Pedala, São Paulo!

Aplicativos ajudam ciclistas a descobrir os trajetos mais rápidos e seguros

Marcela Roldão
Fora da Caixa
3 min readNov 27, 2019

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(Créditos: Pexels/Reprodução)

Em 2015, a medida do então prefeito Fernando Haddad (PT) de criar ciclofaixas na capital paulista foi motivo de bastante polêmica. Além das acusações de superfaturamento nas obras, o projeto foi criticado por conta da geografia cheia de ladeiras da cidade e da má conservação de diversas vias, fatores que colocariam os ciclistas em perigo.

No entanto, o maior risco para os adeptos da bicicleta tem sido, desde aquela época, a má vontade de motoristas de automóveis. Entre 2017 e 2018, os acidentes de trânsito nas ruas e estradas do estado de São Paulo tiveram queda de 3,5%. Em relação aos ciclistas, porém, a taxa subiu em 9,5%, fazendo com que o grupo, junto dos pedestres, seja a parcela mais vulnerável do tráfego paulista.

Controvérsias

O engenheiro de tráfego Humberto Pullin acredita que a educação de trânsito é uma medida fundamental em cidades do tamanho de São Paulo, essencial para que, a médio e longo prazo, o número de acidentes diminua. Ele diz, porém, que vê a bicicleta como uma opção de lazer, mas não de transporte.

(Créditos: Pexels/Reprodução)

O revisor de texto Bruno Prisco discorda. Ele utiliza sua “magrela” como principal meio de locomoção há três anos, deixando-a de lado apenas nos períodos de frio ou chuva. Apesar de achar seguro ser ciclista em São Paulo, fala da falta de cooperação. “Infelizmente, ainda precisa de uma conscientização das pessoas, principalmente dos motoristas, que não entendem que a bicicleta é um meio de transporte, é um veículo como outro qualquer, e das pessoas que não respeitam o uso preferencial das ciclofaixas”, contou em entrevista.

Um novo nicho de mercado

Para contornar essa situação, surgiram alguns aplicativos com a função de ajudar seus usuários a encontrar as rotas mais seguras. Um deles é o UseBike, fundado por Luigi Godoy, Helena Ruffato, Thiago Turbian, Rafael Canovas e Guilherme Rovai em 2016.

A ideia surgiu quando Godoy, que havia acabado de deixar seu emprego em uma agência de publicidade, viajou para a Argentina com Turbian. Lá, os dois se depararam com vários serviços destinados aos ciclistas e pensaram nas ciclofaixas paulistanas recém-inauguradas, um nicho de mercado pronto para ser explorado.

(Créditos: UseBike/Divulgação)

Ao voltar para o Brasil, a dupla começou a fazer seu dever de casa na tentativa de entender quais eram as necessidades de quem havia aderido ou gostaria de aderir ao uso das bicicletas em São Paulo. Os principais receios eram a falta de segurança, a falta de conhecimento sobre a localização das ciclovias e o medo de andar por lugares com muitos carros ou motocicletas.

Os amigos conheceram Ruffato, Canovas e Rovai enquanto trabalhavam no projeto e convidaram os três para se juntarem a eles naquela empreitada. No começo, muitas das rotas disponibilizadas pelo UseBike foram traçadas manualmente pelo quinteto. Hoje, o serviço é colaborativo, ou seja, os próprios usuários — cerca de 50 mil, sendo que alguns deles estão na Europa e nos Estados Unidos — alimentam a base de dados do aplicativo.

Multitarefas

Além de oferecer trajetos, o app também mostra diversos locais bike friendly, como estabelecimentos com estacionamento para bicicletas, locais em que os ciclistas podem tomar banho e oficinas. Os usebikers podem avaliar esses pontos e fazer comentários sobre os serviços prestados, criando uma espécie de TripAdvisor exclusiva para quem se locomove com esse meio de transporte.

O UseBike é gratuito para seus usuários e conta com a patrocínio da Bradesco Seguros desde maio de 2018. Dos cinco fundadores, apenas Ruffato e Godoy ainda têm algum cargo de gestão na startup. Turbian, Canovas e Rovai são apenas sócios hoje em dia.

(Com colaboração de Valéria Luizetti)

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