Anonimato e a Democracia

Rafael Pires
FLUXOCRACIA
Published in
7 min readApr 17, 2023
imagem cadastrada com CC no link https://revista.internetlab.org.br/o-fenomeno-das-fake-news-definicao-combate-e-contexto/

Supervalorização da privacidade em detrimento da democracia nos novos tempos das mídias sociais

DEMOCRACIAS AMEAÇADAS

Desde a primavera árabe e mais específicamente no Brasil após as manifestações de 2013, o comportamento dos usuários das mídias e redes sociais bem como as BIGTECHs que são suas donas, impactaram todas as democracias modernas fomentando grupos radicais cada vez maiores.

Primeiro foi tomado a viralização das mídias sociais que antes eram emersões naturais, por grupos organizados e que perceberam que podiam “profissionalizar” o conteúdo e os impulsionamentos.

Depois veio a evolução dos algorítimos das redes, que através de machining learn, infelizmente descobriram, que conflitos geram mais retorno, likes, comentários e compartilhamentos do que post positivos, abrindo as comportas para a inindação de posts profissionais com o intúito de influenciar as pessoas.

Por fim, e não muito tempo depois das comportas serem abertas, ou até mesmo antes, grupos não democráticos começaram a propagar mentiras, as FAKE NEWS, que agora somando à profissionalização da produção e distribuição de conteúdos nas mídias sociais e aos algorítimos que priorizam sua divulgação por gerar mais audiência, acabou por gerar uma pandemia de influência não democrática que corroe por dentro as democracias independente da ideologia em questão.

As FAKE NEWS viraram um negócio de marketing político que descambou para uma convocação ideológica que beira o fanatismo de seitas religiosas.

A tendência natural do ser humano quando confrontado com mudanças radicais no seu meio social e cultura é infelizmente a criação de normas e regulamentações para o novo comportamento e suas consequências.

Minha provocação aqui é demonstrar que não precisamos de novas regulamentações ou proibições se olharmos simplesmente para o novo comportamento humano nas mídias e redes sociais como uma extensão da nossa vida real ou natural.

Mostrarei que já temos leis para coibir, corrigir ou penalizar os danos causados pela pandemia das FAKE NEWS sem ter que criar novas leis.

Pretendo também trazer para essa RUIDOZA DISCUSSÃO, que a complexidade dos debates sobre o tema são provocados por uma visão e compreensão exageradamente poluída de tecnicidade legal e ideologias que assaltam a LIVRE EXPRESSÃO DEMOCRÁTICA.

Como sempre na minha visão FLUXOCRÁTICA das coisas, organiso em tópicos os nodos da rede multidimencional que abora o problema, demonstrando como o fluxo dos processos e valores que geram essa pandemia podem ser facilmente resolvidos adaptando para a rede e fluxo já existente das democracias e culturas distintas.

FAKE NEWS

Mentira ou inverdades sempre existiram, por maldade ou até mesmo por boatos distorcidos de um fato mal contado.

Quando em vilas ou pequnas comunidades o meio de propagação das mentiras eram as fofocas, aquelas pessoas que adoram saber da vida dos outros e que espalham para todos.

Muitas vezes a fofoca é verdadeira, como a traição de um marido, ou o erro cometido por alguém, mas outras vezes a fofoca é pura mentira, e nesse caso a traição de um marido pode acabar com um crime passional, um erro pode custar o emprego de alguém.

Fora todas as implicações éticas e morais das mentiras e também da fofoca, a sociedade aos poucos regulamentou essas práticas cobrando responsabilidade pelo dano sofrido pela pessoa caluniada.

O fofoqueiro será cobrado a dizer sua fonte, e a fonte da mentira será culpabilizada pelo dano que sua mentira causou.

Esse fluoxo natural que a mentira segue e sempre seguiu é o freio necessário para coibir os danos causados por mentiras no fluxo da comunicação humana.

ANONIMATO

O anonimato é uma ferramenta muito importante em muitos casos, principalmente quando há uma retaliação ou até dano físico como consequência da LIVRE EXPRESSÃO de pensamento.

Em sociedades organizadas em redes centralizadas e autoritárias o anonimato é uma das principais formas de transformar a sociedade em redes distributivas e libertárias.

Observe que não estou determinando aqui DEMOCRACIA como uma rede distribuida e libertária, pois como fluxo de rede, vc pode ter uma MONARQUIA que seja mais distribuida e libertária como Butão por exemplo, e DEMOCRACIAS centralizadoras e autoritárias como a Venezuela e Hungria.

Dessa forma entenda um vetor onde quanto mais centralizado e autoritário é uma sociedade mais valioso, comum e necessário será o anonimato, quanto mais distribuido e libertário menos haverá a necessidade do anonimato, será menos comum exatamente por ter menor valor.

Em sociedades distributivas e libertárias o fluxo natural leva ao reconhecimento do indivíduo tanto para colher seus méritos quanto para sofrer suas conequências.

A alteração no fluxo da comunicação humana é alterada constantemente por novas tecnologias que adicionam novas redes dimensionais à nossa sociedade.

As mídias sociais fizeram isso, elas adicionaram uma nova camada muito mais conectada e rápida, alterando por completo a dinâmica e fluxo da comunicação humana gerando resultados imprevistos.

