13/10/1996

Wladimir Dias
Fluxo de ideias
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2 min readMay 30, 2023

No colo, intuía que aquele seria um lugar familiar. Era um mundo novo. Muito verde. Muito preto e branco. Muito grande e muito barulhento. Muito. Enquanto a maior parte daqueles desconhecidos angulava o pescoço na direção do retângulo verde, ele vivia o acontecimento em pasmaceira. Os gritos e os foguetes. O tremular das bandeiras e o sacolejar do cimento quando algo extraordinário se passou no retângulo verde. Não havia choro, muito menos tédio. Completamente seguro, no colo daquele que tentava, em vão, nortear um deslumbre próprio das primeiras vezes. Ninguém nasce com predileções definidas. Mas, no silêncio das horas privadas, um fato sempre o atravessaria. Aquele fato. Daquele dia. Naquela tarde de sol. Fotografado. Vínculos foram criados ali, em 1996. Relações que muitas vezes não habitam o racional, que fazem o pensamento sangrar. O ato de se ombrear àqueles de preto e branco se consolidou traço identitário. Uma âncora para não se perder de si? Ou um colete salva vidas, para amparar a falta que, logo em 1997, instalou-se? O fascínio, esse, nunca acabou. Não haveria mais fotos, ainda que as visitas acompanhadas àquele lugar tenham acontecido, mais ou menos, uma vez por ano. Com 18, o colo do menino já era o dele próprio. Sempre que se distanciou de si, voltou ali. Há momentos em que deseja que aquele Atlético e São Paulo nunca tivesse existido. Os sentimentos ofuscam uns aos outros. A solução é sempre a mesma: voltar para onde tudo começou. Não resolve nada, mas lhe acalma o coração.

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Wladimir Dias
Fluxo de ideias

Advogado, mestre em Ciências da Comunicação e Jornalismo Esportivo, pós-graduando em Escrita Criativa. Escrevo n’O Futebólogo e penso no Fluxo de Ideias.