ANTI-ALGORITMO

floatvibes
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3 min readOct 23, 2020

postar domingo à noite ou segunda bem cedinho? não marcar outros perfis. quedas impressionantes no número de views. agora é tudo sobre reels. o adsense não é mais o mesmo. eita…

como é possível que estejamos tão dependentes de algo (“algoritmo”) que ninguém sabe direito como funciona? e assim vamos elaborando hipóteses, fantasias e teorias da conspiração. e isso cansa… mas dá pra fugir?

cerca de 74% dos usuários do Facebook declaram não saber como a plataforma categoriza seus interesses pessoais. (Pew Research, 2019). há relatos de influenciadoras negras que ganham mais engajamento se postam imagens de mulheres brancas no Instagram. moderadores do TikTok derrubando posts com “decorações de mau gosto” de usuários de baixa renda. enquanto isso, os calafrios causados pelo documentário Dilema das Redes reforçam os efeitos psicológicos dessa entidade chamada Inteligência Artificial.

nesse contexto, há quase uma divisão de perfis (ou moods) entre 1) os que aderem obsessivamente às especulações de como os algoritmos funcionam e 2) os que tentam rejeitar entrar de cabeça nesse jogo.

ANTI-ALGORITMO é postar alguma coisa que te dá orgulho, mas que ninguém vê. mas aí entra a crise: você fica em dúvida se culpa as leis do algoritmo pelo baixo engajamento ou se questiona o real valor do seu conteúdo. dá pra sair desse loop autodestrutivo? diante de tantos mistérios, segredos e absurdos, você cria seus próprios rituais/simpatias que te dão a ilusão de controle da ferramenta. mas no fim, ainda se sente controlado e nem sempre acerta. quem aguenta?

todo mundo merece um dia ANTI-ALGORITMO na semana.

algoritmos se tornaram o pensamento mágico da internet, como o Arquiteto da Matrix ou o Mago de Westworld — intenções iniciais que podiam até ser positivas, mas que acabam criando uma máquina de ansiedade conformada. indignação, desconfiança e uma inevitável resignação entram em cena. como afirmou uma entrevistada em uma recente pesquisa feita pela float: “somos todos produtos; produtos conformados”.

segundo o Instituto @igarape_org, a legislação brasileira prevê o chamado “direito à explicação” sobre o funcionamento dos algoritmos. a questão é: como essa explicação é feita e quem realmente entende?

segundo o futurista Jaron Lanier, uma solução possível seria deixar as transações mais transparentes. por exemplo, pagarmos pelos serviços que hoje são gratuitos e sermos pagos por fornecer nossos dados — o tal plano de Dignidade dos Dados.

algoritmos parecem uma promessa de utopia que virou embuste, cilada. nos prometeram recursos que respeitariam a serendipidade e nos tornariam mais íntimos dos nossos interesses. o que nos deram foi uma aba Explore invasiva e alienante, além de anúncios de produtos que você já comprou. será que preciso mais um moedor de café? afinal o que eu deveria estar querendo?

a discussão precisa transcender o dilema “aceito” ou “não aceito” para que possamos, enfim, entender melhor o jogo que estamos topando. mas falta letramento digital. é complexo demais! e a tecnologia avança mais rápido do que a grande maioria das pessoas consegue compreender. como disse Pedro Almodóvar em entrevista ao @elpaisbrasil “estamos (em função dos algoritmos) nos aproximando de uma distopia que me causa aflição, porque vamos na direção da desumanização absoluta”.

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