FLUXONOMIA 4D:
VISÃO DE FUTURO E NOVAS ECONOMIAS APLICADAS AO DESENVOLVIMENTO

Lala Deheinzelin
Fluxonomia 4D
15 min readDec 12, 2016

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Artigo originalmente escrito para a publicação “Economia Criativa: Inovação e Desenvolvimento”, do PROGRAMA INSTITUCIONAL CULTURA E DESENVOLVIMENTO da Editora da UEMG (EDUEMG).

Lala Deheinzelin [1]

Para que esta Transição global que vivemos seja oportunidade e não crise, necessitamos uma visão de futuro que aponte para onde queremos ir. E depois concretizar os futuros desejados através das novas economias exponenciais (Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multimoedas). E isso tudo compreendido e trabalhado de forma sistêmica e em constante evolução, percebido como processo dinâmico e não produto estático. Ou seja, em fluxo. Essa é a origem da Fluxonomia 4D, uma ferramenta de gestão estratégica voltada ao desenvolvimento sustentável. Origina-se da observação e sistematização de processos bem-sucedidos, em várias escalas, e seu objetivo é tornar possíveis, agora, os nossos futuros desejáveis.

Abundância Sustentável: do Linear ao Exponencial

Vivemos uma mudança de era, mais que uma era de mudanças. E nosso primeiro passo é compreender as características dessa Transição. O mundo pré internet e tecnologias de informação e comunicação (TICs) se estrutura ao redor de modelos de gestão centralizados, hierárquicos e de uma economia orientada para tudo que é material, como terra, petróleo, infraestrutura. O modelo é de competição e escassez pois os bens tangíveis são escassos, se consomem com o uso. Uma maçã se consome com o uso e não pode ser dividida entre os sete bilhões de habitantes que somos. Além disso, tudo que é tangível tem uma dinâmica de crescimento linear, metaforicamente cresce num ritmo em que 5 e 5 são 10, ou 25. Também é linear e escasso o fluxo de ideias, bens e pessoas em estruturas organizacionais hierárquicas.

O desafio dessa Transição é que, por estarmos todos conectados em rede distribuída, este mesmo fluxo de ideias, bens e pessoas agora é exponencial: a metáfora é que 5 e 5 em rede são 55, portanto 3125. População, informação, dívida, destruição ambiental, demandas crescendo exponencialmente. E nossa capacidade de resposta é linear: cada um de nós tem apenas um corpo e 24 horas do dia, num mundo também finito. Assim, a chave para sustentabilidade está em trazer para nosso cotidiano o que é exponencial. Como?

Só será exponencial aquilo que tenha o intangível como matéria prima (Economia Criativa); usando a tecnologia para otimizar o que já existe (Economia Compartilhada); através de modelos de gestão distribuída (Economia Colaborativa); com recursos não apenas monetários e gerando resultados que sejam também culturais, ambientais e sociais (Economia Multimoedas). É essa combinação, associada a estudos de futuro, que chamei de Fluxonomia 4D.

Enquanto os recursos tangíveis se consomem com o uso, são escassos e, portanto, geram competição, tudo o que se relaciona com intangíveis é infinito. Cultura, criatividade, conhecimento, colaboração, experiência, não se consomem com o uso, mas se multiplicam. Um conhecimento pode ser compartilhado entre os 7 bilhões de habitantes do planeta e não diminui, ao contrário, se multiplica, pois, gera infinitas possibilidades ao se combinar.

Concluindo, essa Transição é a passagem para novas economias que podem trazer abundância e sustentabilidade se sairmos de um modelo de consumir (tangíveis, competição, linear) para um modelo de cuidar (intangíveis, colaboração, exponencial). Concomitantemente será inevitável a mudança de modelo político e organizacional na direção de gestão em rede, distribuída. É matematicamente impossível que modelos hierárquicos, com sua capacidade linear, consigam solucionar as questões sistêmicas e exponenciais que enfrentamos hoje.

Em um curto período do século XIX, boa parte dos países fizeram sua transição de monarquia a república e de uma economia a base de escravos para uma economia industrial. É de se supor que veremos nas próximas décadas essa Transição para as novas economias e um novo modelo político, provavelmente semelhante à uma democracia digital direta [2].

