Summer Market Stylista 2017

Saber errar. Uma lição que aprendi no fim-de-semana.

João Batista
Find Your Passion
Published in
4 min readJun 8, 2017

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Qual o erro que tenho de cometer para conseguir desbloquear um novo caminho, uma nova estratégia ou aquela ideia, de tal forma inovadora, que nos deixa à beira do ponto de viragem para uma nova jornada de sucesso?

A pergunta entrou-me de rompante pela mente após ter constatado que acabara de perder uma viagem para duas pessoas a um fantástico hotel no litoral alentejano, com estadia completa e carro novo para a viagem, apesar de ter superado o recorde do passatempo e estabelecido a melhor marca até então. Facto curioso sobre os recordes, raramente são inatingíveis. Não tardou até que outro participante igualasse a minha pontuação, mas de uma forma mais célere, retirando o meu nome do lugar vencedor que me levaria numa escapadela romântica totalmente oferecida. Fiquei visivelmente irritado! Em primeiro lugar, porque não gosto de perder quando me proponho a participar em algo (anos de natação profissional obrigam-nos a este mindset…), mas sobretudo porque percebi demasiado tarde qual o segredo para vencer o concurso.

“All you can fit”, era esta a ideia-chave da iniciativa que convidava qualquer pessoa a enfiar uma série de artigos de férias dentro da bagageira de um automóvel. Malas de viagem, uma bicicleta, um guarda-sol, uma prancha de praia, entre outras coisas, cada uma com uma pontuação atribuída, que deveriam ser arrumadas dentro da bagageira do automóvel no período máximo de 1 minuto. Quem acumulasse mais pontos em menos tempo seria o vencedor.

Decidi, de imediato, participar. Lembro-me de esfregar as mãos e de pensar que a vitória estava garantida. Estudei cada item ao pormenor, analisei bem cada reentrância da bagageira e desenvolvi o meu plano de acção. Mapeei a estratégia, visualizei o espaço em que deveria encaixar cada objecto e pensei em abordagens alternativas para o caso de ter subestimado uma ou outra medida. Demorei-me mais de 10 minutos nesta análise e pensei ter previsto todas as possibilidades. Como eu estava enganado… O projecto começou logo a correr mal, mesmo antes de o cronómetro dar o sinal de partida. Enquanto me explicavam as regras, os promotores do passatempo implantaram na minha mente uma crença limitativa que minou os meus melhores esforços e me colocou em desvantagem.

«Tens 1 minuto para completar o desafio e convém estares atento aos pontos que cada objecto te pode dar, porque não é possível arrumar todos ao mesmo tempo. Vais ter de seleccionar a melhor combinação possível».

Na altura não percebi, mas as palavras «não é possível arrumar todos os objectos ao mesmo tempo» deu-me uma falsa premissa sobre a qual montei a estratégia. Mesmo antes de começar o desafio já o tinha perdido, porque acreditava que não era possível conquistar o máximo de pontos. O tempo começou a contar, deitei mãos à obra, malas de viagem em baixo, artigos planos em cima, objectos pequenos de lado. No fim, sobraram apenas uma geleira pequena e um saco de viagem. Para espanto dos promotores, tinha acabado de estabelecer um novo recorde. Mas não era suficiente, não tinha feito o melhor possível, tinha jogado com as regras e as limitações de outras pessoas, não com as minhas.

Assim que terminou o tempo percebi o meu erro. Por muito bom que tivesse sido o meu desempenho, o próximo jogador estaria a utilizar a mesma estratégia com o objectivo de reduzir o meu tempo. E todos sabemos como um objectivo claramente definido pode ser uma motivação incrível. O paralelismo com o trabalho e com a vida pareceu-me evidente e senti-me estúpido por não o ter percebido antes. Para se ter sucesso, seja no que for, não podemos utilizar as receitas de outros e esperar superá-las através da performance. Poderemos obter um êxito, mas ele será apenas momentâneo e depressa será ultrapassado. O sucesso é algo duradouro, constante e advém da capacidade de fazer o melhor, independentemente das circunstâncias. Esta capacidade é como um músculo, tem de ser exercitada e trabalhada e a melhor forma de o fazer é através do erro.

Se tivesse tido a oportunidade de participar novamente, teria vencido o desafio sem qualquer dificuldade porque percebi como poderia utilizar as regras contra o próprio sistema. A premissa de que não seria possível arrumar todos os objectos de uma vez só estava errada, bastava ter colocado os dois artigos restantes dentro das duas malas de viagem, que estavam vazias, e teria feito o pleno.

Antes de ter errado, o meu pensamento criativo estava confinado às regras, premissas e ideias que me tinham sido incutidas e tudo o que conseguia fazer era encontrar novas formas, mais eficientes, de acomodar alguns objectos dentro do automóvel. Neste estado mental, nenhum processo criativo me faria ver o ponto de falha do sistema. Depois do meu erro, percebi muito rapidamente como poderia ter melhorado a minha prestação e arrecadado o prémio.

Felizmente, a vida não se assemelha a um concurso de feira e temos, frequentemente, diversas oportunidades de fazer as coisas bem. O erro é inevitável, por isso deve ser assumido e aproveitado. Falhar rápido e bem para depois construir com maior qualidade. Este é o segredo do sucesso. Qual o erro que tem de cometer para desbloquear o caminho para a sua próxima conquista?

Publicado na newsletter “This week in recruitment” de 30 maio 2017. Subscreva aqui — http://eepurl.com/cJuM2z

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