Cof cof
Pensava que a conclusão do curso levaria a algum lugar. Tinha em mente viagens, prêmios, grandes contratos. Pessoas famosas, ou melhor, amizades famosas. Sonhava acordado com o momento de tais realizações, aguardando um movimento súbito do universo ser colocado em marcha, logo após a aprovação no trabalho de conclusão. Primeiro, passaram-se os dias, seguidos pelos meses. Em pouco, eram os anos que se acumulavam. Sentado de frente para um computador decrépito, com os braços na mesa poeirenta, marcada por copos que, como seus usuários, já lá não estão e queimada por algo que, me arrisco, foram guimbas de cigarros parcialmente fumados. Cof cof. É esse o som que se houve. Os grandes salões, as conexões influentes, o mundo na palma das mãos ficaram algures, alheios aos movimentos da Terra. Os inevitáveis. A sala desapareceu, os avaliadores desvaneceram, bem como os pais orgulhosos e os colegas curiosos. Sobraram a sala que cheira a mofo e o peso; toneladas de papéis, uns poucos certificados nas paredes; a escuridão rompida pela calidez de uma solitária lâmpada incandescente. Sinais de realizações diligentes, indícios do vir a ser que não veio. Outrora andou, telefonou, defendeu, atacou, levantou-se, saiu e retornou. Não foi a lugar algum. Mal julgou o céu e se perdeu da terra. O relógio testemunhou tudo. O tempo agiu. As realizações ainda estão por se materializar, pelo que fez, mas sobretudo pelo que não fez. Oxalá não seja tarde.