De Futuros Prováveis a Futuros Desejáveis e Possíveis

Nossa formação é toda baseada em estudar e compreender o passado mas aproveitar as oportunidades desta Transição depende de desenvolvermos a capacidade de perceber e lidar com o futuro.

Nós futuristas trabalhamos com três tipos de futuros: prováveis, possíveis e desejáveis. Há uma tendência em buscar o provável, mas só é provável aquilo que já conhecemos. Eis aí uma importante mudança cultural a promover: liberar-se do provável, que nos chega do passado e dificilmente servirá para um futuro complexo, exponencial e em rede. E notar que há uma quantidade imensa de novas formas de viver e fazer que já são possíveis, mas não as escolhemos pois não são prováveis. É importantíssimo perguntar-se sempre: “Por que não? ”. A melhor maneira de ampliar possibilidades e garantir a saúde de uma sociedade é através da criação de futuros desejáveis, e isso já era provado pelos primeiros futuristas.[3]

Notem que os futuros prováveis apenas nos colocam em um estado reativo: não queremos isso ou aquilo. Saber o que queremos é a base em cima da qual podemos construir nosso desenvolvimento sustentável. Visões de futuro compartilhadas são o elemento em torno da qual todo o resto pode se organizar: pessoas, recursos, processos. Futuros desejados atuam como “sementes”: trazem novas possibilidades que podem se concretizar e passar de desejáveis a possíveis. Agora, já.

Olhando imagens do passado do futuro fica evidente como muito do que sonhamos num momento parecia loucura total e anos depois se tornou futuro possível e concretizado. Mas revela também que a maioria dos sonhos de futuro traz inovações tecnológicas e pouca inovação nas relações ou sociedade. [4]

Considerar o Tangível/ Estrutura e o Intangível/ Processo

Se a chave para o futuro está no intangível, temos a habilidade de reconhece-lo? De forma simplificada podemos notar que em tudo há sempre um aspecto tangível, estrutural, como se fosse um “hardware”. E outro intangível, processual, o “software”. Não há “hardware” que funcione sem “software”, mas é fácil perceber que a maior parte do investimento de energia, dinheiro ou tempo está sempre direcionado para infraestrutura e não para pessoas ou conhecimentos, que são o processo ou “software” para que essa infraestrutura funcione. De nada vale ter produtos, se não há processos para torna-los visíveis e acessíveis. Ter bibliotecas sem programas de estímulo à leitura, ou ter patrimônios culturais sem políticas de apoio para que possam gerar riqueza e qualidade de vida. Universidades, por sua vez, podem ser depósitos de “software” sem “hardware”, produção de conhecimento isolada das possibilidades de aplicação prática.

Ao desenhar uma iniciativa, projeto ou política é essencial considerar se há um equilíbrio na parte tangível (estrutura) e intangível (processo). Como é nessa última que encontraremos a exponencialidade que os tempos atuais demandam, precisamos ser capazes de reconhece-la e ter ferramentas para trabalhar com intangíveis.

Compreender as 4 Dimensões da Sustentabilidade

Os aspectos tangível e intangível são como as duas coordenadas que usamos para nos nortear. E o que acontece quando observamos o Tripé da Sustentabilidade, supostamente uma das ferramentas mais adequadas para nos orientar? Curiosa bússola que tem apenas três pontos cardeais e que nos revela duas armadilhas a evitar. As dimensões que constam são todas ligadas ao exterior e há apenas uma ligada ao intangível: a social. Onde estamos nós e aquilo que temos dentro? O indivíduo com seus desejos, crenças, causas, criatividade e conhecimentos? Onde está o “software” sem o qual nada funciona? A primeira armadilha é deixar de fora a dimensão cultural, matricial, que observamos ser sempre o ponto de partida de qualquer inciativa ou processo.

