Watchmen: heróis com uma nova visão

A série da HBO atualiza os temas do clássico quadrinho, mas sem perder o tom

Vinicius Lima Santos
Fora da Caixa
3 min readNov 27, 2019

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Watchmen, série da HBO

Watchmen revolucionou os quadrinhos de super-heróis em 1986 e 1987 , ao mostrar pessoas mais humanas por trás dos uniformes, com diversos problemas pessoais e atuação questionável na sociedade. Abordou o cerne sociocultural da época nos Estados Unidos — os impactos da guerra do Vietnã e o governo Nixon, a Guerra Fria e o medo do holocausto nuclear os limites da atuação impune dos oficiais da lei.

Além disso, Watchmen dissecou e distorceu o mito do herói, criando personagens icônicos como o extremista Rorschach, o controverso Comediante e o único super-herói de verdade e beirando ao poder de um deus, o Dr. Manhattan. Como a série da HBO, que prometeu continuar a história, pode superar conceitos tão inventivos apresentando outros e ainda assim manter-se fiel ao material original?

O mundo da série não é exatamente o mesmo que o nosso, mas os problemas são

Rorschach volta dos mortos como uma seita supremacista branca

Watchmen atualizou os problemas sociais abordados ao centrar a trama nos conflitos raciais na cidade de Tulsa, no estado do Oklahoma. Em 1921 a cidade foi alvo do maior massacre racial da história dos país, e o flashback para esse episódio serviu para mostrar o peso do racismo em toda a história dos EUA, e a relevância que teria para Watchmen e para o mundo, já que grupos racistas voltaram a crescer nos últimos anos em território americano.

Novos heróis, novos traumas

Looking Glass, Sister Night e Ozymandias

Os heróis novos e o retorno de faces antigas da HQ também faz muito sentido. O episódio histórico que apaziguou a tensão nuclear no mundo de Watchmen foi o ataque de uma lula alienígena gigante a Nova York (que não passava de uma farsa orquestrada pelo herói mais inteligente de todos, o empresário Adrian Veidt, mais conhecido como Ozymandias), e o medo da ameaça vinda do espaço uniu a humanidade. É esse medo que define o herói policial Looking Glass, que moldou a vida com base na paranoia do fim do mundo, numa clara alusão aos conspiracionistas que ganham mais adeptos a cada dia.

A ascensão social e econômica experimentada por parte dos afro-americanos e o racismo sofrido por eles se materializa na heroína Sister Night, que tem a família e a carreira prejudicada por um mal trazido de gerações passadas, mas que boa parte das pessoas ignora. E, por fim, o retorno de Ozymandias mostra como o mundo de hoje ainda é moldado por escolhas de governantes megalomaníacos e prepotentes do passado.

Ainda sem ter aparecido de fato na série mas sempre citado, o Dr. Manhattan continua como uma presença marcante de que todos esses problemas e lutas parecem insignificantes quando comparados a totalidade do universo, e a um ser que pode destruir tudo e todos com o pensamento, uma interpretação bem pessimista (ainda que racional e humana) de Deus.

(Com colaboração de Daniele Candido)

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Vinicius Lima Santos
Fora da Caixa

Jornalista, Nerd e tentando a sorte na gringa - Toronto, Canadá. Tentando tirar a ferrugem e voltar a escrever