
  • As tendências primárias tem 3 fases;
  • O volume deve confirmar a tendência;
  • Uma tendência é válida até ela ser revertida.

Os principais instrumentos da análise técnica são: candles, linhas de tendências, suportes e resistências e indicadores técnicos.

Candlesticks

Como a análise técnica envolve muita análise de gráficos, uma dos recursos mais encontrados é a utilização de candles em um gráfico de barras. O gráfico é formado por 4 importantes informações (Máxima, Mínima, Abertura e Fechamento). O eixo vertical apresenta as movimentações do preço e o eixo horizontal a escala de tempo. É provavelmente o gráfico mais comum e mais utilizado pelos traders (não necessariamente o melhor). A evolução de um gráfico de barras e seus candles, é a seguinte:

Estrutura de um “candle”
Gráfico de barra com diversos candles (nesse caso, verde indica que o ativo terminou o pregão em alta, vermelho indica que terminou em queda)

Nos gráficos é possível fazer alguns ajustes na escala em relação ao tempo, a linearidade, xxx.

Em relação a escala de tempo, gráficos com base semanal, são utilizados para perfis de médio e longo prazo. Estratégias de curto à médio prazo podem ser feitas a partir de gráficos com base diária. Caso queira um período de tempo mais curto ainda, há a possibilidade de se utilizar gráficos intraday. Em relação a escala de linearidade, os gráficos podem ser lineares (aritméticos) ou logarítmicos — este último mais utilizado pois permite melhor visualização das fortes oscilações de preço no mercado.

O mesmo gráfico em escala aritmética e escala logarítimica

Linhas de tendências

O preço vai trabalhar sempre em três movimentos distintos: tendência de alta, tendência de baixa e acumulação. E esses movimentos geram linhas de tendências gráficas, como as que seguem:

As linhas de tendências surgem nos gráficos de ações

De acordo com Dow, dependendo de sua duração, uma tendência pode ser primária (dura ao menos um ano), secundária (no máximo alguns meses — dentro da primária, pode ser vista como uma correção) ou terciária (tendência de curto prazo, se prolongo no máximo por algumas semanas).

As linhas de tendência podem coexistir em um mesmo gráfico

Para todas as tendências, há três fases.

Na tendência de alta, as fases são, em ordem, a de acumulação, alta sensível e euforia. E elas podem ser visualizadas no gráfico a seguir:

Na tendência de baixa, as fases são, em ordem, a de distribuição, baixa sensível e pânico. E elas podem ser visualizadas no gráfico a seguir:

Além do preço, outra variável importante que deve ser considerada na análise técnica é o volume, isto é, a quantidade de títulos negociados de um determinado ativo. Nesse cenário de tendências: (i) o aumento do volume dentro de uma tendência reforça o movimento (alta ou baixa); (ii) a diminuição do volume dentro de um tendência enfraquece o movimento (alta ou baixa); e (iii) normalmente, dentro de acumulações, o volume é baixo. Então, o volume precisa ser trazido para o gráfico e considerado para confirmar (ou não) as tendências.

Aqui há aumento de volume no momento da tendência de alta (o que consolida o movimento)

Outro indicador que ajuda a consolidar tendências, é a identificação de topos e fundos. Dizemos que o preço formou um topo quando sua máxima é maior que as máximas das barras adjacentes. Dizemos que o preço formou um fundo quando sua mínima é menor que as mínimas das barras adjacentes.

Suportes e resistências

As tendências sempre chegarão ao fim. Quando isso acontece em um movimento de alta, é o que chamamos de resistências; quando isso acontece em um movimento de baixa, é o que chamamos de suportes.

A resistência representa o nível de preço no qual os vendedores interrompem o movimento de alta. A reta de resistência é formada por uma linha horizontal traçada a partir de topos de mesmo nível formados anteriormente. Quanto mais vezes os prelos testarem e respeitarem a resistência, mais forte esse nível será. Uma nova tendência de alta só será iniciada com o rompimento da resistência.

Nova tendência de alta ao romper a resistência

O suporte é uma linha horizontal traçada a partir de fundos de mesmo nível formados anteriormente. Quanto mais vezes o preço testar e respeitar o suporte, mais forte esse nível será. Uma nova tendência de baixa só terá início com o rompimento do suporte.

Nova tendência de baixa ao romper a resistência

No fim, o gráfico conta com todas essas linhas e elementos ao mesmo tempo:

Análise técnica a partir de candles

Munehisa Homma criou um método (entre séculos XVII e XVIII) para representar a evolução dos preços de contratos futuros de arroz — é o que passou a se chamar a partir da década de 90 no ocidente de candlesticks.

De forma geral, quanto mais longo o corpo real, mais intensa é a força compradora ou vendedora. Por outro lado, pequenos corpos representam momentos de consolidação do preço, e longas sombras representam equilíbrio.

