Sonhos forasteiros

Nathalia Borges
Forasteiras
Published in
3 min readJul 8, 2018

Imagem: La mente es maravillosa

Então ela pegou o carro e dirigiu sem rumo. O incerto, companheiro de viagem, jamais o abandonara. Foi ao encontro de nada, encontrou o palpável. Questionamentos lhe invadiam a mente, como a chuva intensa enche o pote vazio.

O Sol ainda tímido entre as nuvens, iluminava as gotículas de água na relva rasteira , quando parou o carro em um vilarejo esquecido e deixou-se cair a grama. Deitada com o dorso ao chão de modo a observar o céu, puxou todo o ar que o seu pulmão, debilitado talvez, suportara, por três vezes consecutivas. Falaram-lhe que essa pratica fazia com que o corpo liberasse substâncias entorpecentes no cérebro e nos músculos, resolveu tentar.

Agora mais calma, lembrou.

Disseram-lhe que ela queria o mundo, mas nunca conquistara de fato algo. E eles estavam corretos.

Nunca gostou de tomar decisões, sempre às achou muito limitadas, e as fronteiras nunca a seduziu. Quando criança, queria se tornar pilota de fórmula 1, adorava a velocidade e som produzido pelos carros ao cortar o vento. Quando jovem, com os pés um pouco acima do solo, optou por engenharia, talvez porque o campo de exatas era melhor compreendido, talvez porque foi manipulada pela ganância, ou até mesmo, gostasse de edificar os sonhos dos outros. Agora, na fase transicional entre jovem e adulto, a compreensão da realidade lhe colocou os pés ao chão. Optou por não optar. Especializada em conquistar, mas não em consolidar, ela cansou-se de querer algo fixo, que não lhe traria a satisfação plena.

Hoje, sua bagagem de experiência, esta cheia. A conduz para os caminhos inexatos. A acompanha aos trajetos sem fim.

Talvez um dia, ela encontre algo que lhe instigue intensamente o coração, de modo a alcançar a plenitude. E talvez no fundo, ela saiba qual caminho percorrer.

Mas enquanto isso, ela dirige, e dirigindo, se perde, deixando para trás um rastro de poeira de sonhos, que ao se fundir com o ar, transforma em saudade, saudade daquilo que foi, que poderia ser, ou do que será. E ela segue, segue em busca de respostas, de verdades, de amor. A estrada da possibilidade é a sua preferida.

O trajeto será composto por desvios. A direita talvez encontre felicidade, já a esquerda, saudade, mas é somente talvez, pois o caminho é incerto. Entretanto, é o seu caminho. A viajem conterá percalços e sobressaltos, não tenha dúvidas quanto a isso. Portanto, antes de sair, vista uma roupa confortável e coloque o sapato adequado, encha a mochila de sonhos e permita-se se perder, quem sabe assim você não acabe se encontrando?!

“Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais. Teus passos ficaram. Olhe para trás… Mas vá em frente, pois há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te.”

~ Charlie Chaplin

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