10 piores filmes de 2017

Henrique Rodrigues Marques
Fora do Meio
Published in
10 min readDec 29, 2017

Em tempos de debates polarizados e crises mundo afora, se tem uma coisa que todo mundo pode concordar nesse momento é que existem dois grupos de pessoas: as que são a Anitta e as que tiveram um ano horrível em 2017. Mas depois de longos meses, finalmente esse lixo de ano está dando seu último suspiro de vida, e com o fim dele chega a melhor fase do ano: a temporada de listas. E que jeito melhor para começar uma retrospectiva de 2017 se não pelo o que esse ano teve de pior?

Antes de começar o nosso ~~countdown~~, algumas considerações:

a) Não, eu não assisti Dunkirk. Na realidade eu raramente gosto de um filme de guerra, o padrão é eu ficar bem entediado e depois de um tempo já nem sei mais o que tá acontecendo. Então provavelmente eu nem vou achar Dunkirk particularmente ruim, vou achar só mais um filme de guerra mesmo.

b) Tem muito filme que todo mundo odiou, mas que eu nem cheguei a ver porque decidi me poupar. Quando eu era mais novinha eu assistia literalmente qualquer bobagem que aparecesse, mas agora com um quarto de século nas costas eu passei a ficar um pouco mais seletiva. Quando você para pra contar quantos filmes aproximadamente você ainda vai poder ver antes de morrer (num cenário otimista onde você viva mais umas boas décadas), você percebe que: não são tantos filmes assim. Então a vida literalmente é muito curta pra dar mais uma chance pro Michael Bay, ou pra continuar gastando três horas em um diretor que você nem gosta só porque quer ver todos os indicados na temporada de premiações, sendo que no fim do ano a gente já nem lembra mais quais foram eles mesmo. Eu continuo acreditando que todo filme merece ser visto, mas acho que tá tudo bem assumir que você dispensa alguns, porque a possibilidade de render alguma surpresa positiva é próxima de zero. Nessa brincadeira, filmes como o mais recente comercial de perfume do Terrence Malick, qualquer coisa que a DC lançou e metade dos indicados ao Oscar de melhor filme ficaram perdidos no meio de 2017. [Non, Je Ne Regrette Rien.mp3 playing in the background]

c) Tem filme ruim que de tão ruim acaba sendo absurdamente divertido de se ver. Esse tipo de filme não merece entrar numa lista dessas. Aqui você vai encontrar mais filmes que eram promissores ou que não pareciam tão terríveis assim, mas que foram uma tortura de assistir e não deu pra esboçar um sorriso. Sendo assim, eu jamais colocaria Xuxa Requebra ou qualquer coisa da filmografia de Sandrinha Bullock, mas certamente colocaria um Michael Haneke.

Todos os filmes abaixo até poderiam ser o que a gente chama de um filme bom, mas tudo que conseguiram foi colocar o “bom” em “bomba”.

Roda o VT!

10) Depois daquela montanha (Hany Abu-Assad)

Esse é o tipo de filme que eu leio a sinopse e penso “quem achou que era uma boa ideia???”, mas aí leio o nome dos envolvidos e fico “hmmm, talvez seja uma boa ideia”. No caso, não foi. Eu obviamente adoro a Kate Winslet e o Idris Elba, e achei bem massa um filme de romance hollywoodiano onde os dois membros do casal principal tem mais de 40 anos. E o fato de ter um diretor estrangeiro, fora da dinâmica comercial dos Estados Unidos, deixou o filme ainda mais promissor. Mas nada se salva. O roteiro tenta diversas coisas, desde a fórmula anos 90 do homem-e-mulher-se-odeiam-porém-forçados-a-passar-um-longo-período-de-tempo-juntos-acabam-por-se-apaixonar-perdidamente, ao cinema sobrevivência, passando ainda por uma fase água com açúcar numa fucking cabana abandonada no meio de uma montanha de gelo que eles acham convenientemente pra poder transar. E aliás, o filme foi especialmente ofensivo por se vender como “o filme com a primeira cena de sexo na carreira de Idris Elba” e não nos entregar nem um vislumbre dessa bundinha.

Eu saí do cinema me perguntando que cômodo da casa a Kate queria reformar pra se sujeitar a ir fazer um filme desses filmado em locação, passando frio de verdade e perigando ganhar um framboesinha de ouro nessa brincadeira. É um micão para todos os envolvidos, acho que até o cachorro devia dar um jeito de tirar esse crédito do imdb.

