Apple WWDC 2022: A conferência anual de desenvolvedores da Apple dá fortes indicadores do futuro da experiência digital pós-pandemia

Karina Tronkos
FJORD Fala

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A WWDC (Worldwide Developers Conference) é a conferência anual de desenvolvedores da Apple, na qual são apresentadas as atualizações dos sistemas operacionais, integrações, ferramentas e recursos.

Mas, apesar de o evento ser focado em desenvolvedores, todas as novidades têm uma forte relação com experiência do usuário, pois os universos de programação e design são duas faces da mesma moeda.

Na edição deste ano, pude acompanhar de forma presencial as palestras graças ao apoio da Accenture Song e da Fjord Brasil! A seguir, comento os principais temas do keynote do WWDC22 e as suas implicações na nossa experiência de usuário.

As pessoas em primeiro lugar

A personalização é um tema que, apesar de já estar um pouco “batido”, resume bem os recursos introduzidos pela Apple neste WWDC22.

O conjunto destas novas funcionalidades me remete a uma das principais tendências do Fjord Trends 2022, que divulgamos no início do ano. Batizada de “Venha do jeito que você é”, a tendência ressalta como as marcas devem estar atentas ao maior senso de individualidade das pessoas. Parece que a Apple acertou o alvo (de novo).

Com a chegada do iOS16, a primeira coisa que salta aos olhos é o redesign da nova tela de bloqueio do iPhone. Como esta tela é o ponto de partida da experiência com o aparelho, a pessoas costumam usá-la para expressar suas particularidades. Pensando nisso, a Apple agora oferece mais recursos de personalização, mantendo os elementos que os usuários já adoram e reconhecem na interface do iOS.

Fonte: Apple

Também gostei do fato de as fotos tiradas com o efeito de profundidade do próprio celular serem separadas em duas camadas, em que o plano frontal sobrepõe a parte do horário.

A Apple ainda disponibilizou diversos templates para as telas de bloqueio, diminuindo o nosso esforço ao criar variações.

Para a completar, a empresa introduziu widgets para a tela de bloqueio, uma adaptação das “Complications”, típicas da interface do Apple Watch. A comparação não é por acaso. Esta mudança no iOS veio depois de anos de testes e aprendizados com o seu smartwatch, buscando trazer cada vez mais consistência e padronização entre os sistemas operacionais.

Fonte: Apple

Outro ponto que me chamou atenção foi relação entre as novas telas de bloqueio (agora você pode ter mais de uma!) e o modo “Foco”. O objetivo é remover distrações e tornar as pessoas mais proprietárias da gestão do seu tempo.

O novo recurso permite você associar um papel de parede e widgets da tela bloqueada a um modo específico do Foco. Se o foco “Trabalho” estiver ativado, por exemplo, você não vai receber notificações do TikTok e a sua caixa de e-mails e calendário estarão filtrados.

Fonte: Apple

Com a economia da atenção sendo cada vez mais questionada, a Apple redesenhou a forma em que as notificações são apresentadas. Se antes elas cobriam a foto de fundo, agora as notificações ficam empilhadas no canto inferior e só expandem caso você interaja com elas.

“Renovamos todo o design e o funcionamento da tela bloqueada e acrescentamos recursos novos para torná-lo mais pessoal e útil.” Craig Federighi, Vice-Presidente Sênior de Engenharia de Software da Apple.

Fonte: Apple

Acessibilidade também é praticidade

Graças ao Neural Engine, o iOS16 tem uma nova experiência de “Ditado”, permitindo que você alterne com fluidez entre voz e digitação.

Já o “Live Text”, cuja inteligência identificava texto em imagens, agora está se expandindo para reconhecer textos em vídeos, permitindo ainda que os caracteres sejam facilmente copiados!

O app nativo de Tradutor da Apple também recebeu uma atualização parruda. Agora, o dispositivo reconhece diversos idiomas e moedas em tempo real. Você está no exterior e quer traduzir o cardápio inteiro de um restaurante, incluindo nomes e valores? Basta apontar a câmera do seu iPhone. Simples assim.

Imagem: Apple

Economia do cuidado

Um dos lançamentos que eu mais curti foi o aplicativo “Medicamentos”, que permite digitalizar rótulos com a câmera do iPhone e monitorar eventuais interações medicamentosas.

O app vai ao encontro de outra importante tendência mapeada no Fjord Trends 2022. Chamada “Manuseie com cuidado”, a tendência explica como o cuidado ganhou destaque neste último ano, em todas as suas formas: o autocuidado, o cuidado com o outro, os serviços de cuidado e os canais (digitais e físicos) para oferecer cuidado.

Para que esta economia do cuidado ganhe escala, as empresas de tecnologia se preparam para receber e tratar os dados de saúde de seus clientes (mesmo que de forma anônima). No iOS16, a Apple sai na frente, possibilitando o compartilhamento de dados de saúde e medicamentos com familiares.

