Como gerar riqueza a partir das 4 dimensões da sustentabilidade.

Dina Cardoso
Fluxonomia 4D
Published in
7 min readApr 3, 2017

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Nos últimos anos trabalhei lado a lado com Lala Deheinzelin, futurista e especialista em Novas Economias. Um dos seus vídeos mais visualizados é esse que fala que qualidade de vida é ter tempo.

Lala considera o tempo como uma das moedas do século XXI. É um dos recursos que podem ativar uma economia multimoedas, gerando resultados nas 4 dimensões da sustentabilidade (cultural, ambiental, social e financeira). Explico. Na economia tradicional, baseada na escassez, só o que é tangível tem valor (terra, ouro, petróleo). Nas economias de futuro, baseadas na abundância, atribuímos valor ao intangível (cultura, experiência, conhecimento). Assim, não apenas o tempo, mas condições como satisfação e reputação, por exemplo, ganham valor.

Daí, posso afirmar que sou ricaaaaaaah, pois sou abundante em recursos intangíveis. Tenho uma experiência considerável na área em que atuo e uma característica multipotencial, de saber fazer de tudo um pouco. Também sou adepta da “sevirologia”, no sentido de saber se virar. Mas, por enquanto não estou rica porque o mundo, infelizmente, ainda não está preparado para reconhecer e valorizar todos os meus recursos :/ . Foi justamente pra isso que Lala desenvolveu a Fluxonomia 4D: criar parâmetros e nos ajudar a enxergar e atribuir valor ao intangível. Como?

Segundo a metodologia, o primeiro passo é começar por si próprio, conhecer e comunicar suas moedas do futuro. Qual a sua essência? Qual o seu dom? Qual o seu propósito? Por exemplo: meu propósito é proporcionar alegria e estimular encontros, conectando pessoas.

Ao comunicar meu propósito, evidencio meus recursos culturais até então invisíveis, ativando-os, colocando-os em fluxo. Uma boa maneira de fazer isso, além de contar seu percurso, seu lastro, é exibir todos os resultados que este recurso gerou. No meu caso, minha trajetória parte da organização dos bailinhos na adolescência, passando pelas festas na faculdade e freelas em bares, ao meu primeiro bar. O Café Elétrico foi destaque entre os novos bares da cidade em 2008 e segundo colocado entre os melhores abertos naquele ano na votação do Guia da Folha. Foi precursor na distribuição de cervejas especiais para público jovem em São Paulo. Chegou a ser selecionado pela AMBEV como referência de “bar indie” na cidade, seguimento no qual pretendiam investir. E é até hoje o melhor bar na opinião de muitos que ainda me contam com carinho sobre as experiências e conexões vividas ali. Meu segundo bar, Lebowski, foi sucesso de crítica, eleito o melhor bar aberto em 2012 e até hoje também lembrado pelos vínculos que criou. É esse lastro que dá veracidade e sustenta meu valor como conectora de pessoas.

No entanto, o valor não é apenas percebido pelo que você fala, mas quando há confiança. Depende da ação e é percebido na interação. Ou seja, se relaciona não apenas com o propósito, mas com a comunidade. Assim, meu valor é mais perceptível para aqueles que testemunharam minha trajetória, pois esse círculo de pessoas já enxerga meu recurso cultural como moeda. E é exatamente a comunidade que vai endossar o seu valor para quem ainda não o descobriu.

O segundo passo, então, é conectar e compartilhar. Passamos do intangível (dimensão cultural) para o tangível (dimensão ambiental): infraestrutura e equipamentos, recursos não monetários que podem servir como base de troca. Mas como fluir do cultural para o ambiental quando você não dispõe de nada que julga necessário para conectar?

Será que não tem mesmo? Aqui não me refiro à posse, mas ao acesso. Trata-se de aproveitar os recursos pré-existentes e disponíveis e não criar um novo. Em São Paulo existem milhares de bares, muitos carentes de movimentação. O que parece mais prático? Abrir mais um estabelecimento ou aproveitar as estruturas já existentes? Afinal, meu software — conectora de pessoas — é capaz de rodar em vários hardwares — bares estabelecidos. Roda inclusive num hardware que possuo, que é o quintal da minha casa.

Assim, quem tiver a posse de algum recurso tem mais é que colocá-lo em fluxo, para que adquira valor monetário. Um equipamento de DJ do qual o bar escolhido para festa não dispõe. Contatos de imprensa ou uma câmera profissional para captação e divulgação posterior. Ao conectar meu recurso cultural (experiência) ao ambiental (espaço/ equipamento), crio um fluxo de recursos ativando duas novas Economias. A Criativa, ao produzir valor a partir de um intangível. E, a Compartilhada, a partir da mudança de ponto de vista na relação de consumo, compartilhando bens e serviços preexistentes.