PRIVACIDADE

A privacidade é algo recente na humanidade, estudos mostram que a privacidade se torna algo relevante para a sociedade somente com a revolução industrial, que alterou a rede social adicionando uma camada restrita ao trabalho, e que essa tinha por questões industriais valor em manter privado seus processos produtivos.

Lembre que no início uma roldana a mais ou a menos podia aumentar em muito a produção de uma fábrica, por isso surgiram os primeiros contratos de sigilo onde os funcionários eram proíbidos de contar qualquer coisa que ocorria nas fábricas.

Neste momento a privacidade se torna um valor, e com a evolução do capitalismo baseado na definição do valor do bem privado, a sociedade como um todo passou a dar valor para seus bens privados extendendo também para suas vidas pessoais.

Mas perceba que as sociedades, cada uma a seu modo, já tem leis e cultura sobre o que é privado ou não.

O fato da virtualidade da internet, dessa abstração da materialidade do contato humano, tem levado as pessoas a discutir as relações e fluxo dessa nova camada de rede multidimensional que foi adicionada à estrutura das redes que moldam as sociedades como uma coisa nova.

Pela perpectiva da FLUXOCRACIA, as camadas de redes alteram somente o fluxo dos nodos das redes mas mantendo os memos nodos, alterando somente a dinâmica de toda a rede.

Por tanto cada indivíduo em cada sociedade é o mesmo indivíduo que transita e ocupa essa nova camada de rede que agora foi adicionada à sociedade, seja ela Autoritária ou Democrática.

Por fim então as regulações, leis, valores e consequências já existentes devem ser somente entendidas como as mesmas existentes na estrutura anterior só que agora se comportando em um fluxo e dinâmicas diferente.

Lógicamente que o impacto dessas novas interações provocarão alterações nas regulamentações e leis com o tempo, mas percebendo que os elementos não mudaram e que só a forma em que eles interagem sim, a discussão se torna muito mais simples.

BIGTECHs

As empresas das redes sociais não tinham a preocupação de saber se seus usuários eram quem diziam ser acredito que por dois motivos.

Primeiro motívo era meramente burocrático, é complicado certificar-se de que o proprietário da conta é quem ele realmente diz ser.

Segundo que era vantajoso que cada pessoa tivesse mais de uma conta em suas plataformas, pois assim os números de inscritos aumentavam em maior velocidade.

Há também a discussão jurídica de que elas não são responsáveis pelo conteúdo uma vez que elas não se classificam como empressas de mídia e sim como ferramentas de comunicação.

Uma vez li em algum lugar, não sei se verdade ou FAKENEWS (risos) um argumento mais ou menos assim:

“Processar o Youtube por um conteúdo nazista nele é como processar a telefônica por uma conversa entre dois nazistas”

O que na verdade não se percebe aqui é que se a polícia for investigar os dois crimes, na telefônica se terá documentos das duas pessoas envolvidas, mesmo que não sejam elas que estivessem conversando no momento, a investigação tem meios de rastrear os criminosos.

Já no Youtube onde uma conta pode ser criada utilizando um email criado também em um serviço que não solicita nenhum tipo de documentação o trabalho de investigação se torna muito mais complicado.

COMO ACABAR COM A PANDEMIA DAS FAKES NEWS?

A burocracia para se identificar o real usuário na internet já foi vencida por necessidade de outras empresas como por exemplo as Fintechs.

Os bancos tem processos seguros para identificar seus clientes e evitar fraudes, essa tecnica ficou conhecida como KYC (Know Your Client) que envolve desde o envio de fotos dos documentos de identificação até fotos de selfies segurando os mesmos documentos, cadastros de emails e telefones para envio de códigos de verificação e etc…

Essa tecnologia está avançando mais e mais a cada dia e não tem mais motivos para que as BIGTECHs não implementem em suas redes sociais. Exceto motivos contábeis, pois elas se tornarão muito mais transparentes perante os investidores, aferindo mais precisamente seus clientes.

E na verdade, dessa forma, elas poderiam sim se portar apenas como meios de comunicação uma vez que cada usuário fosse devidamente identificável e sua conta e histórico de mensagens fossem facilmente rastreavel em investigações passando como é na vida OFF-LINE a responsabilidade da mentira para o dono dela na proporção do dano gerada pela mentira.

RESUMINDO

  • Basta regulamentar a exigência de KYC nas contas de redes sociais.
  • Usar as regulamentações e leis já existentes para tratar a mentira e calúnia da mesma forma que fora das redes sociais.
  • Aos poucos ir alterando as leis para que elas se adequem à nova dinâmica do fluxo da estrutura em rede de cada sociedade que por sua vez altera todas as dimensões da sociedade da cultura ao emprego e produção.

OBSERVAR O FLUXO DAS COISAS SIMPLIFICA MUITO A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

A FLUXOCRACIA COMO IDEOLOGIA SOCIO POLÍTICA TEM A PROPOSTA IDEOLÓGICA DE DESTRAVAR AS BARREIRAS DA ESTRUTURA DAS REDES EM SUAS MULTIDIMENSÕES PARA QUE OS CONFLITOS SEJAM REDUZIDOS.

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