Copa do miserável 

Quando a vontade de parecer aquilo que não é supera o bom senso. 

tosh.iro
Focinho de porco não é tomada

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A Fifa divulgou nesta última sexta-feira, 16 de maio, o clipe de “We Are One”, a música oficial da Copa do Mundo.

A música em si, interpretada pelos americanos Pitbull e Jennifer Lopez e pela brasileira Cláudia Leitte, já era conhecida desde o último mês e já naquela época tinha deixado um certo rastro de desconfiança no ar.

O vídeo oficial demonstra a clara intenção de conferir uma certa ‘brasilidade’ à canção mas na verdade traz poucos traços da cultura do Brasil e do seu povo, mostrando apenas aquilo que precisa vender: passistas de escola de samba, com pouca roupa e muitos sorrisos, dançando ao lado do rapper super bem vestido e descolado que comanda We Are One (Todos Somos Um) como numa grande festa brasileira fora do Brasil, um Brazilian Day V.I.P gravado em algum país de primeiro mundo. Que gringo de meia idade cheio da "nota" não queria estar no lugar desse rapper heim???

A verdade é que manipular, assim como ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência humana, ninguém escapa a isso, e as coisas, quando se passam desse jeito, se passam como não poderiam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Afinal, o país (e claro, seus patrocinadores) precisa recuperar todo o "investimento" feito nesse grande "empreendimento".

Temos visto isso há meses nas contruções superfaturadas dos estádios, alguns ainda inacabados, nas reformas de maquiagem dos aeroportos, das estradas (que dão acesso aos aeroportos), nas revitalizações das áreas próximas aos estádios e grandes centros hoteleiros e turísticos, no transporte urbano (das linhas que cobrem o trecho hoteleiro e turístico, claro).

Gostar de parecer aquilo que não é sempre foi uma característica forte do brasileiro, mas nunca como nesse COMERCIAL vimos isso tão escancaradamente vendido, mais até que as pernas das passistas.

O grande problema não é vender o que não existe, porque de fato vai existir, ao menos durante o mundial. O que é inaceitável é a maneira como o país está sendo vendido, e pior, vendido pelo próprio brasileiro.

Esse "gigante" tanto falado, aquele que acordou mas dormiu de pé, tem a mente rasa e a moral duvidosa. Grande exemplo disso é visto numa simples e rápida greve do policiamento extensivo de Recife, uma das cidades-sede do mundial, na mesma semana do lançamento do clipe oficial: SAQUES.

Basta a certeza da falta de vigilância que mulheres mães de família, adolescentes, homens, crianças, gente de todo tipo, seja vista saqueando lojas de eletrodomésticos. Não é saqueando supermercados em busca de comida não. É em busca de smartphones, tablets, TVs LED 3D… quer dizer que é assim? Se não tem polícia todo mundo vira bandido?

Enganado está quem após ler essas linhas pensar que esse texto foi feito para denegrir ou atentar contra a índole do brasileiro. Até porque ele mesmo já faz isso muito bem por conta própria. É um grito de alerta! O que o exemplo acima indica é a falta de preparo social, educacional e cultural do grande gigante.

Não estamos preparados para receber uma COPA DO MUNDO. Aliás, não estamos preparados para receber nada nem ninguém! Não porque não temos estádios de qualidade, boas estradas, bons hotéis. Não estamos preparados simplesmente porque não temos educação. Cordialidade sobra, mas educação, aquela que prepara para selecionar uma boa composição executiva e legislativa, aquela que fiscaliza e que faz cobrar mudanças concretas, aquela que ensina ética, deontologia, cidadania, urbanidade, aquela que conduz alguém a agir corretamente pelo simples fato de estar fazendo o que é certo e não pelo fato de temer uma sanção direta, como não estacionar numa vaga preferencial ou não respeitar a ordem de uma simples fila, essa educação, ainda não existe no país.

Até quando o brasileiro vai mostrar o que finge que tem? A mudança só pode começar quando o mundo ver o que de fato falta por aqui…

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