A Arte ocupa espaços urbanos

Imóveis ociosos e degradados na capital paulista abrigam exposições da Galeria de Arte Flutuante

Vinicius Lima Santos
Fora da Caixa
3 min readNov 26, 2019

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Aquarela de Rafael Vogt Maia Rosa / Exposição na Galeria São Paulo (Montagem: Divulgação/Instagram)

Imagine como poderiam ser melhor aproveitados os 1.425 imóveis taxados pela prefeitura de São Paulo como ociosos, segundo levantamento realizado entre o período de 2014 até junho deste ano. Com base na Constituição Federal, que prevê em seu artigo 5º que “a propriedade atenderá a sua função social”, a prefeitura notificou mais de mil imóveis desocupados na região do centro da capital paulista.

Para muitos, adquirir a casa própria é um sonho a ser realizado. Já outros colecionam propriedades que poderiam se destinar à moradia e outras utilidades, mas são mantidas fechadas e sem uso.

Só para ter uma dimensão da concentração de renda no País, de acordo com levantamento feito pelo site UOL com base em dados públicos,15 construtoras e incorporadoras constavam em 2016 como proprietárias de pelo menos 280 imóveis na capital paulista notificados em virtude da ociosidade nos oito distritos da subprefeitura da Sé. Entre as empresas do setor imobiliário, 21 eram donas de pelo menos 50 imóveis. Entre as pessoas físicas, três homens apareciam como responsáveis por 37 propriedades ociosas na região.

Agora imagine utilizar parte desses imóveis para se destinar à moradia, escolas, creches e até mesmo galerias de arte. É o que fez a marchand Regina Boni, responsável pelo recomeço de uma das mais importantes galerias de São Paulo. A artista plástica, que tem no currículo exposições de grandes artistas nos anos 1980 e 1990 com mostras de Hélio Oiticica, Smetak, Mestre Didi, Aluísio Carvão e Leda Catunda, resolveu ocupar casas e imóveis desocupados na cidade de São Paulo para abrigar seu projeto de “Galeria de Arte Flutuante”. As exposições itinerantes dão vida e colorido a imóveis vazios e ociosos em formato “flutuante”, sem endereço fixo, com intervenções em vários espaços da capital paulista.

Segundo o arquiteto e urbanista Gustavo Marques Santos de fato qualquer uso de um imóvel desocupado tem seus pontos positivos como um aumento da dinâmica no espaço urbano, mais segurança, movimenta mais a economia, gera recursos (impostos), aumenta a oferta de espaços culturais na cidade. Contudo ele destaca que nem sempre esse “novos espaços” são feitos para serem acessíveis. Em grande parte eles acabam excluindo a população local, e gerando uma gentrificação do espaço. O impacto local nem sempre é positivo no sentido de enriquecimento cultural. Para tanto, Gustavo Santos diz que a saída é deixar desde o início muito claro para quem se destina o espaço, e qual a contribuição cabível da população local, inclusive as com menores condições de renda.

Regina Boni na Galeria Flutuante (Foto: Divulgação)

Segundo Regina Boni, foi exatamente da necessidade de se construir um espaço de arte mais acolhedor e acessível que surgiu a ideia da “Galeria Flutuante”. Segundo a artista a maior parte das galerias são extremamente fechadas, frias, e possuem preços altíssimos. A ideia da Galeria Flutuante é oposta, criar espaços humanizados, verdadeiros e abertos. “Arte é para ser vivenciada e não apenas consumida.” Apesar do pouco tempo a galeria vem mostrando bastante prestígio e há cerca de três meses já é viável em termos financeiros. Boni acredita que não apenas o modelo seja replicável, como também uma tendência desse mercado.

Por Paula Leal, Valéria Luizetti e Vinícius Santos

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Vinicius Lima Santos
Fora da Caixa

Jornalista, Nerd e tentando a sorte na gringa - Toronto, Canadá. Tentando tirar a ferrugem e voltar a escrever