Escrever por escrever
Não sei o que quero falar. Sei, apenas, que, embora as próximas linhas possam ressoar em alguém, são minhas.
Há instantes, ouvia uma canção e imaginava habitá-la. Até prestar atenção na letra e entender, sem maiores dificuldades, que aquilo era absurdo. Como se a mera ideia de viver dentro de uma música já não fosse. E, literalmente, é claro que é. Mas havia algo mais naquele pensamento.
A lista que estava ouvindo e que me levou àquela música era de rock/indie psicodélico, e a música do MGMT trazia uma sensação de espaço, um quê atmosférico. Se terá vindo de um reverb, um chorus ou um phaser (ou outro efeito qualquer que escapa ao meu parco conhecimento), não saberia dizer, embora seja provável. O ponto não é esse, afinal, mas o espaço. Me senti como que transportado.
Não são poucos os dias em que, se possível fosse, entregar-me-ia a uma posição de observação, distanciada, como num vácuo. Longe, onde o tempo passasse mais devagar e houvesse margem maior para refletir e aclarar as ideias. O fim último seria melhorar a capacidade de tomada de decisões, não só em termos de qualidade, mas também de bem-estar. Longe do turbilhão de informações e ruído que a (pós)modernidade impõe.
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Se o caso se resumisse a uma relação pautada em algo como “ao decidir por x, decido contra y”, estaria tudo bem. O alinhamento entre expectativa e realidade, ônus e bônus, revelaria equílibrio. Assim como as mentes e corações. Mas não é assim. Se decido por x, abro mão de a,b,c,d… e de y. Como escolher? Quais variáveis considerar e quais descartar?
O peso da escolha se torna outro, relativamente ao que o mundo conheceu na maior parte da existência da humanidade. Daí a busca pelo espaço. Para existir e suspender a pressão dos estímulos constantes. Respirar. Sentir. Viver. Cheirar. Ouvir. Ser e não apenas estar. Distanciando para aproximar — o que sugere um falso contrasenso. Escrever por escrever.
Faz algum sentido? Tem alguém aí?