A outra armadilha é chamar de “econômica” uma das dimensões, pois ao fazê-lo estamos assumindo que ambiental, social e cultural não são economia, não tem valor e, portanto, não merecem atenção devida. Isso além de ser um erro grave nos coloca numa ilusão de pobreza: se não há recursos monetários, não há riqueza. Mais correto é chamar essa dimensão de Financeira, pois a Economia é na verdade o fluxo de recursos financeiros, culturais, ambientais e sociais, gerando resultados também nestas quatro dimensões.

É esta “bússola” originada ‘a partir das coordenadas do tangível e intangível que chamamos de Visão 4D, pois atua como um conjunto de lentes que nos permitem enxergar recursos 4D, compreender seu fluxo e as inter-relações que podem geram impacto sustentável nas 4D.

Fig.1: Fluxonomia 4D: As quatro dimensões e
as novas economias

A semente é a Dimensão Cultural, simbólico-cultural, o “software”. Simbólico ao incluir os valores humanos, crenças, espiritualidade. E o cultural incluindo conhecimentos, criatividade, linguagem, história, experiências.

Todo “intangível/software” necessita seu tangível/ “hardware”, o terreno onde cresce a semente das ideias. É a Dimensão Ambiental, tecno-natural, pois além do ambiente natural considera também o ambiente tecnológico, produzido pelo homem.

A experiência revela que a Dimensão Social, sócio-política, é a grande ativadora dos recursos das outras dimensões. No social estão os mecanismos para gestão do coletivo como direitos adquiridos, arcabouço jurídico-tributário, políticas, leis. E no político as muitas formas através das quais nos organizamos e atuamos coletivamente. É a dimensão do cultivo, da ação conjunta que gera frutos.

A colheita está na Dimensão Financeira, monetário-solidaria. Aqui estão as várias moedas e o tempo, pois quando não há dinheiro os investimentos são solidários, como o voluntariado. Tempo é a grande questão do século XXI: único recurso de fato escasso e não renovável. E é no tempo que surgem os resultados, a evolução e aquilo que dá sentido e valor à nossa vida. Mais uma das razões pelas quais as novas economias são tão estratégicas: criatividade, compartilhamento e colaboração para que possamos otimizar nosso tempo e escolher melhor onde investi-lo.

A Visão 4D revela que há enorme riqueza disponível. A questão é ter as ferramentas para acessá-la e esta é uma das funções da Fluxonomia 4D. Outra é garantir que um processo ou iniciativa seja capaz de gerar resultados nas quatro dimensões. Criamos sistemas muito simples de atribuir valor e a maneira mais fácil é perguntando se nossa iniciativa foi capaz de otimizar e gerar mais dos recursos que caracterizam cada dimensão.

A Visão 4D traz a percepção que geralmente somos ricos, mas estamos pobres. Sim, há uma grande diferença entre ser e estar, e por que isso acontece? A Fluxonomia 4D observa e compreende fluxos e assim nota que os recursos tangíveis são passivos, permanecem como potenciais se não forem ativados pelo cultural e social (intangíveis). De nada vale ter recursos ambientais ou financeiros se não há pessoas ou conhecimento para aproveitá-los.

Observa também que práticas exitosas são aquelas onde há uma atuação multidimensional. Enxergar fluxos em várias dimensões é uma forma de trabalho integrado e sistêmico, percebendo as relações entre as dimensões que compõem a vida. E a partir daí reconhecer recursos para viabilizar projetos; alcançar resultados que não sejam apenas quantitativos; fazer diagnósticos, atribuir valor real e orientar a tomada de decisão.

Fluxonomia 4D: Quatro Economias do Futuro

Ao olhar iniciativas com nossa Visão 4D notamos que são sustentáveis e estão em sintonia com o momento atual aquelas que combinam as quatro novas economias exponenciais, e que cada uma delas corresponde a uma das 4D. Sabemos também que avançar na Transição de modelo político e econômico requer pensamento e ação sistêmicos. Compreender os fluxos e suas dinâmicas é estratégico e uma maneira simples de ter essa visão integrada, já que na Natureza e na Sociedade tudo é fluxo. Economia é fluxo de bens; cidade fluxo de pessoas; saúde o fluxo de fluidos e nutrientes; cultura o fluxo de informação etc.

