Mais um pedacinho de Wales

Juliana Matavelli
firstparagraphproject
7 min readSep 21, 2018

Testei pelo próprio Medium escrever um daqueles ‘Series’ sobre Gales. Agora, resolvi contar um pouco mais via post mesmo, pois este lugarzinho do mundo merece ser conhecido.

Bem, tudo começou quando era pequena (haha!)…

…Descobri o País de Gales no mapa porque achava a bandeira do país muito diferente das outras.

image: Google Images.

Fato é que hoje, ao contar sobre minha jovem experiência a quem encontro, recebo vários sinais de surpresa sobre onde, afinal, fica o País de Gales. Entendo as dúvidas. Antes de pisar naquela terra também me enchia delas, e agora começando a conhecer, me preencho com outras. Mas bem, já que é um destino ainda não tão notado por muita gente, resolvi compartilhar um pouquinho do que venho aprendendo.

O País de Gales faz parte do Reino Unido, um país formado por outros 3 países além dele: Inglaterra, Irlanda do Norte e Escócia. Sua bandeira oficial é uma junção das bandeiras dos 3 últimos “reinos” mencionados.

Na sequência: bandeiras da Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte (‘X’ vermelho), formando a bandeira do Reino Unido. Image: Google Images.

Apesar de St. Patrick, santo padroeiro da Irlanda, ser o mais famoso, por conta de suas festas pelas ruas e pubs do mundo, todos os outros países também têm os seus santos: St. George é o da Inglaterra; St. Andrew, da Escócia e St. David, de Gales.

Nasci e cresci em São Paulo. Portanto, acho que posso dizer que minhas referências de cidade grande são…grandes. Para quem vem da terra que nunca dorme, é difícil não considerar a maioria dos outros lugares pequenos. O País de Gales (ou Wales, em inglês) possui apenas 3 cidades: Cardiff (capital), Swansea e Newport. Todas elas se situam na parte mais sul do país. O restante das regiões são organizadas em vilarejos e condados. Ao total, são cerca de 3,1 milhões de habitantes, e descobri lendo — e vendo — que a população de carneiros é bem maior que a de pessoas. Não à toa: tanto a carne como a lã do animal são um dos principais produtos do país. Tem também o seu longo histórico com minas de carvão (Gales já foi considerada a maior exportadora do mineral no mundo) e com as welsh slates (ardósias galesas), antigamente muito utilizadas na construção de telhados.

Muitas das minas, hoje desativadas, se transformaram em museus, com visitas guiadas ao público. Image: Juliana Matavelli
Esta área cinza na foto é uma região onde fica uma das fábricas das ‘Welsh Slates’, geralmente encontradas na parte norte do país. Image: Juliana Matavelli.

Outro fato muito importante de mencionar é que, apesar da dominação inglesa, Gales preserva até hoje — e muito bem — a sua cultura, de origem celta. É por isso que é possível encontrar placas de trânsito e de estabelecimentos traduzidas nas duas línguas — inglesa e galesa.

O galês é um idioma repleto de fonemas que não estamos familiarizados. Por isso, pode ser difícil de aprender. O vilarejo de nome ‘Carmarthen’ está traduzido nas 2 línguas oficiais. Image: Juliana Matavelli.

Até aqui, posso dizer que:

Sim, o País de Gales é bem menor que a cidade de São Paulo.
Sim, é possível conhecer muito da história britânica apenas andando na rua.
Mas o mais curioso para mim: não é nada comum encontrar brasileiros.

Fiquei pensando bastante sobre este último item, pois sabemos que brasileiros estão espalhados no mundo todo. Talvez Gales não seja um destino popular porque muitas pessoas consideram ele “apenas” como parte da Inglaterra. Converse com um gales por 2 minutos e encontrará um sentimento de absurdo em suas feições. Também pensei que, por conta do país ser próximo a três outros destinos famosos — Irlanda do Sul (ou República da Irlanda), Escócia e Inglaterra — é natural que os brasileiros considerem Gales mais como destino turístico. Mas pode ser também que não seja um lugar muito divulgado. Eu, especialmente, achei interessante não reconhecer a minha língua-mãe o tempo todo, pois assim pude fazer uma imersão mais profunda no dia a dia deles.

P.S: ainda assim, ouvir e falar português é uma das coisas mais gostosas de se fazer depois de ficar tanto tempo treinando o ouvido, e a língua, para aprender e aperfeiçoar o inglês. Images: Juliana Matavelli.

Falando em idiomas, apesar da língua mais falada ser a inglesa, o sotaque dos galeses é muito diferente, posso dizer até divertido. Não sei descrever exatamente como eles falam, mas me parece algo mais cantado, rápido e abreviado, além de que eles costumam misturar algumas expressões locais em suas frases. Ou seja, Juliana até hoje pergunta o que eles querem dizer, 2 vezes pelos menos. Ou só sorri porque, às vezes, é o melhor a se fazer.

Acabei de me tocar que o texto está ficando mais longo do que eu presumia, então, se for parar por aqui, fica uma de minhas recomendações mais especiais, caso queira conhecer um pouco mais sobre Gales e suas diferenças em relação à Inglaterra: assista à ‘Gavin & Stacey’, uma série de 2007 escrita pelo célebre inglês James Corden (aliás, foi desta série que surgiu seu famoso quadro Carpool Karaokê) em parceria com sua amiga galesa, Ruth Jones.