Fonte: Apple

Outra grande tendência do mundo pós-pandêmico foi a manutenção da alta demanda por dispositivos e aplicativos fitness. Nesta WWDC22, o Apple Watch atualizou o seu app “Workout” para dar mais autonomia para as pessoas acompanharem seus treinos e a evolução do seu desempenho.

O app “Fitness”, que antes era restrito para o Apple Watch, foi liberado para todos os usuários de iPhone. Agora mais pessoas podem acompanhar a sua quantidade de passos diários e as distâncias percorridas.

Do ponto de vista estratégico, a extensão do Fitness faz todo o sentido, uma vez que gera mais dados para a empresa. Já do ponto de vista de marketing, funciona como um teaser para o Watch, que oferece sensores e estatísticas adicionais.

Senha é coisa do passado

O keynote da WWDC22 bateu forte na segurança e privacidade, uns dos principais diferenciais da Apple. Cupertino está dando adeus às senhas e investindo num novo formato de autenticação chamado de passkeys.

As passkeys usam dados biométricos dos usuários, como Face ID ou Touch ID, para autenticar acessos a dispositivos e a contas. Além de serem mais convenientes que senhas, as passkeys também são mais seguras pois são encriptadas e armazenadas em áreas não suscetíveis a vazamentos ou a phishing.

Fonte: Apple

Vamos juntos?

Depois de perder terreno para o Zoom durante a pandemia, a Apple está investindo na popularidade do FaceTime como ferramenta de chamadas com vídeo.

O novo recurso, Shareplay, foca nos apps nativos para entregar uma experiência fluida, sem atritos e através de diferentes dispositivos Apple.

Com a funcionalidade, as pessoas podem colaborar em arquivos no Keynote, compartilhar abas no Safari, assistir seriados no iTunes em grupo, ou até mesmo usar o Fitness+ juntas.

A Apple também lançou o Freeform, um quadro branco digital para disputar espaço com Miro, Mural e Figjam. Lá é possível adicionar imagens, post-its, rabiscos, documentos e links.

De olho na colaboração, o iCloud ainda ganhou uma atualização significativa. O seu Photo Library agora permite que as pessoas criem bibliotecas em separado, para compartilhar com grupos específicos. Muito mais fácil do que ficar perguntando no grupo da família quem tem tal foto, né?

Expansão do ecossistema

O aumento pelo interesse em carros elétricos fez a Apple repriorizar sua experiência automobilística. O padrão CarPlay, que permite conectar o iPhone ao painel de um carro, vai incluir uma interface expandida e suporte para controlar todos os sistemas do veículo.

O novo CarPlay terá controles de áudio e de climatização, inclui widgets personalizados, diferentes temas e estilos, e suporta diversos tamanhos de tela.

Para justificar o investimento, a Apple apresentou números impressionantes: 79% dos compradores dos EUA apenas consideram veículos compatíveis com CarPlay.

Fonte: Apple

Buscando ampliar a entrada no mercado, a Apple anunciou parceria com 14 empresas automotivas, como Ford, Nissan, Honda e Audi. O anúncio gerou muito burburinho. Especialistas sugerem que o novo CarPlay talvez seja uma das últimas experiências práticas da Apple antes de lançar o seu próprio veículo elétrico!

Fonte: Apple

Celebração do design humano

A WWDC22 lançou ainda uma nova versão das diretrizes de design da Apple, as Human Interface Guidelines! É um ótimo material de estudo sobre princípios e boas práticas de design de produtos e serviços digitais.

O evento também divulgou os vencedores do Apple Design Awards, que busca premiar os melhores aplicativos e jogos da App Store.

Aliás, a Apple disponibiliza gratuitamente as palestras de todas as edições da WWDC! Aproveito para indicar duas das minhas favoritas na categoria design:

· Design Award Winning Apps and Games (WWDC 2019)

· The Qualities of Great Design (WWDC 2018)

Quais os próximos passos?

No evento deste ano, não ouvi uma menção sequer ao metaverso! Senti também falta de reflexões sobre realidades aumentada, virtual e mista. Acredito que a Apple acompanha de perto estas tendências e em breve deva lançar um hardware ou software à altura do desafio.

A julgar pelo seu histórico recente, antes de entrar em uma nova categoria de produto importante, a Apple trabalha em tecnologias que sirvam como base.

O lançamento do ARKit em 2017 é um forte indicador da iminência do tão esperado RealityOS. Não por acaso, existem boatos do lançamento de um headset de realidade mista no final deste ano ou no início de 2023.

Me contem aqui nos comentários: qual experiência você mais curtiu e porquê? E quais você acredita que serão os próximos passos da Apple?

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Karina Tronkos
Karina Tronkos

Written by Karina Tronkos

Mentora de design na Apple Developer Academy, 5x vencedora do Scholarship da Apple, criadora de conteúdo no Nina Talks e Cientista da Computação :)

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