Os processos começam na dimensão Cultural, pois ali está a semente, os intangíveis, (criatividade conhecimento, experiência) que são a matéria prima do futuro por seu caráter abundante, infinito e renovável. São a base para a Economia Criativa, que gera valor a partir de patrimônios intangíveis, num processo (não produto) realizado por diferentes atores integrados. É exponencial pois intangíveis não se consomem, mas se multiplicam com o uso.

Porém isso só vai acontecer se estes patrimônios intangíveis estiverem visíveis e acessíveis. Como? Graças às tecnologias digitais, sobretudo de comunicação e informação, que estão na próxima etapa, a Dimensão Ambiental. Com elas é possível também otimizar o uso de recursos tecno-naturais, compartilhando espaços, equipamentos, tudo o que se relaciona à infraestrutura.

Essa é a Economia Compartilhada, que gera valor otimizando recursos tecno-naturais disponíveis, indo do “possuir” ao “usar”. É exponencial através do uso de tecnologias digitais conectando e compartilhando os recursos disponíveis.

A próxima economia é aquela que deveria ser prioridade neste momento e está relacionada à gestão e modelos organizacionais. É a Economia Colaborativa, que gera valor através de ações coletivas em ambientes organizacionais distribuídos. É exponencial pois processos em rede, p2p, solucionam macro questões através da convergência de microiniciativas e atitudes individuais.

Todas estas economias seguem sendo invisíveis e, portanto, não ocupam seu lugar de prioridade estratégica para o desenvolvimento sustentável. Isso porque as ferramentas que temos só são capazes de medir riqueza e resultados quantitativos e monetários. A solução está em desenvolver novas métricas, que tangibilizem os intangíveis e os fluxos de compartilhamento e colaboração. Chegamos à Dimensão Financeira e à Economia Multimoedas, que gera valor a partir do fluxo de recursos nas 4D: Cultural, Ambiental, Social e Financeira. É exponencial se o resultado é 4D, está visível , sistematizado e é mensurável.

Exemplo bem conhecido das quatro dimensões e suas quatro novas economias é nossa utilíssima e exponencial Wikipédia, uma obra feita por muitos, pequenos e diversos, conectados. Algo impossível de ser feito por qualquer governo ou empresa: não haveria tempo, dinheiro ou equipamentos suficientes para realizar essa obra monumental. Ela usa o conhecimento de cada um (Economia Criativa); o computador e rede de cada um (Economia Compartilhada); num modelo de gestão e regulação distribuído (Economia Colaborativa) e com o investimento de tempo de cada um (Economia Multimoedas). Porém é fundamental notar que, para que ela pudesse existir, foi necessário convergir todos estes recursos, que estavam disponíveis na rede, porém só se tornaram acessíveis através de um desejo de futuro, intangível, a causa compartilhada (Dimensão Cultural) de fazer uma enciclopédia infinita e feita por todos. Desejo concretizado através de uma ferramenta (Dimensão Ambiental) que é a linguagem wiki. Processo cuidado por um grupo de gestores que trabalham para o bem comum, a Wikimedia Foundation (Dimensão Social) e mantido pelo financiamento colaborativo de seus usuários (Dimensão Financeira).

Vamos agora avançar em cada uma das novas economias abordadas pela Fluxonomia 4D.

Dimensão Cultural e Economia Criativa

Existem muitas definições de economia criativa, a maioria delas originária da abordagem inicial de Indústrias Criativas. Porém a prática demonstra a necessidade de ampliar o conceito para além desta abordagem setorial, já que em produtos 75% de seu valor está nos intangíveis, não em sua parte material, tangível. Dos quinhentos dólares que custam um Ipad, apenas US$ 23 são relativos à sua parte material. Hoje, o valor de uma iniciativa está em seu diferencial, propósito, atributos. A produção de ovos não é economia criativa, mas produzir “ Ovos da Galinha Feliz” pode ser.

Economia Criativa tampouco é um produto. É um processo em que atores de diferentes áreas vão agregando valor ao produto inicial. Uma peça de artesanato será Economia Criativa e não produção cultural se além do artesão estiverem participando aqueles que vão comunicar, fazer marketing, a distribuição, comercialização etc.

