A pandemia pelos muros de Imperatriz: Fotoetnografia e caminhadas com um artista de rua[1]

Fotocronografias
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5 min readOct 6, 2021

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Jesus Marmanillo Pereira[2]

Resumo: O presente ensaio resulta de uma etnografia realizada entre os meses de fevereiro de 2020 e abril de 2021, dando especial atenção à relação entre graffiti e a pandemia, na cidade de Imperatriz-MA. Para tanto, traz a seleção de dez fotografias produzidas durante esse tempo de convivência com o artista de rua Haresh Koury. Tais imagens resultam de um processo compartilhado de exploração urbana: caminhadas e intervenções que demonstram a cidade de Imperatriz a partir de perambulações teóricas e da experiência de campo.

Palavras-chave: Caminhadas, graffiti, Imperatriz

The pandemic through the walls of the Imperatriz:Photoethnography and walks with a street artist

Abstract: This essay is the result of an ethnography carried out between the months of February 2020 and April 2021, giving special attention to the relationship between graffiti and the pandemic, in the city of Imperatriz-MA. For that, it brings a selection of ten photographs produced during this time of interaction with the street artist Haresh Koury. Such images result from a shared process of urban exploration: walks and interventions that demonstrate the city of Imperatriz from theoretical perambulations and field experience.

Keywords: Hiking, graffiti, Imperatriz

[1] Pesquisa financiada pelo edital N° 002/2018 — APOIO À PROJETOS DE PESQUISA — UNIVERSAL da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão — FAPEMA
[2] Filiação: Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia (LCH), Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS da Universidade Federal do Maranhão) e Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal da Paraíba (PPGAS-UFPB).Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Cidades e Imagens(LAEPCI-UFMA), membro do Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções (GREM-UFPB) e do Grupo Interdisciplinar de Estudos em Imagem(GREI-UFPB).
jesusmarmans@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/1961690584395600
https://orcid.org/0000-0001-5220-5567

Motivado por uma oficina realizada no Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NAVISUAL-UFRGS) durante o ano de 2020, decidi sistematizar dez fotografias que apontam para momentos ocorridos entre fevereiro de 2020 e abril de 2021. Trata-se de um período pandêmico no qual acompanhei, “de perto”, o trabalho do artista Haresh Koury no centro da cidade de Imperatriz-MA. A fotoetnografia (ACHUTTI, 2004) e as caminhadas (DIOGENES, 2015, ROCHA e ECKERT, 2020) orientaram as experiências de: 1) explorar a cidade e mapear as artes produzidas por ele; 2) aproximação e acompanhamento na produção de graffitis dos artistas Salvador Dali e da Frida Kahlo, na escadaria do bairro Beira Rio durante o carnaval de 2020; e 3) acompanhamento de uma série de produções relacionadas aos temas da pandemia, natureza, homenagens a personalidades falecidas, mundo do skate, entre outros.

Cada uma das imagens possibilitou trilhar em um duplo caminho: o primeiro demonstrava, , que as intervenções artísticas faziam da cidade um lugar de crítica e reflexão sobre o contexto pandêmico, outro, sinalizava um conjunto de sociabilidades nos âmbitos da prática do graffiti e skate local.

No âmbito da estética e da política, as produções do artista trazem um tipo de “partilha” do sensível (RANCIERE, 2005), já que “embaralham” as formas de viver e fazer “palavras” e imagens na cidade. Trata-se de uma arte que atribui sentido à comunidade em torno do debate sobre a falta de vacinas e de valorização da saúde.

Elas geram o compartilhamento quando trazem as temáticas abordadas para lugares comuns e acessíveis, redistribuindo significados, espaços e atividades que conectam ao graffiti aos temas atuais. Por outro lado, representam uma seleção de ideias que transitam entre o mundo da arte urbana e os temas de protesto, deslocando os significados e contextos que não ocupariam tais lugares, se não fosse à intervenção do artista. Esse segundo aspecto pode ser notado nas escolhas e na produção dos esboços das artes que sinalizam referências a ele próprio e a seus diálogos com diversos outros artistas.

Enfim, as caminhadas e diálogos possibilitaram perceber que escadarias, bares e praças, muros e casas abandonadas remetiam ao cotidiano de transeuntes, pessoas em situação de rua , usuários de drogas, skatistas estudantes, entre outros. Tal como a arte de rua, as caminhadas foram fortuitas, fragmentadas em instantes de encontros e desencontros, porém perenes na repetição cotidiana transcrita nos muros por meio dos graffitis, expressada nas redes sociais e na repetição dos itinerários urbanos. Assim, as caminhadas deixaram marcas coloridas nesses lugares. Cores que conectam edificações, ruínas e muros aos olhares, sentidos e formas de viver na cidade. Finalizando, é possível ressaltar o viés de Simmel (1998) ao notar que a arte urbana se insere nas formas arquitetônicas da cidade, conectando-se ao fluxo da natureza e compondo uma imagem emoldurada (e integrada) com a vida e o ruir da cidade, transformando, assim, a tensão em unidade.

Referências

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia da Biblioteca Jardim. Porto Alegre: Editora da UFRGS, Tomo Editorial, 2004.

DIÓGENES, G. M. S. Entre cidades materiais e digitais: esboços de uma etnografia dos fluxos da arte urbana em Lisboa. Revista de Ciências Sociais (UFC), v. 46, p. 43–67, 2015.

ECKERT, CORNELIA; ROCHA, A. L. C. A arte de narrar as (nas) cidades: etnografia de (na) rua, alteridades em deslocamento. Hawo — Revista do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil, v. 1, p. 1–52, 2020.

RANCIÉRE, Jacques. A partilha do sensível: Estética e Política. São Paulo: ed.34.2005.

SIMMEL, Georg. A ruína. In: SOUZA, Jessé e ÖELZE, Berthold. Simmel e a modernidade. Brasília: UnB. 1998. P. 137–144.

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