09) Corpo elétrico (Marcelo Caetano)

Achei que nunca ia chegar o dia onde eu ia ver uma cena de sexo com podolatria e ficar entediada. Aí 2017 me trouxe Corpo elétrico. Eu estava bastante empolgado com o lançamento do filme, por gostar de alguns curtas feitos por Caetano e pelas coisas que ele dizia nas entrevistas de divulgação. Foi um balde de água fria encontrar um filme que é basicamente o oposto de tudo que era dito sobre ele.

Na melhor das análises, o filme é uma produção morna que reproduz um lugar-comum já saturado na produção brasileira contemporânea: uma estética naturalista aliada a uma proposta de engajamento social, que beira o fetichismo de uma certa alteridade, sem nunca tecer novas possibilidades, tendo como defesa um suposto afastamento livre de julgamentos. Na pior, é um remake ainda mais fraco do já fraco Stonewall de Roland Emmerich.

08) La La Land (Damien Chazelle)

Não sei o que foi mais chato em 2017: as fãs de La La Land atacando qualquer um que ousasse criticar o filme; o Damien Chazelle repetindo o mesmo discurso sobre como era bom ser um sonhador, e que fazer um musical em pleno século XXI era uma ousadia, um grande risco, uma loucura sem precedentes (será que porque ele é hetero ele nunca viu Chicago, Moulin Rouge e Pitch Perfect??? fica a questão), mas que valeu a pena sonhar; ou o Ryan Gosling em qualquer cena que ele aparecia nesse filme. E o pior de tudo é que o filme não tem nem coragem de se assumir como parte do gênero que supostamente quer homenagear, sendo provavelmente o filme “”””””””””””musical”””””””””””””””” com menos músicas por minuto já produzido na história do mundo, sempre buscando manter uma certa elegância e evitando justamente os riscos que o sr Chazelle falava apaixonadamente toda vez que davam um microfone na mão dele. A única coisa boa desse filme é que ele rendeu as críticas mais gostosas do ano.

07) Elon não acredita na morte (Ricardo Alves Júnior)

Outra grande decepção do ano. O filme é mais ou menos inspirado em um curta-metragem do diretor que eu gosto bastante, então fui com expectativas lá em cima para ver o que a versão longa renderia. E no fim das contas rendeu só tédio e a sensação de que o curta não justificava um longa mesmo.

Mas o filme não é de todo ruim. Alves Júnior dirige atores muito bem, e o elenco todo se entrega de corpo, alma e mais corpo pro projeto. Eu queria muito ter gostado, mas infelizmente não deu.

06) Jogos mortais: Jigsaw (Michael Spierig e Peter Spierig)

Eu já sabia que não era bom, mas todos os filmes da saga Jogos mortais (com exceção do primeiro), caem naquela categoria já discutida lá em cima de “filmes ruins que de tão ruins são divertidos a valer”. Então eu entrei no cinema com aquela expectativa de algumas risadas, um bom gore, umas mortes bem sacadas, umas frases de efeito, etc e tal. Enfim, toda aquela diversão despretensiosa que os filmes de série sempre me oferecem. Mas dessa vez não teve nada disso. As mortes são uma mais chocha que a outra, o gore nem é tão gore assim, os diálogos se levam a sério demais para serem divertidos e as reviravoltas deixariam até a Glória Perez revoltada com o nível de absurdo. A única coisa que salva são as cenas de uma médica legista ruiva que sempre que conversa com o chefe parece que o filme virou um softporn do saudoso cine band privê. Eu já até criei uma petição para ela ganhar um spin off, porque temos aí uma rainha dos memes a ser descoberta. E certamente vai render mais do que ficar requentando (e literalmente ressuscitando) o coitado do Jigsaw.

05) A lei da noite (Ben Affleck)

Imagina uma esquete do Saturday Night Live que faz uma paródia de todos os clichês possíveis e imagináveis dos filmes de máfia. Agora pensa um diretor que quer fazer isso, mas finge para todos os atores que aquilo na verdade é um filme sério que tá garantido no Oscar. Pronto, você tem A lei da noite.

Eu tô até agora esperando o Affleck lançar um manifesto falando que tudo isso é na realidade uma performance autocrítica aos moldes Shia LaBeouf que sempre foi a real proposta desse filme, porque só isso justifica a existência do mesmo.

04) Fala comigo ( Felipe Sholl)

2017 não foi fácil pro cinema nacional, e teve um montão de filme vendido como desconstruíde mas que na real era bem conservadorzinho.