Está inserido na Economia Criativa tudo aquilo que tenha experiência como matéria prima (artes, entretenimentos, turismo, celebrações). Tudo o que depende de conhecimento, como as atividades de educação, consultoria, pesquisa. Também aquilo que está ligado ao sempre crescente campo das atividades ligadas ao Cuidar, como vida comunitária, gestão, saúde, ócio e lazer, urbanismo.

Nesta Transição, Cuidar + Bem Comum substituem Consumir + Mercado como principais ativadores da economia e sociedade. A Economia Criativa é mais ampla que a economia tradicional e seguirá crescendo e ampliando-se em áreas que nem sequer imaginamos. Exemplo disso são as várias formas de turismo associadas a intangíveis como: turismo de negócios; de saúde; cultural; religioso; gastronômico; social; educacional, de intercâmbios etc. Em um futuro breve, Economia Criativa será estratégia prioritária de países e comunidades, mas isso depende de uma mudança de cultura em relação ao cultural, que deixa de ser percebido como acessório e passa a ocupar um lugar central nas políticas.

Dimensão Ambiental e Economia Compartilhada

Temos um grande desafio global face aos recursos naturais, finitos e ameaçados. A solução para isso também começa no cultural (intangível), com mudança de mentalidade e hábitos e se ancora no tangível, no aspecto “tecno”. Desde que aplicada ao Bem Comum, e associada a mudança de mentalidade, a Tecnologia soluciona muitas questões ambientais ao otimizar recursos disponíveis.

Graças às TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) hoje é possível conectar e compartilhar espaços, equipamentos e materiais em escala global e não apenas com nossos grupos de afinidade mais próximos. Isso resulta em maior cuidado com o ambiente e viabiliza iniciativas ao revelar que não é necessário possuir coisas, mas sim ter acesso a elas, poder usá-las. Queremos uma furadeira ou um furo? Um carro ou transportar-se? Um escritório ou um local para trabalhar? Compartilhar traz muitos benefícios extras além da solução de necessidades estruturais. Gera, por exemplo, relações de confiança, oportunidades de ação conjunta, compartilhamento de conhecimentos, fortalecimento de vínculos, convívio com a diversidade, mobilidade social.

Dimensão Social e Economia Colaborativa

Ainda estamos na pré-história de tudo o que é possível fazer através de processos colaborativos em rede. O impossível torna-se possível pela conexão de muitos, pequenos e diversos. Um exemplo singelo são os captchas, estas 4 letras que colocamos ao fazer atividades online, para provar que não somos um robô. Individualmente isso nos consome 10 segundos, mas somando o tempo dedicado globalmente resulta em 500 mil horas por dia! Por isso seu criador [5], desenvolveu as Recaptchas, nas quais estas letras são partes de palavras em imagens de livros. Assim de quatro em quatro letras estamos coletivamente digitalizando dois milhões de livros por ano! Este é o poder exponencial ao qual nos referimos. Outro caso que combina nossa capacidade de ler e digitar (Economia Criativa); uso compartilhado de infraestrutura (Economia Compartilhada); gestão em rede, cada um fazendo uma parte (Economia Colaborativa) e investimento em tempo (Economia Multimoedas).

Se a chave para ganhar tempo, informação, dinheiro está na rede distribuída, nosso desafio está na transformação de nossas estruturas de gestão, que são setoriais e centralizadas. Quanto mais comando e controle, maior o consumo de todo tipo de recursos, desperdiçados na burocracia. Por isso os coletivos colaborativos, que operam a partir de relações de confiança, desburocratizadas, saem com pelo menos 50% de vantagem comparados com as estruturas hierárquicas.

Além da eficácia no uso de recursos, operar de forma distribuída e com transparência resulta em 100% mais entusiasmo e credibilidade, valores essenciais pois ativam os demais. Se há uma palavra chave para tudo o que é futuro, com suas oportunidades exponenciais, esta palavra é confiança. Porém a realidade é outra: os meios de comunicação, a educação e a família estão todo o tempo nos treinando para o medo e a desconfiança.

