A normatividade

LMA
foradaasa
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2 min readNov 8, 2021

Existem muitas coisas que são perigosas para a norma. Ela é ardilosa, poucas vezes se expõe. Sempre às sombras, quanto mais forte, mais disfarçada de natural ela consegue ser. Ela também é fraca, pois precisa ser reafirmada a todo instante e, paradoxalmente, isso a confere tanta força. Uma pena que insistem em reviver e dar vida a essa prática de morte que ceifa possibilidades e vidas. Antes de nascermos já estão nos matando. Não estou usando de metáfora para chamar atenção, matam muitas de nossas possíveis vidas ao nos codificarem dentro dessa epistemologia binária antes mesmo de nascermos, pra ficar em um exemplo. A norma é criminosa, é assassina. Não sabemos sequer quem somos, o que somos sem ela? Não faço ideia. O que você é fora dessa jaula? Comumente ouve-se que somos livres, e somos, até certo ponto, ela está logo ali nos vigiando como um demônio à espreita. Por isso, convido a pessoa que lê que ainda não se deu conta da força desse demônio a fazer um ritual de inovação: experimente uma vida diferente. Brinque com a vida, seja uma criança, teste os limites, as possibilidades, desse brinquedo que é o teu corpo. Muito mais cedo do que você imagina, a norma sairá das sombras com seus tentáculos gosmentos para te segurar. Ela possuirá todos a sua volta e falará através dessas pessoas que te rodeiam em uníssono: Seja normal ou ao menos tente. Seja normal ou ao menos tente. Seja normal. Ao menos tente. Talvez ela já tenha te possuído e você tenha ficado com nojo ou medo de se pensar fora dela, mesmo sozinho, lendo esse texto na tua mente. É difícil ser alguém que você não foi criado para ser. Ela operou sua castração de forma precisa, é difícil sequer imaginar algo fora dela. Não é preciso nenhum chip para te controlar. Onde está a norma dentro de você? Onde está você dentro da norma? Junte-se a nós nessa batalha, precisamos descobrir quem somos. Nós queremos mais do que essa vida-morta que nos permitem. Não existe vida mais triste do que uma vida dentro da normalidade, é entediante. Por isso, escrevo e dedico esse meu primeiro texto fora do armário a todas aquelas pessoas que vivem essa batalha contra a norma, que insistem em serem diferentes, que se afirmam como anormais. Como disse antes, existem muitas coisas que são perigosas para a norma. Uma delas é uma travesti escrevendo. Poucas coisas são mais perigosas do que uma travesti juntando palavras, com uma ideia que comove e perturba o corpo e com um lápis na mão. E acho que é isso que eu quero ser…

até a destruirmos.

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