INOVAR COM DIVERSIDADE

Um bate-papo com Ítala Herta

Accenture Song Design Brasil
FJORD Fala
6 min readAug 27, 2020

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Foto: Natália Gomes

Acreditamos que para fazer design e inovação precisamos furar a bolha e conhecer iniciativas diversas. Por isso, no último mês começamos uma iniciativa no pilar de Design Experience, da Accenture Interactive, o qual a Fjord São Paulo faz parte.

Funciona assim: convidamos uma pessoa de fora para compartilhar sua vivência e experiência com a gente. Uma inspiração que pode ser do mercado, do meio acadêmico ou de qualquer outro lugar para um bate-papo interno.

Nosso primeiro encontro foi no dia 31/07/2020 e recebemos a Ítala Herta, cofundadora do Vale do Dendê, a primeira aceleradora de negócios do Nordeste com foco em diversidade, e da Diver.SSA, uma iniciativa focada em fomentar o empreendedorismo feminino de impacto social no Norte e Nordeste.

Além de tudo isso, ela também é integrante do comitê de diversidade racial da Ambev, consultora, criativa e atua há mais de 10 anos em projetos de inovação social, economia criativa, sustentabilidade e responsabilidade social em instituições públicas e privadas do Brasil. Resumindo, uma mulher incrível que acumula muito talento.

No bate-papo, ela trouxe provocações diversas sobre o mundo da inovação e queremos compartilhar alguns dos pontos principais do encontro com vocês.

1. Inovação é uma consequência da diversidade

“Eu não acredito em inovação sem diversidade. Nós deixamos de ganhar quando não incluímos diversidade. Quando empresas e marcas se comprometerem mais, terão vantagens competitivas e crescimentos absurdos. […] Diversidade tem uma vantagem competitiva: diversidade racial, gênero, sexualidades. Quando a conexão é sincera, esse processo criativo é muito mais rico e conseguimos beneficiar muitas vidas porque nos colocamos no lugar do outro e fazemos com que a pessoa não só se sinta representada, mas seja beneficiada com essas inovações”

2. Existe mesmo diversidade e inclusão no nosso dia a dia?

“Tudo o que é legitimado como criatividade no Brasil tem mais credibilidade e investimento quando se refere ao mercado publicitário, que precisa cada vez mais se reeducar para não repetir os mesmos modelos — homens, brancos, heteronormativos que criam campanhas incríveis e têm insights e narrativas bem estruturadas para o que diz respeito à criatividade a partir de seus olhares. E eu faço a provocação de pensarmos de fato se a margem não é a potência da criatividade no nosso país.

3. A vulnerabilidade impulsiona a criatividade e cria oportunidades.

“A gente sempre cria a partir de uma necessidade, de pensar para uma solução de um problema ou desconforto, e até algo que nos feriu. Trabalhando com artistas e navegando esses espaços, eu observo que a vulnerabilidade trouxe ganhos e possibilidades incríveis de mudanças para determinadas comunidades e perfis/grupos sociais. Então a gente acaba crescendo com a ideia de que a vulnerabilidade é um lugar que não traz respostas, mas de diversos contextos, para mim, é um dos lugares mais potentes para se criar. E não estou falando de escassez. Falo de potência criativa mesmo, onde tudo é precário para muitos. Se investíssemos nesses talentos com oportunidades, com certeza teríamos outro país.

4. Transformação é feita com diversidade, inovação, inclusão e protagonismo afrodescendente, de gênero e de sexualidade.

“É muito difícil ver empreendedores em aceleradoras tradicionais com esse perfil [diverso]. Você vai encontrar os perfis nos parâmetros do unicórnio, que pensam em soluções para periferia sem ao menos escutar ou conviver com pessoas de periferia, pra ver se aquilo faz sentido pra ela, ou consideram as suas contribuições intelectuais no processo criativo. Tem que ter muito cuidado no lugar da inovação. Eu não acredito numa inovação social que repete padrões colonialistas.”

5. Como incluir esse pensamento nos trabalhos e projetos?

“Esses empreendedores lidam e vivem disso: solucionar problemas dos seus contextos e onde muitas vezes as marcas não conseguem chegar, nesse nível de profundidade e reconhecimento de realidades […] Eu vejo que as empresas gastam horrores com estudos caríssimos, que muitas vezes são verticalizados, não trazem olhares de micropolíticas e territórios, sendo que muitas iniciativas já existem. E se a gente diminuísse a distância e pudesse escutar essas pessoas e trazer olhares com cuidado, não com olhar colonizador? Temos que quebrar esse olhar do colonizador, que enxerga pessoas só como meras beneficiadas que não têm uma contribuição intelectual nos processos. Quem se prontificar a fazer isso (empresa e/ou profissional), só tem a ganhar e enriquecer, não só em repertório, mas em mudança, em olhar humanizado para as coisas.”

6. Ouvir diferentes perfis faz parte do processo criativo.

“Não existe pensar em inovação sem pensar em relacionamento e participação. Construção de relação. Falta investimento de tempo e olhar para o lugar de relacionamento. Tem muitas soluções sendo criadas dentro das salas congeladas aí, e na hora de implementar as ideias morrem porque não teve nenhum vínculo com a comunidade onde isso será implementado, nem minimamente a comunidade foi ouvida, então, é falta de relacionamento. Pras ideias perdurarem, as ideias precisam de engajamento. Para ter consistência precisamos pensar nas relações e no investimento disso, para que as ideias não morram.”

Foto: Michelle Vivas (Jornada Diver.SSA)

7. Representatividade sim, importa! Mas protagonismo com investimento é o principal exercício de mudança para empresas e marcas

“Mulheres negras movimentam R$ 704 bi por ano de reais por ano, de acordo com Locomotiva Instituto de Pesquisa publicada na Folha de São Paulo ano passado. Dentro desse universo de consumo a gente ainda não se sente representada nos produtos que consumimos. Por mais que a gente consuma e movimente muito a economia do país, ainda estamos muito distantes de futuros inclusivos. Quando percebemos que esse olhar hegemônico é construído a partir do olhar de futuro, vemos que é um futuro que não nos contempla, não nos coloca num lugar de colaboração intelectual.”

Ítala Herta
Folha de São Paulo

Nós, de Design Experience, gostaríamos muito de agradecer a Ítala por compartilhar tanto conhecimento e nos provocar para continuar inovando com diversidade. Somos parte de uma consultoria global de tecnologia e inovação e precisamos de pessoas como ela para abrir nossos caminhos e nos ajudar a transformar o mundo.

Nossa conversa não acaba aqui, queremos ouvir vocês:

> O que achou do bate papo com a Ítala?

> Seu trabalho ou projeto pensa nos pontos citados?

> Quer indicar alguém para o próximo encontro?

> Tem algo interessante para compartilhar e quer participar da discussão?

Compartilhe com a gente, nos comentários, suas reflexões e insights. Será um prazer criamos juntos esses espaços de discussão e aprendizado. Mande uma mensagem para nós. 😉

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