Parece mas não é

Os hambúrgueres de planta chegam às prateleiras e lanchonetes do País

Paula Leal
Fora da Caixa
5 min readNov 9, 2019

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A moda dos alimentos “plant based”, ou dieta baseada em plantas chegou definitivamente ao Brasil. Se veio para ficar, são outros quinhentos. Mas os números são atraentes. O mercado “plant based” cresce mais de 6% ao ano e deve somar 10,9 bilhões de dólares em todo o mundo até 2022. Nos Estados Unidos, a Impossible Foods fornece hambúrgueres para a rede de lanchonetes Burguer King.

A Beyond Meat oferece a opção de sanduíches de almôndegas sem carne na Subway nos EUA, linguiças sem Carne na Dunkin, burritos sem carne na Del Taco e o hambúrguer sem carne da Carl Jr., sem falar que ela acaba de formar uma parceria com a KFC para testar seu “frango” frito vegano.

É fato que as redes de fast food entenderam a tendência de comportamento dos seus consumidores e passaram a se aliar às empresas plant based.

Segundo um levantamento feito pela empresa Nielsen e pela Plant-Based Foods Association (Associação de Alimentos de Base Vegetal), as vendas de “carnes” de origem vegetal aumentaram 24% em 2018, enquanto que as vendas de carnes tradicionais cresceram apenas 2% no mesmo período.

Além disso, uma pesquisa realizada pela rede de fast food Burguer King, uma das empresas que recentemente também lançou seu hambúrguer de plantas, mostrou que, entre os consumidores brasileiros, o interesse e a disposição para comprar produtos plant-based é maior do que em países como China, Estados Unidos e Inglaterra. “Apesar da crise, 42% dos brasileiros estão dispostos a mudar a alimentação em busca de algo melhor”, diz Ricardo Alvarenga, líder de negócios de serviços ao painel do consumidor na consultoria Nielsen.

No Brasil, o maior exemplo é a startup Fazenda Futuro, criada em abril deste ano e que atua na produção de alimentos que imitam o cheiro, a cor, a textura e o gosto da carne tradicional. Em apenas três meses após ter seu primeiro produto nas prateleiras, a startup recebeu investimento de 8,5 milhões de dólares (31,9 milhões de reais) do fundo brasileiro Monashees — que alavancou os apps de transporte e entrega 99 e Loggi.

Em pesquisa realizada pelo IBOPE em 2018, 14% dos brasileiros, algo em torno de 30 milhões de pessoas, se declararam vegetarianos. O investimento pesado no setor é reflexo de um movimento que se espalha em escala global para redução do consumo de carne.

Os motivos são os mais diversos — redução dos gases estufa e consumo de água, compaixão pelos animais, redução dos impactos ambientais, saúde e até questões religiosas. Com a ampliação do número de consumidores preocupados com o impacto ambiental do que comem, eliminar ou reduzir a frequência de produtos de origem animal na dieta virou quase um ato político.

Entretanto, tem uma parte significativa da população que não está disposta a abandonar o bife nosso de cada dia mas busca opções mais saudáveis e flerta com a ideia de reduzir o consumo de carne.

De acordo com a pesquisa do IBOPE, 55% dos entrevistados disseram que consumiriam mais produtos sem qualquer ingrediente de origem animal. “Não estamos em busca apenas de consumidores veganos mas também dos carnívoros que procuram uma opção mais saudável e sustentável sem abrir mão do sabor”, diz Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro ao lado do sócio Alfredo Strechinsky, para a revista Exame (edição 1193).

É nesse oceano de potenciais consumidores que as empresas de produtos plant based quer navegar. Mas será que comer hambúrguer de planta é uma opção saudável? Para Cara Rosenbloom, nutricionista e presidente da empresa de comunicações sobre nutrição Words to Eat By e co-autora do livro “Nourish: Whole Food Recipes Featuring Seeds, Nuts and Beans”, “a indústria alimentícia se apropriou do termo para vender alimentos ultraprocessados feitos de proteína de ervilha ou soja, metilcelulose e maltodextrina, e “ovos” líquidos feitos de proteína isolada de feijão moyashi”.

Segundo a nutricionista, sob a suposta promessa de vender alimentos saudáveis, as empresas do setor vendem alimentos manipulados e alterados quimicamente para adquirir novos sabores e texturas. Já os fabricantes da Fazenda Futuro prometem um hambúrguer de planta com a mesma quantidade de proteínas que um hambúrguer de carne, com 15% menos gorduras e 90% menos colesterol.

Para determinar o grau de processamento de um alimento, os pesquisadores utilizam o sistema Nova de classificação, recomendado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, que separa os alimentos em quatro categorias: alimentos não processados ou minimamente processados (frutos ou ovos, por exemplo); ingredientes culinários processados (como sal ou manteiga); alimentos processados (geralmente contendo dois ou três ingredientes, como castanhas salgadas ou legumes enlatados), e alimentos ultra processados (formulações industrializadas contendo cinco ou mais ingredientes, incluindo açúcar, sal, gordura, isolados proteicos, intensificadores de sabor, estabilizantes e conservantes).

Para quem fica confuso com conceitos, num hambúrguer vegetariano, feito por exemplo com grão de bico, cogumelos e soja, os ingredientes in natura são misturados e minimamente processados e portanto, o gosto é de vegetal sim. No caso de um hambúrguer de planta, as proteínas vegetais (soja, ervilha, milho) são ultra processadas para obter aparência, textura e gosto artificial de carne.

Ainda, o sabor de um produto de origem vegetal pode mesmo ser comparado a um suculento hambúrguer de carne de verdade? Recentemente, a chef Paola Carosella causou polêmica nas redes sociais ao criticar o hambúrguer de planta.

Se você ficou curioso para saber que gosto tem o hambúrguer de planta, clica no vídeo abaixo e descubra o que as jornalistas Paula Leal e Valéria Luizeti acharam da experiência.

(Colaboração Valéria Luizetti)

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