Quando a adoção bate à porta: um relato através do olhar maternal

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Fora da Pauta UFPB
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3 min readJun 6, 2017

Uma mãe adotiva e sua vivência com a chegada da filha — que veio de um modo inesperado

A conexão entre Maria Amélia e Marta não veio do útero, mas isso não as impediu de se unirem.

Por Elisa Damante

(Por escolha dos personagens, todos os nomes da matéria foram fictícios).

Eram 19h de uma noite de terça-feira do ano de 1999. Os dois filhos mais velhos de Marta e Lauro estavam fora de casa quando eles escutaram o som da campainha. Em uma caixa de papelão, com vários lençóis dobrados, uma criança chorava. A surpresa parece ter sido a concretização dos pedidos que Marta fazia aos céus: era uma menina. Depois de ter tido três filhos homens e ter perdido uma gestação de gêmeos, o sonho, literalmente, havia batido a porta.

Maria Amélia veio ao mundo através do ventre de outra muher, mas foram os cinco corações daquela família que a acolheram, a educaram, a criaram e a encheram de amor. A escolha do nome da criança, que hoje já tem 17 anos, foi especial. Maria foi uma escolha da mãe adotiva, como forma de agradecimento ao nome que remete à religiosidade, Amélia veio por parte do irmão mais velho, Pedro, que havia perdido uma amiga querida que tinha o mesmo nome. “Amélia era uma amiga muito próxima a mim, e acho que por eu ainda ter 15, não ter muita maturidade, isso acabou me abalando muito, então eu quis homenageá-la”, justifica.

Hoje, Marta e Maria, como é chamada, vivem apenas uma em companhia da outra. Lauro faleceu há alguns anos. Os outros filhos já vivem com suas próprias famílias. Cursando Direito, Maria tem conhecimento da realidade de crianças que vivem em casas de acolhimento e se enche de gratidão para falar de sua mãe adotiva. “Não sei porque motivo a minha mãe me doou. Não sei se ela era drogada, não sei se ela tinha condição, mas eu nunca tive problemas com isso”, revela.

Um fator que Maria julga importante para ter hoje, esse tipo de pensamento, foi o fato de nunca ter sido poupada de conhecer a sua verdadeira história. Desde muito nova, Maria tem conhecimento de que foi gerada não no útero, mas no coração de sua mãe. “Talvez, se ela tivesse me contado mais tarde, eu sofreria mais. Mas acho que o fato de minha mãe Marta ter me dito isso desde pequena me fez não ter curiosidade de conhecer a minha mãe biológica. Eu só sou grata por estar nessa família”.

A psicóloga Nathália de Assis, que já trabalhou com adoção durante um ano e meio em um setor da justiça da cidade de Santa Rita, acredita que essa é realmente a melhor opção. Ouça abaixo:

A legitimação de sua adoção nunca aconteceu de forma legal. Com medo de ter que entregar Maria aos órgãos competentes a esses casos, Marta decidiu registrar a menina como se fosse sua: para o cartório, Maria veio ao mundo através de um parto humanizado realizado em casa. O que ela não sabia, é que em casos como esse, se fosse descoberta por ter feito o registro da criança desta forma, ela poderia ser presa, além de perder a guarda da filha. De acordo com o juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude, Adailton Lacet, esse é o procedimento conhecido como “adoção à brasileira”. Casos como esse são denominados como crime, e é um crime que não prescreve. Ouça a explicação do juiz:

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Blog produzido e atualizado pelos alunos do curso de Jornalismo da UFPB como parte do trabalho prático da disciplina de Webjornalismo.