Marubozu são candles de corpos longos, e spinning top são candles de sombras longas
Dojis são candles de corpo mínimo (padrão de equilíbrio)

De acordo com a sequência de candles que aparecem nos gráficos, é possível analisar a tendência de preço do ativo. Alguns dos principais padrões que aparecem são:

Reversões de alta
Martelo e Martelo Invertido
Engolfo de alta
Grávida de alta
Padrão Perfurante
Estrela da Manhã
Estrela da Noite

Análise técnica a partir de figuras

Figuras nada mais são que releituras dos fundamentos da Análise Técnica, baseadas nas conhecidas linhas de tendência, suportes e resistências já observados por anos por Charles Dow. A identificação das figuras, podem indicar os próximos passos do preço dentro do gráfico:

Tal como os candlesticks, há também um número muito grande de figuras que podem ser formadas (e suas respectivas implicações). O analista Thomas Bulkowski resolveu fazer um estudo estatístico com base nas 500 ações que formam o índice S&P500. Ele analisou os padrões formados nesses gráficos durante 5 anos, para tentar medir a confiabilidade desses padrões. Os resultados podem ser encontrados no livro “Encyclopedia of Chart Patterns”. A partir desses padrões de figuras, ele gerou um levantamento estatístico que apresentou os seguintes resultados (e eficiência de cada padrão):

Análise técnica com Fibonacci

A sequência de Fibonacci é uma sequência matemática de números em que o próximo número da sequência é igual a soma dos dois anteriores. Fibonacci = 1,1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, etc. Essa sequência pode ser vista em várias representações da natureza, e possui algumas propriedades interessantes: (i) a razão de quaisquer dois números consecutivos é muito próximo de 1,618 (golden ratio); (ii) o seu inverso é sempre 0,618; (iii) a razão de dois números alternados na sequência é sempre 2,618 e seu inverso será 0,382 (que é igual a 1–0,618)!

Em paralelo, na década de 30, Ralph Elliott começou a analisar os preços das ações, especialmente o Índice Dow Jones. Ele chegou a conclusão de que o mercado move-se em ritmos — tudo move com o mesmo padrão das marés — após a maré de baixa segue-se a maré de alta, ação e reação.

As ideias de Elliott oferece instrumentos para medir a possível extensão dos futuros movimentos do preço, baseando-se na sequência de Fibonacci. A estrutura desses movimentos (chamados de Ondas de Elliott) baseia-se em 8 ondas, divididas em 5 ondas de impulso e 3 ondas de correção.

Ondas de Elliott
Regras Básicas das Ondas de Elliott
O movimento entre as ondas segue as razões da Sequência de Fibonacci

Análise técnica com Indicadores (ou análise técnica computadorizada)

A análise técnica que antecede o uso de computadores utilizava da maior premissa da Teoria de Dow: o preço desconta tudo! Mas com o advento dos computadores, fi possível atribuir a essas análises de gráficos algumas fórmulas matemáticas que ajudam a identificar tendências e pontos de reversão. Os indicadores são do tipo rastreadores de tendência, osciladores ou volumétricos.

Análises técnicas sem o uso de computador

Alguns dos indicadores mais utilizados no mercado:

Indicador OBV (On Balance Volume)

OBV — Indicador Volumétrico
Exemplo de OBV
Os indicadores geram novos gráficos que podem ser visualizados com os anteriores (inclusive formas os mesmos padrões, como estas linhas de resistência e suporte)

Oscilador IFR (RSI: Relative Strength Index)

Um dos principais indicadores utilizados são as médias móveis aritméticas e exponenciais. Em linhas gerais, uma média é o valor médio de uma amostra de dados. A utilização desses indicadores se dá graças ao conceito de regressão à média. O objetivo é considerar o caso e tornar eventos extraordinários em eventos mais comuns.

História do Kahneman — na força aérea israelense, um instrutor de cadetes não entendia porque, logo após alguns soldados receberem elogios por desempenho, tinha uma queda de performance, enquanto que aqueles que receberam uma reprimenda por baixa performance, tiveram uma subida de produção. Kahneman resolveu o problema: (i) os elogios eram dados para aqueles que foram muito acima da média; (ii) as reprimendas eram dados para aqueles que foram abaixo da expectativa (mas só um pouco abaixo da média); (iii) como todos eles eram pilotos de elites, experientes e bem treinados — qualquer resultado extremo/fora da expectativa deveria ser considerado como acaso ou situação; (iv) logo, ao longo do tempo, a tendência é a de que os pilotos voltassem a executar seus desempenhos médios, sem necessariamente contar com o acaso, e por isso é normal que quem foi acima caia de desempenho, e quem foi abaixo volte ao desempenho normal. A regressão à média não implica causa e efeito, pois as variáveis de aumentar ou diminuir são independentes, e só da para entender o desempenho dos pilotos quando eventos ocasionais são transformados em eventos comuns.

Representação gráfica de uma média móvel
Médias móveis também possuem tendências primárias, secundárias e terciárias
É possível utilizar a média móvel com as Bandas de Bollinger para definir preços de entrada e de saída (prejuízo e lucro)

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Bruno Oliveira
Educação, Finanças & Tecnologia

Auditor, escritor, leitor e flanador. Mestrando em TI, tropecei na bolsa de valores. Acredito nas estrelas, não nos astros. Resenho pessoas e o tempo presente.