7 de setembro de 2021

Fora da Asa|Experiências Plurais
foradaasa
Published in
2 min readSep 12, 2021

Até a Lua
ida e volta
e mais meia
os corpos enfileirados de brasileiros e brasileiras
um cordão sangrento
na atmosfera da Terra.

A pandemia matou
os jovens negros
as mulheres trabalhadoras
es sujeites à margem.
O pandemônio assinou embaixo.
A vacina chegou atrasada
no lugar dela, fuzis
600 mil vidas
sem voltas.

E se contássemos também
os corpos das populações indígenas
as vidas arrancadas de África
as histórias não contadas do povo
os amores assassinados pelo ódio
as trans-feridas para a vala
quantas voltas dariam?

A resistência não para
enganam-se os que pensam vivermos uma distopia
a luta é histórica.
Acendemos velas
entoamos hinos
organizamos manifestações
escrevemos versos revoltos
desafiamos a lógica do capital
transamos ao meio-dia.

Não somos astronautas
Nosso pé está fincado na mãe-terra.
Mas, se fôssemos, o que veríamos?
Planalto Central invadido por bois
que assolam o terreno infértil.
A Amazônia em chamas
com festas clandestinas a preço de dólar.
As baleias jubarte encalhadas no litoral
sem rota tampouco saúde.
O preço do feijão valendo mais
que bala no cartucho.

Em solo brasileiro
aterrizou a catástrofe
e do alto de seus mandatos
enviaram qualquer proposta
para Marte.
Todos os projetos em defesa dos direitos humanos
explodiram no ar
minutos depois de lançados ao espaço.
E todos eles, juntos da bandeira,
aplaudiram de pé ao desfile das forças armadas.

Catástrofe 21
Deveria ser o nome deste foguete
E ele daria
três
dois
um
Voltas e meia ao redor da Terra
anunciando o fim dos tempos.
O projeto que deu certo
é o Brasil que muitos querem.

Às margens do Guaíba
derrama este 7 de setembro em água
de chuva
de lágrima
de raiva.
As mensagens que chegam da II Marcha das Mulheres Indígenas alertam
“Busquemos equilíbrio pra resistir com amor”.
Há de se continuar.

Da cabine da spaceship
Vê-se um Brasil que ainda está aqui.
E não,
não desistiremos.
#forabolsonaro

Outro olhar sobre o Rio Amazonas (Foto: André Kuipers/ESA) Fonte: https://canaltech.com.br/espaco/este-e-o-brasil-visto-do-alto-da-estacao-espacial-internacional-veja-fotos-124218/

Camila Alexandrini: Costumava dizer de mim que sou professora, mas estou pensando em deixar de ser. Nasci sob o sol de Touro, mas o ascendente é Capricórnio. Não sou chata, me entendo mais como uma mulher determinada, às vezes, obstinada. Sou branca, em contínuo exercício de racialização. Falo alto, quase sempre. Falo muito também. Certa vez, um professor me fez desistir de um pós-doutorado porque eu falava demais, quase caí. Não caio mais. Já trabalhei de tudo, me adapto fácil porque não me agarro. Dentro de mim, também habita uma alma calma, que dorme ouvindo mantras.

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Somos um projeto coletivo de ações educacionais plurais em busca de diferentes modos de existência e de outra humanidade possível.