Movimento Laranja: Sementes de transformação pelo cuidado da cidade

Caso de aplicação da Fluxonomia 4D.

Fluxonomia 4D
Fluxonomia 4D
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6 min readJun 19, 2017

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Por: Fabrício Noleto.

Direção de arte: Adrienne Reyes — Nova Heart.

Revisão: Dina Cardoso.

Entrevistada: Julia Lopes.

Juntar amigos para exercitar o olhar de cuidado pelos bairros, cidades e pessoas de forma simples, com elementos que são acessíveis e cada um já possui. Fazer intervenções urbanas com carinho, embelezando por onde passarem e promover a cultura. Com esse pensamento nasceu o Movimento Laranja, iniciado por Júlia Lopes, 27, fluxonomista 4D, formada em Administração e especialista em Economia Criativa e Colaborativa.

Ela conta que durante a graduação despertou interesse por sustentabilidade. Ao procurar uma especialização sobre o assunto, encontrou Gestão Ambiental, que não a agradou. Desejava a sustentabilidade integral, conectando o propósito da marca e os stakeholders a benefícios que também fossem culturais, sociais e financeiros, principalmente para as pequenas empresas.

Entrou em contato com uma prima que a indicou fazer uma especialização sobre um tema que poderia se adequar. E assim decidiu ingressar em 2014 na pós-graduação em Economia Criativa e Colaborativa, sob a coordenação de Lala Deheinzelin e Patrizia Bittencourt na ESPM.

Como começou o Movimento Laranja

O conteúdo do curso, tempos depois chamado de Fluxonomia 4D, serviu de cenário para que o Movimento Laranja fosse desde o nascimento um caso baseado nas quatro economias: Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multivalores.

Tudo começou quando, a caminho do aeroporto, em uma das viagens de Pouso Alegre para Curitiba, cidade de realização da pós, encontrou a amiga de infância e designer de moda, Sabrina Morais, 26. As duas marcaram uma conversa para pensar em algo que pudesse melhorar a sua cidade. Viram que tinham propósitos comuns e decidiram fazer algo simples que afetasse as pessoas. A partir da conversa se juntou a irmã de Julia, Leticia Lopes, 31, designer e publicitária. Hoje, completam a equipe: Pamela Vindilino, Magda Santos e Natassia Meirelles.

Comunicando o propósito a outras pessoas, mais amigos se juntaram, formando um grupo diverso de conhecimentos e habilidades, uma das chaves da Economia Criativa para cocriar a primeira ação, que consistiu em enfeitar postes com mudas de temperos e poesia, utilizando recursos já disponíveis (tecidos, papéis, caixas, pet, materiais de papelaria em geral) e espaços que poderiam ser compartilhados e co-usados, como os postes da cidade. As próximas ações se estenderam à parques, praças e outros espaços públicos garantindo o acesso de qualquer pessoa as ações do Movimento.

Podem participar todos que se conectam com o propósito de tratar do seu espaço, sua cidade. Dessa forma outros grupos e pessoas se juntam e também participam e colaboram principalmente em ações como o chamado Sarau do Movimento Laranja, onde o principal objetivo é celebrar o cuidar, a ocupação de espaços públicos e que atividades culturais podem estar ao alcance de todos e em todos os lugares.

Uma dessas atividades foi a inauguração de uma Gelateca, uma geladeira que foi transformada em uma biblioteca. Essa ação inspirou Nathália Abdalla, fluxer (habilitação de nível 1 em Fluxonomia 4D) e participante da ONG TETO Brasil. Mesmo sendo de outra cidade se tornou parceira. Numa festa na comunidade Vila Moraes, em São Bernardo do Campo foi instalada uma Gelateca com uma geladeira cedida por um morador e livros doados após pedidos no Facebook.

Fotos cedidas por Nathália Abdalla.

“Eu já conhecia a Sabrina. Nós moramos juntas por um tempo. Entrei em contato com ela e a Julia, pedi que viessem pra cá no dia da festa representar o Movimento e me ajudar com a inauguração da Gelateca. Elas toparam.

Como sou fluxer, fiquei pensando em meios de a gente levar a festa além da comida, que é o que geralmente acontece. As pessoas comem e dizem “tchau”, ninguém interage muito. Como era final de ano, queria que fosse algo que desse uma brecha para o início das atividades de 2017. Além disso, queria começar a testar como trabalhar em rede com outros movimentos, coletivos e ongs. No dia da festa, nós levamos material para que as crianças pudessem pintar e bordar com a geladeira e deixar ela bem bonita, com a identidade deles” — Nathália Abdalla.

