Animações: embalo criativo diante de uma Hollywood em crise

Andrea Wirkus
flip-e
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3 min readNov 13, 2016

Olha, corro o risco de estar falando sem justo conhecimento de causa, mas a real é que, ultimamente, só vou às grandes salas de cinema para assistir a animações. Esse texto vai ter tom de queixa, porque, antes de falar como crítica especialista (coisa que não sou — passo longe, aliás — , estou mais para uma observadora incomodada), falo como espectadora. E não sou a única a ter bodeado com as produções hollywoodianas, que parecem ter caído num mais do mesmo sem fim. A programação não muda há (o que me parecem) anos: filmes de heróis, suspenses/filmes de terror com finais questionáveis, sequências infinitas e adaptações ruins de livros piores ainda. Há tempos não vejo um roteiro original brilhar no mainstream cinematográfico. Alguns títulos que, aos finais e começos de ano, concorrem ao Oscar tentam conquistar o público com temas relevantes e boas produções, mas, se alguma coisa destoa do que os grandes estúdios têm feito — normalmente narrativas em cima de episódios históricos emblemáticos ou biografias de personalidades — , pode crer que a produção é independente. Ou fruto de parceria com outros países. Talvez a Vida de Pi (2014) tenha sido a última grande produção original que eu vi — e isso porque também é adaptação de um livro homônimo lançado em 2001.

Nesse chove-não-molha hollywoodiano, as animações têm despontado com criatividade alentadora. Apesar de as franquias terem dominado o mainstream estadunidense, tanto de filmes quanto de animações [A Era do Gelo e Shrek, por exemplo, já estão ambos em seus quintos filmes], existe um respiro entre as sequências que permite que filmes como Zootopia aconteçam. Zootopia; Divertida Mente; Big Hero 6; Festa no Céu; A Vida Secreta dos Bichos…

Pets — a vida secreta dos bichos, lançado em 2016, acompanha um dia na vida de Max [totó do meio] que se vê metido em uma série de confusões em Nova York depois de a dona adotar um segundo animal de estimação

É uma questão de temática. Sinto que a Hollywood dos filmes tem se repetido constantemente, enquanto os estúdios de animações arriscam mais — trabalhando, inclusive, com a perspectiva de que crianças não constituem o único público-alvo de seus longas.

Para além da temática inovadora, identifico também um esforço na elaboração de roteiros que desconstroem o status quo: temos tido mais protagonistas femininas em animações do que na extensa lista de filmes em cartaz, por exemplo. Elas têm certamente questionado mais nossos modelos de sociedade e emoções do que os heróis da Marvel.

A gente sabe que os grandes estúdios e distribuidoras estão sobrevivendo à base de franquias — e combos de pipoca + refrigerante tão caros quanto hipotecas (brinks). Mas eu não creio que isso seja a saída mais sábia para o empacamento financeiro de uma ““instituição”” que não consegue competir com plataformas digitais de streaming, ou o compartilhamento ilegal.

A experiência cinematográfica ainda é bastante apreciada e algumas salas de cinema já têm tirado vantagem desse apreço por meio de experience improvers, tais como sessões especiais em salas com poltronas confortabilíssimas, às vezes camas; noitões. Ou sessões nas quais o espectador se serve de comidinhas antes e durante o filme. Para além disso, os custos com a distribuição digital de filmes já são consideravelmente menores do que costumavam ser quando se trabalhava com rolos 35 mm. Sei lá. Deem um jeito. Usem a criatividade. A do mundo dos negócios não arrefece nunca, por que a dos filmes tem que passar por esse longo hiato, então?

Referências

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Andrea Wirkus
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do tipo inquieto, um pouco infantil, compreensivelmente irascível.