Moda em obras

Marca de acessórios Pablita se apoia no conceito de upcycling para produzir a partir de materiais da construção civil

Marcela Roldão
Fora da Caixa
3 min readNov 27, 2019

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Lígia Massabki, fundadora da Pablita (Créditos: Pablita/Divulgação)

A marca curitibana Pablita foi fundada quando Lígia Massabki desobriu-se cansada de ser funcionária e resolveu empreender. Ela já havia decidido que queria ter uma loja virtual, mas ainda não sabia qual produto comercializar. Foi pesquisando pela Internet que teve seu momento “eureca!”, ou melhor, “acessórios!”.

Arquiteta de formação, seu conhecimento da área ajudou a empreendedora a formular a identidade de sua marca. Todos os produtos — colares, brincos e anéis — são feitos seguindo um estilo geométrico e escultural de cores fortes.

Reaproveitamento

As primeiras peças foram feitas com o material que havia sobrado do exercício da antiga profissão: pastilhas de mostruário e restos de obras. Depois disso, o reaproveitamento do “entulho” tornou-se um conceito fundamental para a marca, conhecida justamente por se basear na noção de upcycling.

(Créditos: Pablita/Divulgação)

Massabki aproveita seus contatos com outros arquitetos e com donos de lojas de material de construção para localizar telas de pastilhas de vidro com algum defeito, vendidas a um preço bem mais baixo. No final, os acessórios chegam aos clientes em caixas de MDF ou ecobags, de modo que a ideia de reaproveitamento está presente em toda a cadeia produtiva da Pablita.

E agora, Pablita?

A empreendedora se encontra hoje em uma encruzilhada. Ela precisou contratar mais três pessoas para dar conta da demanda por peças, que subiu de 70 para 200 por mês. No entanto, um crescimento em maior escala pode significar a perda da essência da marca por causa da dificuldade de encontrar matéria-prima. “Se eu começar uma mini fábrica para produzir pastilha de vidro, perco o meu conceito”, afirmou Massabki.

Essa questão também complica a manutenção da loja virtual, pontapé inicial de tudo. A maioria dos acessórios é exclusiva devido ao esforço necessário para produzir dois colares ou brincos iguais utilizando material reaproveitado. Hoje em dia, a maior fonte de receita são os produtos vendidos em lojas e feiras físicas.

Upcycling

A ideia de upcycling surgiu nos anos 90 e voltou à moda recentemente. A principal ideia de quem coloca esse conceito em prática é usar materiais que iriam para o lixo ou mesmo para a reciclagem para criar novos itens. Dessa maneira, não há consumo de energia, poluição da água nem emissão de gases durante o processo de produção.

(Créditos: Brian Robert/Geograph)

O universo da moda tem se apropriado bastante da reutilização criativa, como esse movimento também é chamado. Essa é uma ótima notícia, porque a indústria têxtil tem grande impacto ambiental. Só na região central de São Paulo, nos bairros do Brás e do Bom Retiro, são geradas 20 toneladas de restos de tecido, que são descartadas como lixo comum, segundo dados de Sinditêxtil-SP.

Além disso, a técnica é rentável, porque os materiais reaproveitados são mais baratos, e incentiva as pessoas a serem criativas. Muito além de reciclar, o upcycling se propõe a recriar.

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