EuroTxei*
Floresta TV chega na Europa e encontra o Ninawa Inu Huni Kui — Cacique geral da Nação Huni Kui — em amplo contexto político ambiental no momento em que a Amazônia é epicentro das discussões sobre as mudanças climáticas o Cacique propõe uma série de ações e novas formas de pensamentos ao Velho Mundo.
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Depois de mais de um século de desenvolvimento da psicologia como escola do pensamento e sentimentos se torna evidente que discutir as próprias questões por 20 anos não leva a resoluções pacíficas entre as famílias e a ruptura com a ancestralidade se tornou um agravante social limitando a alegria do povo europeu. Como alternativa, muitos europeus buscam o contato com a natureza pelas tradições de toda Abyayala — chamada de América nos últimos 529 anos.
A influência do pensamento dos Povos Originários começa a trazer sorrisos constantes para muitos que relatam nunca terem vivido tamanha conexão e consequente alegria. O equilíbrio se faz necessário além de si, a compreensão de que não há outro exige uma consciência expandida e um pensamento sem dualidade é apresentado e recebido com nova alegria mesmo em meio a um cenário de devastação que vive a Amazônia em virtude da ganância de uma cultura de escassez.
Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, título da obra de Adam Smith e um dos pilares do Capitalismo, da os indícios de como chegamos onde estamos. Nações formadas após milênios de batalhas entre divergentes em ambiente hostil e escasso levaram a um pensamento colonialista e explorador, agora os povos dessas nações formadas na Europa buscam uma reconciliação interior que se traduz no mundo em ouvir, refletir em meditações ativas e de mãos calejadas colocando em prática as mudanças necessárias.
Xina Bena
Após uma dura jornada desde o contato com o homem euro-ocidental, a superação dos tempos da Correria, Escravidão e Direito, em 2005 se da com o marco do Novo Pensamento, Novo Sentimento, assim é a tradução de Xina Bena.
Com o resgate da ancestralidade que nunca se rompeu e com a colaboração de pessoas que ressignificaram seus conceitos de vida criando novas redes neuronais na floresta, propostas de unidade são colocadas e a coerência prevalece nos diálogos com pessoas de toda a Europa que buscam a harmonia em suas vidas e com o todo.
Logo no início do passeio o Cacique para para ouvir a natureza e transmite ao grupo sobre a conferência dos pássaros: explica que não é um canto aleatório aquela reunião de incontáveis pássaros cantando, mas que é ali, naqueles de momentos de muitos pássaros cantando, que compreendem como a troca de experiências que no início do dia definem trajetórias e no fim do dia trocam conhecimento, assim explica porque tantos encontros nas aldeias, para que haja o máximo de compartilhamento gerando uma ampla consciência coletiva sobre os temas do dia.
Durante o passeio na Floresta uma escola de tiros próxima para aspirantes a caçadores não cessa o dia todo, a reflexão constante sobre como utilizamos nosso tempo se torna evidente para o grupo que acompanha o Cacique. A Europa se traduz no cercadinho do mundo, alguns poucos buscam alternativa e querem influenciar seu continente. Assim vamos nos conectando à natureza, inclusive com o homem-de-escassez que continua lutando contra sua própria natureza.
No caminho para um lugar ancestral, com inscrições em pedra de 4.000 a.C. ouvimos o alto ruído descompensado de uma grande máquina que derruba árvores, o povo local tenta argumentar que se trata de reflorestamento e que a madeira está 4x mais cara e culpam a China pela cultura da compra por commodities que foi criada pelos povos que migraram da Europa para o Norte da Abyayala, insensatez esclarecida e depoimentos gravados para um filme a ser lançado em Bruxelas, seguimos caminhando em Contagem Progressiva.
Fato é que o consumo precisa reduzir, sim, o capital irá verter para o espiritual, para salvar a humanidade e a exploração espacial precisa dar um tempo para que saibamos como fazer floresta na Terra para depois irmos ao espaço, com um pensamento já decolonial. O sofá pode ser substituído por tatame aproveitando das fibras dos alimentos produzidos, por exemplo. Abrindo espaço para o convívio dentro de casa, para isso serve a globalização, para o desenvolvimento de mentes permaculturais.
Amazônia em Genebra
No mesmo dia, algumas horas e kilometros depois, chegamos com o Cacique em Genebra, a capital da Suíça — país que é a Capital do Capital do mundo, fonte de banqueiros e afortunados de dinheiro que buscam reconciliação o Grande Espírito.
Ao chegar, uma exposição com maravilhosa arte do Budismo Theravada direto de Myanmar envolve o ambiente abrindo espaço carinhoso para receber a fala do Cacique.
Dotado de altíssimo Capital Espiritual, Ninawa fala docemente sobre alternativas a serem aplicadas no presente e pede a ajuda de todos em ações simples, reitera a importância de plantar uma árvore aos jovens, assim como o contato com seus ancestrais, seus pais e avós; e assim a floresta vai ganhando adesão. Corpo, mente e espírito em alinhamento levando alta qualidade de presença por onde passa.
Ninawa faz uma breve fala introdutória e convoca à todos para participar. Sua perspectiva decolonial da própria fala provoca momentos de silêncio e uma conversa de pássaros surge em meio a arte ocidental com troca de conhecimento da Amazônia na Capital do Capital.
Ao mesmo tempo, nós da Floresta TV fazemos extensivos contatos e iniciamos o desenvolvimento no país dos bancos uma cripto moeda para floresta com o intuito de valorar a cultura e colocar o Capital Espiritual em evidencia propondo uma alternativa de valor ao diamante e o ouro que tanta tristeza trouxeram ao mundo para o privilégio de tão poucos.
Assim chegamos na Europa, passamos pela Suíça e seguimos caminhos cada vez mais abertos para diálogos francos sobre uma realidade que choca muita gente.
✍️ Guilherme Meneghelli 📷
🗓 8 de Outubro de 2021
* Txei é o termo originário para primo/cunhado em Hatxa Kui, idioma do povo Huni Kui, parte do tronco linguístico Pano que cobre parte da Amazônia e envolve também os povos Shipibo, Noke Kui, Yawanawá, Varinawa, Shanenawa…🫀🌳 o termo Txai foi difundindo na década de 90 por Thierry, um antropólogo francês que muito ajudou os povos Originários na demarcação de suas terras.