O apito é amigo ou inimigo?

O árbitro de vídeo é motivo de discórdia, mas veio para ficar

Marcela Roldão
Fora da Caixa
4 min readNov 27, 2019

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(Créditos: Pexels/Reprodução)

O árbitro de vídeo, popularmente conhecido como VAR por causa da sigla em inglês, estreou no país do futebol numa partida entre Santos e Cruzeiro pelas quartas-de-final da Copa do Brasil de 2018. Naquele 1º de agosto, a tecnologia foi usada apenas uma vez, para revisar um pênalti a favor dos alvinegros que acabou não sendo marcado.

Análise das imagens do VAR (Créditos: Wikicommons)

Em 2019, sua participação se tornou muito mais presente. O recurso esteve presente nos campeonatos estaduais, no Brasileirão e até na Libertadores. Tornou-se figura cativa também nas mesas-redondas profissionais e informais, dividindo as opiniões de jornalistas, torcedores e comentaristas. A polêmica é tanta que chegou a ser tema de uma audiência pública da Comissão de Esportes na Câmara dos Deputados na última terça-feira, dia 19.

Divulgação das conversas

A ideia da iniciativa partiu do deputado Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), autor do PL nº 5572/19. Se for aprovado, o projeto tornará obrigatória a divulgação das conversas entre os responsáveis pelo VAR e o árbitro em campo durante as partidas. A decisão, porém, não está nas mãos da CBF: a entidade brasileira precisaria pedir autorização para o Comitê Internacional das Associações de Futebol (IFAB).

Leonardo Gaciba, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, buscou uma conciliação, dizendo que não vê problema na divulgação dos diálogos referentes aos lances mais polêmicos. O parlamentar responsável pelo PL argumenta que essa é uma questão da transparência exigida pelo Estatuto do Torcedor, por isso a necessidade de passar pelo poder legislativo.

A favor

“Ao contrário do que dizem, a regra não tem nada de clara, é muito interpretativa. Mesmo o texto escrito dá margem a diferentes visões”, afirma Renata Ruel, ex-árbitra que hoje atua como comentarista. Ela defende o uso do VAR, argumentando que a tecnologia é uma realidade em diversos campos e não há motivo para ser diferente com o futebol. No entanto, enfatiza a necessidade de haver transparência por parte da CBF e um bom treinamento para os profissionais.

Renata Ruel, comentarista de arbitragem (Créditos: Divulgação/ESPN)

Para Ruel, o fator humano é o x da questão. “Se o VAR está precisando corrigir muitos lances, é porque os erros estão sendo cometidos”, diz. Segue o raciocínio afirmando que o árbitro de vídeo não faz nada além de levar as imagens até os responsáveis por analisá-las; as interpretações, sejam elas certas ou erradas, partem das pessoas escolhidas para apitar cada partida. Para ela, o recurso apenas “atua na legitimação do resultado”.

Contra

Já Arnaldo Ribeiro, jornalista esportivo que já passou por diversos veículos, declara de maneira orgulhosa ser “o inimigo número um do VAR”. Para ele, o assistente em vídeo faz com que a interferência da arbitragem em uma partida aumente de maneira prejudicial. Argumenta que o fato de algumas competições tentarem reduzir o uso dessa tecnologia, caso, por exemplo da Premier League, só deixa nítidas as limitações dela.

Arnaldo Ribeiro, jornalista esportivo (Créditos: Reprodução/Sportv)

Para Ribeiro, o recurso deveria ser usado apenas em lances de fato objetivos. No entanto, isso poderia levar à revisão de diversas regras. Essa é a sua principal ressalva: “O problema do VAR é que ele vai além do recurso tecnológico, ele vem com as alterações de regra que a Fifa trouxe. O futebol é mágico e simples, não precisa de tanta interferência. Aí trazem adaptações de regra, manual de conduta do VAR, o tal do protocolo… Protocolo é coisa de remédio!”.

Em sua opinião, porém, esse advento veio para ficar. O jornalista defende essa posição, que lamenta, porque os clubes e torcedores contrários ao seu uso não são expressivos o suficiente para formar uma oposição de peso.

Jogo é jogo, treino é treino

Opiniões à parte, o árbitro de vídeo é uma realidade no mundo todo e não parece que isso irá mudar. Outras modalidades, como o tênis, utilizam recursos eletrônicos quando há dúvida sobre onde de fato caiu a bola, muito antes do futebol implementar o VAR. Como qualquer novidade, entretanto, gera discussões e é preciso tempo para adaptação e melhoras necessárias. A demora dos árbitros para interpretar os lances tem sido um dos pontos de maior incômodo das torcidas e comentaristas, pelo menos aqui no Brasil. De qualquer maneira, com ou ser o VAR, a torcida é para que no final vença o espetáculo.

(Com colaboração de Daniele Candido)

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