Dimensão Financeira e Economia Multimoedas

As mudanças globais normalmente estão relacionadas a mudanças de ponto de vista. Mas as lentes disponíveis para enxergar economia e resultados, por seu foco apenas no financeiro, trazem uma visão unidimensional e linear. Portanto de escassez e competição, levando a acreditar que não há o suficiente. Um ponto de vista sem profundidade, que nos deixa paralisados pois não percebemos alternativas possíveis.

Vale observar que a economia tradicional tampouco considera o tempo, para ela é como se só existisse o presente. Quando se calcula o valor do petróleo não levamos em conta o passado, os bilhões de anos necessários para que ele existisse. Tampouco o futuro, os milhares de anos para recuperar-nos de seus efeitos.

Os países medem suas riquezas e norteiam suas políticas e prioridades a partir do PIB, que apenas consegue medir consumo. Guerra e desastres ecológicos podem aumentar o PIB, mas certamente não trazem benefícios reais para a população. O mesmo acontece com as empresas: a única área percebida como receita é a de vendas, as outras são consideradas apenas como despesas. Mas é em recursos humanos, comunicação, pesquisa e desenvolvimento, sustentabilidade que está o que gera valor para a empresa.

Medir apenas moeda e consumo é, metaforicamente, como tentar medir litros com uma régua. Ou, ainda pior, como tentar compreender o clima medindo o tamanho das nuvens. Primeiramente, é impossível: pois elas mudam o tempo todo, como acontece com as dinâmicas sócio culturais. Depois porque o que define o clima é uma série de interações entre fatores, a dinâmica que se estabelece entre velocidade do vento, pressão, temperatura, umidade. Compreender a sociedade e economia através das interações entre as quatro dimensões é o que buscamos com a Fluxonomia 4D. É assim que se revela que onde há investimento na Dimensão Cultural as demais dimensões são ativadas. E que, sem coesão social, as possibilidades de futuro permanecem como potenciais não concretizados.

As iniciativas que combinam Economia Criativa + Compartilhada + Colaborativa + Multimoedas, e tem as ferramentas para sistematizar seus fluxos, conseguem viabilizar-se com em média 15 a 30% em moeda e o resto em fluxos não monetários. Mas é importante ressaltar que isso só é possível se conseguimos tornar visíveis e atribuir valor aos fluxos além do monetário, estes que chamamos de 4D.

Futuros Possíveis, Agora

Começamos falando em liberar-se dos futuros prováveis e avançar para futuros desejáveis e possíveis. Um outro mundo é possível, sim. Pela primeira vez na história temos suficientes recursos, conhecimentos e pessoas. Depois de vinte anos ligada a estudos de futuro percebo que que nos falta é acreditar nesta possibilidade. E em seguida orientar nossas escolhas pessoais e coletivas a partir dessa visão de futuro possível.

Albert Einstein diz que “Um problema não pode ser solucionado pela mesma mente que o criou” e o futurista Buckminster Fuller completa: “Para mudar um paradigma, não combata o modelo problemático. Crie um novo e torne obsoleto o antigo”. Parece impossível?

Não nos esqueçamos do alcance do exponencial, colaborativo, possível desde que estamos em rede distribuída. Se a cada mês toda pessoa que mudou de paradigma mobilizasse mais uma para o novo, quanto tempo tardaríamos até chegar aos 7 bilhões de habitantes do planeta? Décadas? Não, seriam apenas 34 meses. Futuro improvável, porém, desejável. E possível.

Bem-vindos ao desejável mundo, agora.

[1] Futurista e especialista em economia criativa e colaborativa

[2] Os primeiros exemplos já existem, como a Estônia. https://e-estonia.com

[3] Fred Polack, The Image of the Future, Elsevier Scientific Publishing Company Amsterdam, 1973

[4] Veja a visão da escola do futuro https://muscleheaded.files.wordpress.com/2013/10/futureschool.jpg

[5] Veja o TEDx Rio de la Plata, com Luis Von Ahn https://www.youtube.com/watch?v=x1ShVyBm8GU

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