Homossexualidade repreendida no Brasil
Visto como país do carnaval, da alegria e da liberdade sexual, Brasil é responsável por metade dos assassinatos à comunidade LGBT no mundo
Por David Ferrás e Felipe Vicente.
A palavra homossexualidade é originada do grego Homos e do latim sexus. Ela se refere ao ser que sente atração física, emocional e estética por outra pessoa do mesmo sexo ou gênero. Relacionada à orientação sexual, a homossexualidade é uma referência para o indivíduo que faz parte de uma comunidade de pessoas que partilham da mesma sexualidade.
Entretanto, quando essa definição se torna maior e atinge um grupo de pessoas que não vivem ou compreendem a homossexualidade, a probabilidade dela ser tratada como um comportamento inferior aos demais aumenta. Muitas famílias acabam passando por esse tipo de conflito, chamado, então, de repressão familiar.
Para o psicólogo e psicoterapeuta, Vinicius Pasqualin, a primeira recepção tanto da família quanto do filho homossexual será difícil para ambos e a repressão pode estar atrelada a essa dificuldade, mas o ideal é que haja um diálogo. “Da mesma maneira que a família tem dificuldade em entender esse filho que assume sua sexualidade, onde os pais têm vários questionamentos — onde foi que eu errei? — , esse filho também tem dificuldade de entender sobre a família. Vai rolar uma repressão. A ideia é o diálogo para mostrar que isso é normal. Que ele vai continuar sendo um bom profissional, que vai continuar sendo filho, que vai continuar sendo homem ou mulher e que a única coisa que muda é o desejo, o desejo dele ou dela”, explica o psicólogo.
Risco Brasil
Ser homossexual no Brasil é um fator de risco. O país é campeão mundial em assassinatos de homossexuais. “Se pegarmos todos os dados de assassinatos contra LGBTs no mundo, o Brasil é responsável por 50% deles”, complementou Vinicius Pasqualin. Sendo que o país sul-americano se coloca como a nação do carnaval, da alegria e da liberdade sexual.
O jovem de 27 anos, Alan Machado, passou por muitas coisas desde que assumiu sua sexualidade aos 22 anos. Ele foi mais uma vítima de agressão física sem punição para o agressor. Traumas e dores que segundo ele precisam ser compartilhados para que não passem despercebidos, porque quanto mais se falar sobre a violência contra homossexuais, a chance de futuramente terem leis punitivas é maior.
“Faz quatro anos em que eu fui espancado em Caxias do Sul e de longe foi a experiência mais tensa que vivi. Depois disso, muita coisa mudou. Um delas foi que quando me assumi, minha mãe aceitou de boa, me apoiou, me deu um abraço, ficou do meu lado. Então isso supera qualquer tipo de dor ou hematoma que eu tive. Desde a vez que fui espancado, confesso que fiquei traumatizado durante um tempo. Eu não saia de casa, eu tinha medo. Eu tenho medo. Quando estou na rua e vejo um desconhecido, fico imaginando aquela situação de quatro anos atrás”, desabafa Alan.
Família vs Homossexualidade
Há pais menos, mas igualmente, homofóbicos, que se questionam: mimamos demais ou de menos? Há um sentimento de preocupação e tristeza: não terão netos. Acreditam que, mesmo com a aceitação social da homossexualidade em ascensão e com o fato de hoje em dia haver inclusive casamentos gays, o preconceito existe e a vida será mais “dura” para seus filhos.
“A família também é pressionada para ter um padrão, um filho heterossexual ou uma filha heterossexual, para gerar filhos e constituir família. Então, isso também é novo para família. Também gera ansiedade, talvez, nesse primeiro momento, a repressão venha disso, de não conseguir entender”, explica Vinicius.
Casos de rejeição e de condenação, não só na família, são mais comuns do que a gente imagina. Na escola, no trabalho, na universidade ou até mesmo quando se caminha pelas ruas de uma cidade, os olhares de julgamento são constantes.
“Eu contei para os meus pais dentro do carro em cima da ponte do Guaíba, se a reação fosse negativa estaríamos todos no fundo do rio, mas felizmente a reação foi positiva, eles falaram que nada ia mudar, que eu continuava sendo filho deles. Lógico que, depois ela pediu pra mim não contar pra ninguém, aquilo me prendeu por muito tempo até que aos 19 anos eu namorei um cara e dei um beijo nele na frente da casa e se espalhou a história de que o Bruno é viado (risos), naquela época eu já não estava nem ai e resolvi abraçar com orgulho quem eu sou”, conta Bruno Ribeiro, 24 anos.
Mas também há pais que já conhecem seus filhos e os incentivam a permanecer firmes, como é o caso de Andreia Cunha, mãe de Amanda Cunha Grassotte, que mesmo depois da estranheza da revelação fez um apelo aos outros pais.
“Não se afastem dos seus filhos, os amem da maneira que eles são porque não vale a pena se afastar de um filho por causa disso, isso não é defeito nenhum. Pelo contrario, é uma forma a mais de amar”, sensibiliza-se Andreia.
Homofobia no Brasil
Homofobia é o termo usado para designar uma espécie de medo irracional da homossexualidade ou da pessoa homossexual, colocando este em posição de inferioridade e usando-se, muitas vezes, para isso, de violência física e / ou verbal.
No ano de 2015 foram registrados 318 assassinatos contra LGBTs no Brasil, segundo o Grupo Gay da Bahia, que monitora as mortes por meio de notícias na mídia. Aproximadamente 87% dos assassinos identificados tinham entre 18 e 29 anos e apenas 10 % desses casos tiveram processo instaurado e punição para os criminosos. Se voltarmos três anos, a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República publicou em seu relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil que foram registrados 3.084 denúncias de crimes contra LGBTs.
Grande parte dessas denúncias é arquivada por falta de leis que combatam a homofobia no país. Não há crimes classificados como homofobia no Brasil e nem projetos públicos para acabar com isso porque no Brasil não existem dados oficiais que justifiquem o crime.
Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legalidade da união estável entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. Apesar das conquistas no campo dos direitos civis, a homossexualidade ainda enfrenta preconceitos. O reconhecimento legal da união homoafetiva não foi capaz de acabar com a homofobia, nem protegeu inúmeros homossexuais de serem rechaçados, muitas vezes de forma violenta.
Uma sociedade precisa começar a entender e aceitar as diferenças que todos temos. O padrão que estabelece o que é correto não é único nem universal. As diferenças não são ameaças, são simplesmente algo novo que precisa começar a ser aceito. O respeito tem que vir de ambos lados, para que no futuro, não tão distante, possamos todos viver em harmonia.
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