Terceiro passo: colaborar e celebrar. Voltamos ao intangível. É aqui que aquela comunidade que confia e endossa seu valor tem papel fundamental. A colaboração surge a partir de uma causa comum. É um processo distribuído, onde cada um faz uma parte. Por exemplo, o boca-a-boca na divulgação de uma festa. Uma cobertura fotográfica coletiva, usando a mesma hashtag. Uma playlist criada por todos os convidados no Spotify. Pronto. Se você chegou até aqui já terá motivo de sobra para celebrar. E no meu caso específico, melhor ainda, pois o produto final é justamente a celebração. Economia Colaborativa ativada na dimensão social. As moedas do futuro são as suas relações em torno de uma causa comum.

Quarto e último passo: circular e creditar. Uma economia sustentável, no sentido de gerar recursos e resultados nas 4 dimensões, só será possível se os recursos e resultados circularem em todas elas, ativando as economias de futuro. E, para circular, esses recursos e resultados precisam ser creditados.

A moeda da economia tradicional ainda faz sentindo e é essencial nas economias de futuro. É na dimensão financeira que identificamos, por exemplo, o faturamento do bar após uma festa, a remuneração da equipe, etc. Mas, como medir e calcular o valor da alegria proporcionada pela festa? De uma amizade nascida e nutrida numa mesa de bar? Do conhecimento adquirido após uma conversa sobre aquela música/ banda da qual você nunca tinha ouvido falar? Da visibilidade de um novo espaço ou da credibilidade de um promoter após uma noite bem-sucedida?

A economia tradicional trabalha apenas com padrões específicos e medidas exatas. Não sabe, por exemplo, medir impacto. A Fluxonomia cria essas métricas, a partir da análise dos fatos e da percepção, usando a inteligência do coletivo. Resumindo: aplicando a Fluxonomia 4D criamos critérios para medir e valorar o impacto de uma iniciativa a partir de um propósito, transformando seus recursos em moedas do futuro.

Na visão de Lala, nos últimos anos (1995–1997) aprendemos a lidar com a Economia Criativa (negócios em torno do artesanato, música, literatura, design, moda, desenvolvimento de softwares). Mais recentemente, desde 2008, estamos aprendendo a lidar com a Economia Compartilhada (negócios voltados para o uso e não a posse de espaços e equipamentos). E num futuro próximo teremos aprendido a lidar com a Economia Colaborativa (negócios em torno da colaboração, com gestão descentralizada e foco no bem comum), que ainda engatinha fragilizada pela falta de reciprocidade. Somente após circular todos os recursos nas 4 dimensões da sustentabilidade teremos uma Economia Multimoedas. Faremos negócios creditando (calculando e atribuindo valor) os impactos (resultados) originados num propósito. E, claro. Pode acontecer de uma iniciativa causar um efeito positivo em uma das dimensões e negativo em outras. Aí o saldo final será a equação entre todas elas. Não apenas considerando o lucro gerado, mas também o resultado cultural, ambiental e social.

Neste contexto, é possível concluir que se você está monetariamente falido, mas ainda possui reputação, por exemplo, em determinados meios ela pode valer como se fosse dinheiro. Que nem tudo está perdido se você quebrou mas possui uma experiência única e especial. Ou, como Lala sugere no vídeo no início do texto, se você não possui dinheiro, mas possui tempo, você está rico em qualidade de vida.

Recentemente recebi no meu email duas frases que me motivaram a escrever esse texto. “Se você dá tempo às pessoas, é como se você estivesse dando dinheiro”. “Se você dá alegria às pessoas, é como se você estivesse dando dinheiro”.

Eu sempre me questionava sobre o meu propósito porque não o enxergava necessariamente como o tipo de ação que poderia mudar o mundo. Precisei rever minha concepção de bem comum pra sacar que a alegria proporcionada num encontro tem seu valor e pode fazer diferença dependendo do contexto em que estiver inserida.

Outro dia perguntei a um bom amigo se ele enxergava seu valor. Apontei a ele seu maior recurso intangível e desde então ele sempre me agradece por fazê-lo lembrar e praticar. E você? O que acha disso? Bora enxergar seu valor? Identificar e revelar suas moedas do futuro? Criar a partir da sua essência e com o que estiver ao seu alcance?

Quanto mais gente estiver preparada para essa mudança de mentalidade, mais rápido transitaremos para as novas economias, ampliando os círculos de trocas não monetárias e usando nossas “novas” moedas num desejável estado permanente de riqueza.

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Dina Cardoso
Fluxonomia 4D

Comunico para estimular relações e inspirar transformações e novas iniciativas para um mundo desejável.