Se por um lado o filme ganha alguns pontos pela naturalidade com que retrata um relacionamento intergeracional, ele peca bastante e gera vários momentos ofensivos quando o assunto é parafilia e fetiche. No fim das contas, o que tem de bom não é tão incrível assim, e o que é ruim causa incômodo dos grandes.

03) Passageiros (Morten Tyldum)

Uma das grandes ironias do ano: o filme que subverteu o status quo de Hollywood, e pagou a atriz protagonista um salário bem mais polpudo do que o pago ao seu companheiro do sexo masculino, acabou sendo um dos filmes mais sexistas dos últimos tempos. Para além de todas as problemáticas do roteiro, o filme ainda tem toda uma aura de feito nas coxa. Não dá pra sacar a proposta de direção, os efeitos especiais são tosquinhos, o design de produção esquecível.

Mas surpreendentemente não foi o pior filme com referências bíblicas e discurso machista que a Jennifer Lawrence conseguiu se meter esse ano. Quando a gente achava que não dava pra piorar…

02) Joaquim (Marcelo Gomes)

Eu gosto bastante de uma certa tendência que se popularizou nas últimas duas décadas de se fazer biopics que se voltam a um curto período da vida da personalidade retratada — quase sempre falando sobre o começo, o antes de se tornar um ícone — , ao invés de usar a velha fórmula “do nascimento a morte”. Sendo assim, apostei algumas fichas no filme sobre o Tiradentes pré-líder revolucionário. Mas Joaquim foi de longe a pior experiência cinematográfica que eu tive numa sala de cinema esse ano.

Assisti sentado na escada, e ainda assim cochilei diversas vezes — e quando eu estava acordado eu desejava a minha morte. Cogitei deixar a sala várias vezes, mas ao mesmo queria pagar pra ver se ele conseguia piorar aquilo. E piorava.

Não sei se sentia mais vergonha alheia do paralelo que o roteiro tenta constantemente traçar com o Brasil contemporâneo (naquele molde tiozão que fica na padoca discutindo política, “esse país é corrupto por excelência, tem o que fazer não”), do tom contemplativo-cinema-latino-americano-que-festival-europeu-adora, mas que aqui infelizmente não funciona, ou da tentativa de embutir um discurso feminista que acaba sendo machista com a única personagem feminina de destaque.

01) Mãe! ( Darren Aronofsky)

Apesar de ser uma pessoa que ama exageros e superlativos, tem uma frase que eu evito ao máximo proclamar, mas que eu preciso dizer sobre Mãe! e preciso dizer em caixa alta: É UM DOS PIORES FILMES QUE EU JÁ VI NA MINHA VIDAAAAAAAAAA!

Eu tô até agora sem entender esse delírio coletivo que acometeu várias pessoas que acharam o filme genialidade pura. Será o primeiro signo da era Trump em que vivemos? Porque eu não sei se confio mais que o filme vai ser de fato esquecido pela história, ou se daqui algumas gerações vão redescobri-lo e elevar a obra ao status de comédia involuntária que de alguma maneira se torna cult em um certo circuito.

Tudo nesse filme é ruim. Não dá pra defender nada. As metáforas são óbvias e um tanto mal elaboradas (a marca de Caim, a pia representando o dilúvio, a calcinha verde de Eva, o coração LITERAL da casa que a Mãe conseguia ouvir pela parede), o roteiro é preguiçoso(ela é mãe natureza ou Maria, mãe do filho de Deus? Ah, os dois? Q???), a direção é cafona (sério, eu ainda não consegui aceitar o POV da Jennifer olhando pra própria roupa quando questionam a roupa que ela está vestindo no funeral), a mensagem ambientalista é um tanto infantil. E tudo isso bem besuntado no bom e velho male gaze, transformando mais uma vez (dentro e fora do filme) a dor da musa como parte fundamental e romantizada do processo criativa do artista (o artista-homem, obviamente). Nem mesmo a Jennifer Lawrence, que eu costumo achar competente até nas bomba do David O. Russell, consegue dar algum mérito pra esse show de horrores.

Para finalizar, deixo esse tweet que resume com perfeição tudo que tem de errado nessa cilada disfarçada de filme:

Por esse ano foi isso aí. Concorda comigo? Ficou pessoalmente ofendida com o seu favorito sendo criticado? Acha que eu não gostei porque não entendi? Deixa sua opinião aí nos comentários!

E que em 2018 traga filmes melhores e que a gente não tenha mais que lidar com o tropo do “homem branco com alma artística que é um narcisista babaca com uma namorada incrível demais pra ele”, porque já deu, né?

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