Como vamos pensar a cultura pós-quarentena?

Fernanda Hack
Fantástico Mundo RP
4 min readJun 17, 2020

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*Por Beatriz Bizzoto

Gravações paradas, museus fechados, salas de cinema vazias, palcos que não foram montados, músicas que não foram tocadas, livrarias que não foram abertas. Não podemos sentir o cheiro do café enquanto pensamos se vamos ou não comprar aquele livro da vitrine, não fomos buscar um refresco enquanto acontece a troca de palco do show que esperamos meses para assistir, não combinamos com nossos amigos de nos encontrar na catraca do metrô para aproveitar o que a vida noturna tem a oferecer, não entramos no museu para apreciar a exposição que todos estão falando. Como fica a cultura?

Enquanto assistimos alguns países retomarem suas atividades com cautela, aqui no Brasil a data de fim parece não estar muito próxima. Com muitas listas que dizem o que é ou o que deixa de ser essencial, o que tem passado quase despercebido nesse momento é o futuro da cultura e entretenimento.

São Paulo, a maior cidade do país é palco de grandes “aglomerações”. A virada cultural, um dos eventos mais esperados do ano, que acontece geralmente em maio, a Parada do Orgulho LGBT+, realizada sempre em junho, e outros muitos eventos gratuitos que acontecem pelas ruas ao longo do ano e são um escape de parte da população, foram cancelados. Não só eles, como grandes festivais como Lollapalooza e tantos outros menores, seguiram as mesmas recomendações de serem adiados.

O setor cultural não só foi um dos primeiros mercados afetados pelo isolamento social, como será um dos últimos a voltar à normalidade. Segundo a Data SIM, núcleo de pesquisa da SIM (Semana Internacional da Música) São Paulo, são mais de 8 mil eventos da área da música que foram cancelados ou adiados, o que levou o setor a um prejuízo, até agora, de mais de R$480 milhões. No Brasil, o setor cultural emprega mais de 5 milhões de pessoas no país e representa cerca de 2,64% do PIB (Produto Interno Bruto).

O pensar em uma retomada dos eventos é o desafio dos atuais produtores culturais. Os museus são os mais cotados para serem os primeiros a retomarem suas atividades a partir de uma abertura com novos moldes de circulação, seguido deles, são os parques e eventos ao ar livre com circulação controlada de público, teatros e salas de cinema deverão repensar como irão receber o grande público, mas no começo devem atuar com capacidade em torno de 25%. As peças que vivem somente de bilheteria para pagar a equipe e o aluguel do teatro deverão negociar alguns valores ou partir em busca de patrocínios.

Enquanto isso, eventos onlines dos equipamentos culturais estão a todo vapor. A Pinacoteca de São Paulo lançou o programa #Pinadecasa com exposição do acervo através das redes sociais, o Museu da Imagem e do Som não ficou de fora e subiu a campanha #Misnasredes com uma proposta semelhante, além deles, as famosas lives continuam acontecendo com uma agenda consolidada e outras iniciativas como web-parties vem ganhando força por meio de plataformas de videoconferência. Recentemente, o Coletivo 1/4 Club realizou o primeiro festival online com 3 palcos simultâneos e mais de 40 artistas dentro da plataforma Zoom.

Ainda que todas as alternativas tenham o mesmo objetivo de manter esses equipamentos vivos, a falta da presença física permanece como a grande saudade. Devemos sempre lembrar que os equipamentos culturais possuem papel fundamental na formação de público e na promoção de atividades educativas e de lazer. São fábricas de cultura, as atividades gratuitas, os centros culturais, os museus, os teatros, os cinemas, os shows, as feiras literárias e tantos outros espaços que dão o respiro do trabalho e da mente e ajudam a desenvolver nosso senso crítico.

Recentemente foi aprovado o projeto de auxílio emergencial cultural que busca incluir o auxílio emergencial a trabalhadores da área cultural e apoio à espaços culturais independentes. Não que seja possível concluir algo, mas devemos estar atentos ao que nos aguarda em um futuro próximo. Profissionais do setor cultural são fortemente desvalorizados e mais do que nunca, neste momento, percebemos o poder salvador da arte e da cultura em momentos que estamos sem o contato presente com esse bem simbólico tão necessário.

Alguns links para consulta: Reabrindo o mercado do entretenimento no Brasil. https://medium.com/@benarros/reabrindo-o-mercado-de-entretenimento-no-brasil-14786712d08b

Pesquisa Data SIM. https://datasim.info/wp-content/uploads/2020/04/Pesquisa-DATA-SIM-Covid-19-Brasil.pdf?utm_source=mailchimp&utm_campaign=0300c4c2e1f0&utm_medium=page

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