A Comunicação Interna como aliada no combate à desinformação
*Por Fernanda de Almeida:
Por que a desinformação deve ser uma pauta para as empresas?
Os relatórios Trust Barometer 2020 da Edelman, que podem ser consultados aqui, vêm demonstrando o peso da credibilidade das empresas como fonte de informação confiáveis. Os relatórios publicados neste ano trouxeram algumas informações muito interessantes, que vou destacar aqui para demonstrar como interpreto a importância deste tema para as empresas:
- 78% dos brasileiros afirmam que saber como as marcas que consomem estão atuando para responder à pandemia é reconfortante e tranquilizador.
- 63% citaram o empregador como a fonte mais confiável de informação.
- 85% das pessoas querem que as marcas usem seu poder para educar e orientar as pessoas.
- 55% dos brasileiros veem os CEOs como fontes confiáveis de informações sobre uma empresa. Resultado 3 pontos percentuais maior que em 2019.
- 57% dos brasileiros veem os funcionários comuns como fontes confiáveis de informações sobre a empresa. Resultado 6 pontos percentuais maior que em 2019.
O que essas estatísticas demostram?
Além de ratificar a tendência que destaquei no início do texto, podemos analisar os dois últimos percentuais como empate técnico, mas quando observo que o crescimento da confiança no empregado comum foi o dobro em relação ao aumento da confiança no CEO, interpreto como uma tendência de crescimento na credibilidade do funcionário comum. Se essa tendência se mantiver, entendo que os relações-públicas devem refletir sobre a capacidade de comunicação de todos os empregados, criando condições para que sejam preparados para serem ativos no processo comunicacional das empresas.
Ademais, acredito que a construção da confiança em uma marca como fonte de informação, o que demanda transparência, exatidão e clareza na comunicação, deve começar dentro de casa — que nos leva a refletir sobre as diretrizes das Políticas de Comunicação Interna.
Além das questões particulares de cada organização, é preciso avaliar se há equilíbrio entre os instrumentos de comunicação para falar com o funcionário e os instrumentos de comunicação para que o funcionário fale, garantindo a comunicação bidirecional. Outro ponto importante que deve ser ponderado é o equilíbrio entre gerar alarmismo e manter as pessoas informadas. Assim, entendo que a Política de Comunicação Interna deve estar construída sob princípios
- como a comunicação não violenta,
- a transparência,
- o diálogo,
- a participação,
- o compartilhamento de responsabilidade,
- a afetividade,
- a empatia e
- a simplicidade.
É importante destacar, porém, que não se pode ter como norteador deste processo apenas a preocupação de que o funcionário “fale bem da empresa”, porque isso seria instrumentalizá-lo. O propósito deve ser que ele se compreenda como parte da construção da credibilidade da marca, contribuindo ativamente com o processo de comunicação com o público externo, como fonte responsável de informação e formador de opinião.
Nesse sentido, entendo que o relações-públicas pode contribuir procurando incentivar a criação de um ambiente organizacional propício para o diálogo e à participação, e ainda, buscando criar condições de capacitar o funcionário para saber selecionar, compreender, sintetizar e disseminar informações, seja no ambiente físico, seja no ambiente digital. Assim, a partir da construção deste ambiente mais participativo, incentivar os gestores a compartilharem internamente as informações sobre os cenários interno e externo da empresa, levando os funcionários se perceberem como parte da organização e a refletirem sobre seu papel e sua responsabilidade nestes contextos.
Do meu ponto de vista, inserir a preocupação com a desinformação na Política de Comunicação Interna traz ganhos muito significativos para as organizações, para o funcionário e para a sociedade.
As organizações ganham porque os funcionários ajudam a não disseminar boatos e notícias falsas, contribuindo para a credibilidade da marca perante o público externo; além de criarem condições para que as pessoas se comprometam mais, uma vez que compreenderão melhor a realidade da empresa e qual seu papel nos desafios que ela enfrenta.
Os indivíduos crescem ao se tornarem ativos nos processos comunicacionais e mais conscientes de seus direitos e deveres e de seu papel como cidadãos. Um funcionário que aprende a ser informar e a ser formador de opinião não aprende isso só para sua função dentro da empresa, ele aprende para a vida.
E a sociedade, em última instância, ganha ao contar com organizações mais transparentes e indivíduos mais conscientes da sua cidadania — afinal, evitar a disseminação de fakenews e a consequente desinformação das pessoas, um dos maiores desafios do nosso tempo — colabora para a construção de sociedade mais democratizada.