15 Melhores Filmes de 2017

Henrique Rodrigues Marques
Fora do Meio
Published in
9 min readJan 6, 2018

2017 foi um ano em que eu vi poucos filmes. Entre me formar, fazer uma residência, dirigir um documentário e prestar mestrado, sobrava pouco tempo pra ver filme e quando eu via rolava uma pequena culpa de não estar cuidando de uma das obrigações citadas. Mas mesmo com uma amostragem pequena, o ano acabou com um saldo bem positivo. Foi bastante difícil escolher os 15 favoritos porque teve muita coisa massa esse ano.

Levando em conta apenas o que foi lançado em circuito comercial (porque eu não consigo desapegar desse resquício purista) no Brasil em 2017, os melhores do ano são:

15 — Bom comportamento (Irmãos Safdie, 2017)

Uma crítica de um usuário do letterboxd define o filme como a melhor representação visual de uma crise de pânico. E faz todo o sentido. É de ficar boquiaberto com o modo seguro com que os irmãos Safdie orquestram uma noite caótica em Nova Iorque, mantendo sempre aquela atmosfera de tensão que diz: sim, as coisas ainda podem piorar. É um thriller eletrizante, mas também é um filme cheio de afeto. E se alguém ainda tinha coragem de deslegitimar o trabalho de Robert Pattinson como um dos melhores atores em atividade, agora vai ficar ainda mais difícil sustentar tal argumento.

14 — Logan (James Mangold, 2017)

Eu não tenho muito saco para filmes de super-heróis, mas tenho um fraco muito grande por tudo relacionado a X-men e seu inevitável subtexto queer. Logan, a belíssima despedida de Hugh Jackman ao papel que viveu por 17 anos, é ao mesmo tempo uma antítese aos filmes de super-herói e o mais queer dos filmes da saga X-men. Grande acerto do roteiro em priorizar diálogos e relações afetivas no capítulo final da história de um personagem conhecido por sua brutalidade. Os embates discursivos entre Jackman e Patrick Stewart (que merecia fácil um Oscar de ator coadjuvante aqui), trazem algo de cinema clássico difícil de encontrar no cinema hollywoodiano atual.

O resultado é um dos filmes mais tocantes do ano, mas que também consegue render ótimas cenas de ação. E ter o futuro da humanidade na mão de crianças mutantes (metáfora para todo grupo minoritário) e de origem latina foi um sopro de esperança no início da era Trump.

13 — Eva não dorme (Pablo Agüero, 2015)

O cinema argentino é bastante venerado no circuito cinéfilo paulista, com filmes que chegam a passar longos meses em cartaz. Eva não dorme, que chega aqui no Brasil com dois anos de atraso, teve uma passagem bem curta pelo circuito, talvez por ir por uma via totalmente inversa da produção padrão que vem do país vizinho.

O trabalho extremamente estilizado e a espetacular direção de atores são um frescor, não só pro cinema como um todo, mas especificamente para esse cinema com ambições políticas, quase sempre sinônimo de uma abordagem naturalista. o uso de corpos e como os atores entram e saem de quadro em cada cena é de encher os olhos; o tipo de coisa que me lembra o porquê eu amo cinema.

12 — Era o Hotel Cambridge (Eliane Caffé, 2017, Brasil)

Outro exemplar de novas maneiras de se pensar um cinema engajado em causa sociais, sem se escorar numa espetacularização da miséria. O trabalho de Eliane Caffé, feito com atores e com moradores de uma das principais ocupações de São Paulo, acredita no afeto como ferramenta política. Tema tratado com a seriedade que merece, mas nunca perdendo seu tom celebratório em prol de uma abordagem sisuda.

11 — Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (Angela Robinson, 2017)

O melhor filme da temporada de premiações atual que infelizmente vai ser esquecido por todas elas.

Quando eu reclamo de filmes que higienizam histórias queer para atrair um público maior, um contra argumento que eu ouço muito é que “nem todo o filme precisa ter sexo para ser bom”. E aqui temos uma prova de que um tom mais contido na representação sexual não necessariamente anda junto com a supressão da experiência queer.

Dirigido pela subvalorizada Angela Robinson, mulher negra e queer, o filme acompanha a inacreditável história do criador dos quadrinhos da Mulher-Maravilha, que envolve também a invenção do detector de mentiras e um relacionamento poliamoroso e BDSM com duas mulheres, que inspiraram a criação da heroína. O filme é uma biopic bastante clássica, que facilmente passaria no Telecine e poderia atrair a atenção da sua mãe. E embora busque um retrato respeitoso e contido, principalmente nas cenas de sexo (acredito que para evitar uma fetichização das relações lésbicas, o que é bastante justificável), Robinson não tenta em momento algum censurar a história para aumentar aaceitação de um público heterossexual. Um equilíbrio difícil de alcançar e que comprova seu talento como diretora.

E já passou da hora de darem um Oscar pra sempre ótima Rebecca Hall.

10 — Thelma (Joachim Trier, 2017)

Não sei exatamente por qual motivo, mas eu nunca dei atenção para a obra do cultuado dinamarquês Joachim Trier. Sem ter assistido nenhum filme dele, fui totalmente sem expectativas conferir Thelma. E o arrebatamento foi real.

Eu gosto muito desse subgênero do realismo fantástico que usa descoberta de superpoderes como metáfora para um coming of age. Quando isso está associado a descoberta da sexualidade e repressão religiosa então, eu tenho um banquete. E além de tudo isso, é provavelmente o filme com as cenas mais bonitas que eu vi no ano, dá vontade de expor em looping na parede de casa.