O evento foi uma prova que todos podem participar e se afetar para cuidar e mostrando o poder da Economia Colaborativa quando diversas pessoas se juntam por um objetivo comum. No ecossistema contam com coletivos sociais e culturais, músicos, artistas, poetas e Secretaria da Cultura.

Na hora de tomar decisão, a gestão é distribuída e a liderança situacional. Todos que frequentam constantemente as reuniões podem representar o movimento no caso das criadoras estarem ausentes. Decisões mais relevantes são sempre levadas para o grupo e discutidas por todos para chegar a um acordo.

Em sua trajetória, o Movimento Laranja já realizou várias ações, entre elas, varais de poesias, mudas no poste, saraus, música e teatro na praça, rodas de conversa sobre engajamento em atividades culturais, entre outros. Instituíram o “Dia da Cultura do Cuidar” para a mesma data do aniversário do Movimento Laranja, momento em que pessoas de outras cidades são convidadas pelo Facebook e rede de amigos a fazerem intervenções artísticas pelas ruas onde moram. Os resultados são sistematizados por fotos e outros documentos armazenados digitalmente.

A Economia Multivalores se evidencia nos recursos usados, que são na maioria não monetários, principalmente o tempo das pessoas nas ações e materiais doados de parceiros. Assim os resultados se desenham nas 4 Dimensões como mais parcerias que geram novas ações, ampliam o reconhecimento como incentivadores da cultura, dão abertura para convites de projetos em mais cidades, doações de materiais, e inspiram pessoas criando iniciativas em suas casas ou ruas.

Manifesto:

Plantar a Cultura do Cuidar

Incentivar as pessoas pelo afeto, através de ações ambientais e atividades culturais, a cuidarem de seu local e a observarem que cada lugar da cidade pode ser mais bonito e agradável com o cuidado de todos.

Ocupar a Cidade

Ocupar espaços públicos e dar sentido e vida a locais da cidade.

Viver a Cultura

Levar a Cultura para as pessoas por meio da poesia, da música e manifestações artísticas aliadas à preservação e cuidado com a Natureza.

Somar e Compartilhar

Juntar e mostrar grupos e coletivos que já existem e participarmos juntos de ações e atividades na cidade, tornando ainda mais forte a mensagem de transformação pelo Cuidar.

Co-Criar e Co-Utilizar

Utilizar recursos e espaços que estão disponíveis, saindo do pensamento do ter para o de compartilhar.

Celebrar a Vida

Experimentar a música, a poesia e a arte para juntar mais e mais as pessoas em uma grande festa aberta para todos.

Júlia, o que a Fluxonomia 4D mudou na sua vida?

Ampliou não só o olhar pela cidade, também os recursos disponíveis e as possibilidades de transformação. Hoje eu estou estruturando um espaço criativo e compartilhado na minha casa, ou seja, mudou literalmente meu modo de viver. Isso traz a cada dia novas conexões e interesse nesse novo olhar e os resultados são os desdobramentos do que está acontecendo.

São realizadas outras celebrações com o Movimento Laranja?

Sim! Realizamos ações como sarau e aniversário do Movimento Laranja com música, dança, brincadeiras, oficinas com a intenção de além de celebrar afetar as pessoas, a cultura pode acontecer em qualquer lugar e ser acessível a todos. Até as ações simples tem um momento de celebração, mesmo que seja entre a equipe, durante a preparação da ação ou com um café colaborativo.

Como a iniciativa vai continuar daqui para frente?

Há constante renovação de pessoas no grupo. Tem momentos com poucas pessoas, outros com mais participantes engajados. Nossa intenção é continuar com ações recorrentes para que mais gente volte a participar tanto das ações, quanto das decisões.

Movimento Laranja

Área — Intervenções Urbanas

Resultados 4D — Parcerias que geram novas ações, ampliam o reconhecimento como incentivadores da cultura, dão abertura para convites de projetos em mais cidades, doações de materiais e inspiram pessoas a criarem iniciativas em suas casas ou ruas.

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Viabilizando futuros através das novas economias. Perfil editor do blog Fluxonomia 4D.