“Acción Poética S.M.”: uma narrativa biográfica de Marcela Echeverría

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5 min readJun 6, 2018

Cristiane Penning Pauli de Menezes[1]

Edição n° 4 — Arte urbana

Resumo: A arte urbana e sua inserção nas paredes da urbe é uma polêmica que ganha guarida nas discussões da sociedade complexa. Muitos rechaçam as práticas de grafismos urbanos, com argumentos pautados na propriedade privada e na estética. Santa Maria é emblemática nos grafismos urbanos, porém, dentro do rol de aceitação estética encontra-se Marcela Echeverría e a “Acción Poética”. O objetivo deste ensaio é trazer sua narrativa biográfica e fazer imbricações com as dinâmicas culturais nas sociedades complexas.

Palavras-chave: Arte Urbana. Cidades. Graffiti. Poesia. Sociedades complexas.

“Poetic Action “: a biographical narrative of Marcela Echeverría

Abstract: The urban art and its insertion in the walls of the city is a controversy that gains shelter in the discussions of the complex society. Many reject the practices of urban graphics, with arguments based on private property and aesthetics. Santa Maria is emblematic in urban graphics. However, within the list of aesthetic acceptance is Marcela Echeverría and “Poetic Action”. The purpose of this essay is to bring its biographical narrative and make overlap with cultural dynamics in complex societies.

Keywords: Urban art. Cities. Graffiti Poetry. Complex Societies.

[1] Doutoranda em Processos e Manifestações Culturais (FEEVALE). Mestre em Direito (UFSM). Graduada em Direito (FADISMA) e no Programa Especial de Graduação para Professores (UFSM). Pós Graduada em Direito (UNIFRA). Concessão de Incentivo Interno: FEEVALE.

Este ensaio possui o escopo de descortinar e trazer em estreitas linhas os caminhos de Marcela, idealizadora do “Acción Poética S.M.”. A história da argentina cruza os pagos do Rio Grande do Sul e ali inicia uma importante marca para a arte urbana santa-mariense.

Marcela Echeverría nasceu em 1969, na cidade de Buenos Aires. A história daquela menina cruzou com a de Santa Maria depois de muito tempo. Ainda jovem, terminara o ensino médio e ali nasciam dúvidas sobre seu futuro profissional.

Sobre si, Marcela sabia algumas coisas: gostava de letras, de literatura, de filosofia, de sociologia e história. Resolveu aventurar-se com o curso de jornalismo. Faltou empolgação. Tentou ciência da computação e o olho não brilhou. Encontrou um curso técnico em jornalismo e ali achou mais: uma guinada em sua trajetória estava por vir.

O tempo passa e Marcela conhece uma pessoa no jornalismo, com o qual veio morar no Brasil. Se trata do pai de seu filho. A família dele é oriunda de Santana do Livramento. Cidade em que o jovem casal fez morada por um ano e meio, aproximadamente, e depois vieram para Santa Maria. Junto do casal vem uma importante página da Arte Urbana para a cidade: chega a “Acción Poética”.

A “Acción Poética” foi criada pelo escritor mexicano, Armando Alanís Padro. O autor começou movido pela vontade de publicar poesia, atrelada a dificuldade em fazer impressões com as empresas editoriais. Resolveu sair para rua e começar a pintar. Escolhia o fundo branco e a letra preta, imitando a página de um livro. E assim ele começou.

Ao ver de Marcela, a poesia faz um diálogo com quem passa. Ela tomou coragem e perguntou se podia fazer a ação em Santa Maria. Armando responde que sim e passa normas. Depois disso, ela se põe a pensar: “E agora? Eu que vou sair pra rua pintar?” Lembrou que fazia muito tempo que passava todos os dias por um muro grande com bastante visibilidade. Munida de coragem deu o primeiro passo a um projeto que modifica a estética de toda uma cidade. Escreveu “sin poesia no hay ciudad”.

A cidade mudou.

As sociedades complexas trazem seu bojo a importância das dinâmicas culturais no âmbito das cidades e tais dinâmicas se caracterizam pela heterogeneidade e descontinuidade.

Para Velho, pode-se auferir que a principal característica das sociedades complexas está na coexistência de diferentes visões de mundo e de estilos de vida (2003, p.14). E, é justamente essa heterogeneidade de saberes dentro do mesmo espaço que gera conflitos. A metamorfose anunciada por Velho é processo social pelo qual, através da mobilidade contínua entre códigos, faz com que o indivíduo se reconstrua permanentemente.

Nesta sociedade é possível verificar não tão somente códigos e discursos diversos, mas, também, posições diversificadas sobre diversos temas. É justamente essa maleabilidade e fluidez que configura um dos aspectos mais cruciais para a compreensão das sociedades complexas no âmbito dos grandes conglomerados de pessoas: as cidades.

É possível, a partir dos estudos de Simmel, compreender o motivo pelo qual a inserção da arte urbana não é bem recepcionada por fragmentos da sociedade, uma vez que o indivíduo não inserido neste contexto de arte tende a repelir as manifestações que fogem à sua lógica de normalidade. Marcela é bem aceita. Ela possui autorização dos proprietários para inserir sua arte nos muros e isso a coloca em um patamar de estética pouco questionada.

No âmbito das sociedades complexas não é possível conceber uma linha homogênea de práticas e saberes. E, mesmo assim, a sociedade quer ser uma totalidade e uma unidade orgânica, de maneira que cada um de seus indivíduos seja apenas um membro dela (SIMMEL, 2006, p.84).

Mesmo há vinte anos em Santa Maria Marcela escreve em espanhol. Escolhe frases com carinho e espalha amor nos brancos das paredes frias.

Referências:

SIMMEL, Georg. Questões Fundamentais da Sociologia: Indivíduo e Sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro, Zahar Editor, 2003. 149p. Leituras: Unidade e Fragmentação em sociedades complexas.

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