Comunicar e fazer comunicação

Muriel Felten
Fantástico Mundo RP
3 min readJun 15, 2018

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Hoje peço licença para trazer um texto do meu colega e amigo Gilberto Jasper, referência em jornalismo e comunicação no Estado. Ótima leitura para quem quer saber mais sobre a construção da comunicação competente e desfrutar de um exemplo exímio de redação. Aproveite!

Por Gilberto Jasper*

Há poucos dias proferi a palavra “mimeógrafo”. Foi o suficiente para que meus colegas de trabalho se entreolharem atônitos. É um equipamento rudimentar para multiplicar cópias, cuja matriz é umedecida com álcool. As provas do antigo primário eram feitas desta maneira, em tom azulada, quase sempre com borrões. A referência à máquina provocou risos no vizinho de mesa que controla o celular, whatsapp, facebook, e-mail e até o horário num relógio da Apple.

Comunicar é mais fácil que fazer comunicação. Apesar das transformações, alguns fundamentos se mantêm intocados. É a convicção de quem passou pelo Executivo, Legislativo e Judiciário em 40 anos de profissão. Cada um dos poderes possui características próprias, mas há gargalos comuns que podem comprometer a divulgação das realizações.

A tentação de fugir do óbvio leva muitas autoridades a lançar mão de dados pouco confiáveis, mas positivos para eles. A regra é fazer um feijão-com-arroz de qualidade, alternado pitadas de audácia controlada. Toda a informação divulgada deve ser checada, verídica e consolidada.

A internet exige uso com parcimônia, detalhe ignorado pela maioria dos assessorados, desprovidos de noções de comunicação. Ser onipresente, opinar sobre tudo, o tempo todo, é um bumerangue de consequências imprevisíveis. As aparições devem ser pontuais, criteriosas e versar sobre temas de domínio da autoridade.

A burocracia é uma chaga que assola os órgãos públicos. Isso gera perigosos óbices para uma divulgação à altura. A sobreposição de instâncias de decisão e a proliferação de chefes, coordenadores e supervisores, gera uma guerra poder não declarada, onde a informação deveria ser o bem mais precioso. Sem autonomia plena, o profissional de comunicação jamais atingirá as metas estabelecidas.

Ficar disponível em momentos de crise ou de desgaste é fundamental para o fortalecimento da relação da fonte com o jornalista. Sempre que uma autoridade aceita falar de uma “pauta negativa” vai gerar um crédito importante num futuro breve. O famoso “nada a declarar” instiga o jornalista a buscar detalhes que poderão denegrir a imagem do pretenso entrevistado.

Há pouca diferença entre a comunicação pública e privada. Para divulgar uma marca, produto, serviço, partido, homem público ou um político é imprescindível que o profissional de divulgação tenha pleno conhecimento dos principais assuntos do dia a dia.

Nada é mais constrangedor para um jornalista que ser surpreendido por uma ligação telefônica ou notícia veiculada pela mídia cujo teor ele deveria ter conhecimento. Confiança é fundamental para a comunicação atingir as finalidades propostas.

Autenticidade, sinceridade entre assessor/assessorado, fuga do óbvio, uso criterioso das redes sociais, checagem obsessiva das informações veiculadas, autonomia e domínio dos assuntos que dizem respeito à área de imprensa são, em resumo, a base de um trabalho eficiente e produtivo. Sem cumplicidade haverá frustração, desgaste e desvirtuamento dos objetivos da comunicação.

Comunicar é inerente ao ser humano. Fazer comunicação requer técnica, preparo, sensibilidade e domínio da informação. Sem isso, trata-se de mero exercício de fofoca.

Gilberto Jasper trabalhou em jornais e rádios do Interior antes de chegar à Zero Hora, onde atuou por 11 anos. Foi assessor de Comunicação dos governadores do Estado Antônio Britto e Germano Rigotto. Assessorou, ainda, dois Presidentes da Assembleia Legislativa, e quatro Presidentes do Tribunal de Justiça. Prestou consultoria para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o Programa de Oportunidades e Direitos (POD), implementado pela Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Governo do Estado. Mantém coluna em cinco jornais do Interior do RS

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