09 — Apesar da noite (Philippe Grandrieux, 2015)

Primeira experiência que eu tive com o cinema de Philippe Grandrieux e virei fã de imediato. O que Apesar da noite alcança é um ponto raro na cinematografia contemporânea, onde a imagem se torna pura potência. Uma versão (ainda mais) perversa de Cidade dos sonhos de Lynch, o filme usa a pornografia como ponto de debate da contemporaneidade e suas ansiedades. Tudo filmado com um tom onírico que te deixa hipnotizado. E para completar, Ariane Labed num verdadeiro tour de force.

08 — Marguerite & Julien: um amor proibido (Valérie Donzelli, 2015)

Desde o all star em plena França absolutista no Maria Antonieta de Sofia Coppola, tornou-se um grande clichê do cinema contemporâneo a utilização de elementos anacrônicos em filmes de época. Mas acredito que o filme de Valérie Donzelli tenha sido o mais bem-sucedido na utilização desse recurso narrativo.

Um filme de época que é puro pop e transforma um dos amores incestuosos mais célebres da história em uma trama aos moldes Bonnie & Clyde. Cinema tumblr da melhor qualidade.

07 — Em ritmo de fuga (Edgar Wright, 2017)

Se eu fosse fazer um Top 10 filmes do século XXI, eu certamente colocaria o Scott Pilgrim contra o mundo (2010) de Edgar Wright, um dos diretores mais originais de sua geração. Com Baby Driver, Wright atinge um nível surreal de mise-en-scene, orquestrando com perfeição imagem e som, música e acontecimento. Sessão da tarde com apelo cult. Um clássico instantâneo. Merecia um Oscar em todas as categorias possíveis.

06 — A qualquer custo (David Mackenzie, 2016)

De longe o melhor filme do Oscar 2017, A qualquer custo é uma baita aula de roteiro. Um filme que consegue ser extremamente fiel ao universo de seus personagens — universo esse marcado por doses extremas de misoginia, racismo, xenofobia e masculinidade tóxica — , sem corroborar com nenhuma dessas questões, enquanto tece forte crítica social sem abrir mão da história sendo contada.

Cinematograficamente impecável, sem parecer muito calculado, o filme é uma ótima reflexão sobre o estado das coisas nos Estados Unidos atual, em sua crítica ao impacto que os bancos (ou supercorporações) tem na vida do cidadão comum. Um faroeste para o tempo em que vivemos.

05 — Colo (Teresa Villaverde, 2017)

Durante uma terrível crise política social, o cinema grego floresceu com sua Wierd Wave, mostrando que o naturalismo excessivo não é o único caminho possível para um cinema político-social. Teresa Villaverde segue um caminho parecido, com seu peculiar Colo, que mostra, através de labirintos quase oníricos, a fragmentação de uma família acometida pela crise econômica. Daqueles filmes que não saem da gente depois da sessão.

04 — Toni Erdmann (Maren Ade, 2016)

A melhor comédia do ano com a melhor cena musical do ano. Não tem muito o que dizer sobre o filme sem estragar parte da delícia que é vê-lo. Só resta registrar o meu amor por Maren Ade e Sandra Hüller.

03 — Além das palavras (Terence Davies, 2016)

Terence Davies é um daqueles diretores que demora anos entre um filme e outro, mas que quando aparece só entrega obra-prima. Além da palavras é uma curiosa biopic sobre a poeta Emily Dickinson. Visualmente, uma homenagem as pinturas de Vilhelm Hammershøi, enquanto na construção de diálogos e direção de atores, o filme traz um inusitado tom que nos remete ao cinema de Whit Stillman. Um lindo filme sobre as coisas feias da vida.

02 — Columbus (Kogonada, 2017)

Embora esteja em segundo lugar na lista, Columbus foi meu filme favorito esse ano. Estreia de Kogonada na direção, o filme traz referências que vão de Ozu a Bresson, e não apresenta uma peça fora do lugar. Em tempos onde o cinema independente americano vive de fórmulas manjadas e um certa estética feita para o Festival de Sundance, Columbus é um respiro de um espírito real de cinema independente.

Sobre pequenos encontros que nos formam para sempre, e arquitetura como ponto de conexão e afastamentos. Daqueles filmes pequenos que dizem muito com o mínimo.

01 — Personal Shopper ( Olivier Assayas, 2016)

Um filme que não poderia ter existido em outro tempo.

Ao dirigir o videoclipe para música Hello, da cantora Adele, Xavier Dolan escolheu não utilizar smartphones por acreditar que eles diminuem o valor da experiência audiovisual. Indo em um caminho oposto, Assayas prova que a tela de um celular pode ser muito cinematográfica, sendo fonte de suspense ou contemplação.

Com uma mistura maluca de gêneros e formatos, Assayas apresenta uma direção sem medo de beirar o ridículo (e parece ter consciência disso), fazendo um filme que é igualmente incômodo e intrigante. Kristen Stewart, sempre excelente, vive aqui não necessariamente seu melhor papel, mas certamente o filme onde melhor domina e transborda cada pixel de cada quadro, com uma câmera obcecada em eternizar sua beleza.

Por ser um filme extremamente único e sintonizado com a atualidade, Personal Shopper é, para mim, o grande acontecimento cinematográfico do ano.

Algumas menções honrosas que eu não poderia deixar de citar. Dentre os filmes não lançado em circuito de cinemas no Brasil (e dificilmente serão lançados em 2018) os que mais cativaram o meu coração, e facilmente poderiam ter entrado para a lista oficial, foram:

5) Beach rats (Eliza Hittman, 2017)

4) The bad batch (Ana Lily Amirpour, 2016)

3) Nocturama (Bertrand Bonello, 2016)

2) God’s own country (Francis Lee, 2017)

1) Grave (Julia Ducournau, 2017)

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