O primeiro último adeus

Wladimir Dias
Fluxo de ideias
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1 min readMay 13, 2024
Photo by Alan Veas on Unsplash

Não, não, não. Eu não estava preparado. Os acontecimentos me atropelaram. Eu atropelo. Tu atropelas. Ele foi atropelado. Bêbado. Ele não, o outro sim. Tão impactantes quanto as marcas na máquina foram os símbolos literais de quem buscava apenas saciar a fome — pães de queijo no asfalto.

Caixão fechado, outra cidade. Não, não, não. Eu não estava preparado. Ainda não conhecia de perto o fúnebre e não era a hora de conhecer. Ele foi, eu fiquei.

Ele vivia lá, eu cá. A gente quase não se via. Não se veria mais, era claro. Passados alguns dias, começaria a esquecer. Mas só se esquece quem se lembra. Esquecimento sem contrapartida é nada.

Numa noite escura, longe, nem lá nem cá, com cordilheira ao fundo, eu vi. Da enorme janela frontal. Sim, sim, sim. Vi e não há quem possa questionar. Foi no intervalo de uma piscada e bastou para entender que ele foi, mas ficou.

PARA FICAR MAIS PERTO, PRECISOU IR.

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Wladimir Dias
Fluxo de ideias

Advogado, mestre em Ciências da Comunicação e Jornalismo Esportivo, pós-graduando em Escrita Criativa. Escrevo n’O Futebólogo e penso no Fluxo de Ideias.