Em estado de part(ida)

Juliana Matavelli
firstparagraphproject
3 min readMay 9, 2018

Hoje começo a dizer adeus. Daqui 30 dias deixo para trás meus 25 anos. Geralmente, é um tempo turbulento (mais que o normal), pois fico refletindo tudo o que vivi nesta última fase, se aproveitei o tempo como gostaria, se me transformei como esperava, tirando as comemorações que sempre me deixam ansiosa. No fim, concluo que ainda estou longe de um ideal de Juliana que criei para mim. Parece que os anos passam, mas o final de cada capítulo é o mesmo.

Puta merda! Já tenho 26 anos.

Talvez meus próximos dias sejam de pura tensão pra encontrar o que eu queira fazer. Para criar um teto onde morar. Pra construir a vida do jeito que eu gostaria de viver. Pra tentar ser especial de alguma forma. Mas se tudo correr bem (e a Juliana do futuro cooperar), os próximos anos podem ser também libertadores, especialmente para relaxar e mandar um f#@$-se ao que não rolar (acho que é disso que preciso mais). O que eu gostaria mesmo ao longo deste próximo início, é de despir esta garota turbulenta de sua bagagem de culpas. Culpa por ainda não comer direito. Por sentir que não ajuda o planeta. Por ainda ter machucados a cuidar. Culpa por ainda não saber o que fazer, e ter a sensação de que não tem um propósito claro de vida. Culpa por reclamar. Por ser preguiçosa. Por não se encaixar. Culpa por começar a academia e nunca continuar. Por amar as manhãs e querer aproveitar mais elas, mas não ter o mínimo talento para acordar cedo. Culpa por ser mole demais, dura demais, frágil demais, e sentir que age dessas formas sempre na hora errada. Por ainda ser um tanto criança, mesmo agora mais perto dos 30.

Não nego: chegar perto desta idade me assusta, mais do que eu queria.

E por mais que nessa idade meus pais já estivessem casados, com carro na garagem e apartamento comprado, hoje em dia tudo parece esquizofrênico e com certeza mais difícil (= caro). Hoje, com 18 anos, mal sabemos lavar nossas próprias roupas. E já que só agora eu venho aprendendo a lidar com minha própria bagunça, quem sabe seja hora de me despir dessa culpa toda — e todas as fantasias de um mundo perfeito que acompanham elas. Quem sabe, eu aprenda a ser mais tolerante e aproveite esta única chance para arriscar um pouco mais e aprender a viver em uma realidade onde está tudo bem fazer um pouco do que não se gosta por um tempo. Tudo bem nem sempre ter dias felizes. Tudo bem querer se esconder um pouquinho antes de qualquer desafio. Quem sabe assim, eu possa descobrir naturalmente o que faz mais sentido para mim. Sem medo de estar atrasada ou não acompanhar o ritmo do mundo.

Afinal, tenho 26 anos.

É isso o que desejo admitir com mais clareza a mim mesma. Sim, daqui pra frente serei cada vez mais responsável por meus atos e meu futuro. Mas não preciso ter essa responsabilidade toda de saber tudo, não agora. Não preciso mais correr nessa esteira em que a vida toda eu estive.

Para a Juliana que chega, que ela aprenda a viver no seu tempo, por mais que ele seja um pouco mais devagar. E que, mesmo perdida, ela seja mais ida, e assim, saiba aproveitar a caminhada sem se envergonhar. Até porque, talvez ela nunca se encontre por completo. E talvez seja essa a graça de viver.

Primav(era) | A chegada de uma estação é sempre a partida de outra. Foto: Ju Matavelli.

P.S: Juliana de 26 anos, quando reler este texto, lembre-se: caso, antes dos 27, a bagagem de culpas ainda estiver toda lá, não se sinta tão culpada ;)

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