Além de me ajudar a entender as sutilezas que diferenciam a cultura inglesa da galesa, ‘Gavin & Stacey’ me trouxe um carinho ainda maior em relação aos momentos simples do dia a dia.

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Voltando ao falatório…

Antes da minha ida a Gales, nunca tinha visitado a Europa. Então, já dá pra imaginar aquele frio na barriga pré-viagem. Não existe ainda voo direto de São Paulo a Cardiff, pois o aeroporto da cidade é bem pequeno. Aliás, quando o pessoal viaja por lá, geralmente opta por aeroportos vizinhos ao país, como o da cidade de Bristol, Manchester ou Liverpool (todos ingleses), por conta dos preços das passagens serem bem mais em conta. No meu caso, fiz escala em Amsterdam, pois lá é um dos destinos com voo direto até Cardiff. Durante este período pré-viagem, passei algum tempo pensando em como cumprimentar as pessoas que conheceria, afinal, pode parecer estranho parar para pensar, mas geralmente muitos estrangeiros não dão beijinho na bochecha ao cumprimentar alguém. Para quem você desconhece, é aperto de mão e, se a pessoa for mais aberta, ou você já tiver passado por um primeiro encontro, um abraço. No máximo. Mas voltando aos galeses, tentava não gerar muitas expectativas (mesmo gerando). O fato é que fui surpreendida por uma recepção calorosa e abraços bem apertados. Acredito que por ser um lugar menor, as pessoas se relacionam como se fosse no interior — conhecendo os vizinhos, perguntando da vida, sendo gentis sempre que podem. Até porque, como os vilarejos são pequenos mesmo, todo mundo se encontra no pub da região — onde eles a d o r a m ir 1x por semana. No mínimo.

Como cheguei em fevereiro, peguei um frio que minhas roupas não sabiam lidar. Nem eu. Friorenta que sou, no começo eram camadas e camadas de peças mais cobertor nas costas aonde ia. O lado bom é que as casas são preparadas para o inverno, com lareiras e aquecimento central. Mesmo assim, a hora do banho era sempre na base da tremedeira. Todo mundo lá brincava comigo, falando que eu tinha levado muito frio para a região — duas semanas depois que cheguei, nevou. Apesar do Reino Unido ser conhecido por seus dias cinzas e chuvosos — o que confirmo — não é comum nevar. Eles mesmo me falaram que não viam neve há muito tempo. Eu confesso que curti minha primeira experiência.

Image: Juliana Matavelli.

Por último, mas não menos importante, falemos de comida. Além do popular ‘Fish and Chips’ e outros pratos tipicamente britânicos, como o feijão doce que eles comem no café da manhã (e eu AMO!), é real: eles amam chá…com leite. Pode soar estranho, pelo menos no começo soou para mim, mas hoje em dia peguei gosto. Também tive a chance de ir em um Afternoon Tea (Chá da Tarde) real-oficial. O evento é bem fofo: basicamente, é servido uma variedade de bolinhos com geléias e sanduíches em um suporte de três andares, junto de bules de chá. Tem leite para quem quer e café também.

Images: Juliana Matavelli.

Senti na pele a diferença de hábitos alimentares. Geralmente, o pessoal por lá toma chá-da-manhã, come um lanche rápido na hora do almoço e janta uma refeição generosa, pois é o momento de reunir a família depois da jornada de trabalho. Como eu adoro comer “comida” — diz-se arroz e feijão na hora do almoço — no começo eu ficava um pouco perdida; aos poucos, fui me adaptando e aprendendo a inventar umas saladas e wraps, que alimentam bem como um bom prato. Mas perguntem ao meu pai e ele confirma: a primeira coisa que quis comer ao pisar na nossa terrinha foi um bom feijãozinho preto, arroz, farofa de banana e couve. Ai, água na boca!

Por fim, dentre tantas outras sutilezas possíveis de descrever como o purê de ervilha, as generosas porções de batata frita com molho curry e os pints que derrubam a gente, fico com este último docinho, típico do País de Gales: Welsh Cake. A receita original desta espécie de mini panqueca leva frutas secas e açúcar no topo. Quando quentinha, é de se derreter o coração. Experimentei outras versões com gotas de chocolate e manteiga de amendoim, gostosas também.

Para conhecer e talvez testar a receita destas delicinhas > https://br.pinterest.com/search/pins/?q=welsh%20cakes&rs=typed&term_meta[]=welsh%7Ctyped&term_meta[]=cakes%7Ctyped

Nossa! Achei que falar sobre Gales seria simples e rápido, mas esta é só uma introdução de tantas outras percepções, e só agora percebi quantas delas guardei. Mas fico por aqui com a hashtag #VáParaGales que vale muito a pena, especialmente durante o verão, quando faz dias de sol, a natureza desabrocha e o país fica um charme só. Não digo ainda para ir durante o inverno porque eu não vivi a estação o bastante. Próximos capítulos, talvez.

TARA! (expressão para dizer ‘tchau’ em galês)

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