Alvorada do Remo: memória e identidade do Clube de Regatas Riachuelo a partir de narrativas imagética s da cidade de Florianópolis

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6 min readJun 25, 2019

Rowing Sunrise: memory and identity of the Riachuelo Regattas Club from visual narratives of the city of Florianópolis

Cristhian Caje [1]
Rafael Venuto [2]

Resumo: Alvorada do Remo tem como objetivo refletir, a partir das imagens da cidade de Florianópolis e de fotografias que compõem o acervo fotográfico do Clube Riachuelo, as relações e as dinâmicas das transformações entre identidade, memória e as várias masculinidades entre gerações de atletas que participam desta sociedade esportiva.

Palavras chaves: memória ; identidade; remo; cidade.

Abstract: Rowing Sunrise aims to reflect, from the images of the city of Florianópolis and photographs that compose the Riachuelo Club photographic collection, the relations and dynamics of the transformations between identity, memory and the various masculinities between generations of athletes participating in this sport society.

Key words: memory; identity; rowing; city.

[1] Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1347295103852372 email: cristhiancaje@gmail.com.
[2] Mestrando em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4303918002725987 email: rafael.vnt@gmail.com.

Alvorada, aqui, tem dois sentidos: o primeiro é uma referência à prática do remo em Florianópolis, remete à hora em que a “guapa rapaziada” encontrava-se para exercitar o físico nos galpões da Beira Mar há muito tempo; e, segundo, pelo remo ser um esporte estreitamente vinculado aos projetos políticos da modernidade, aos novos tempos, aos novos homens e às novas cidades, seja em Paris, em Londres ou estados brasileiros do início do século XX, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Em Florianópolis, a primeira sociedade de regatas — o Clube 29 de Abril -, organizada em meados do século XIX, contaria com a participação dos Coronéis da Marinha e da Escola de Menores e Marinheiros da Canhoneira, permitindo também que as atividades relacionadas ao remo fossem oferecidas a todos que se associaram ao clube na ocasião. Mas somente no ano de 1915 este esporte adquiriria sua característica de prática física salutar ao homem moderno, com a fundação do Clube Náutico Riachuelo, junto a seu status de Clube Social.

Entre as transformações urbanas que ocorriam na cidade, que visavam higienizar e dar ares modernos aos seus habitantes, o remo e sua prática seriam incentivados. Durante as regatas, aos domingos, na beira do Mercado Público, os remadores se tornavam verdadeiros heróis ao exibirem sua força, beleza e disciplina. Assim, esboçar a presença do remo e as suas relações com o corpo, a cidade e as elites políticas da capital catarinense, ao longo do século, é um dos principais objetivos deste ensaio fotográfico.

Este trabalho se desmembra da minha tese em Antropologia Social — ‘’Os vencedores cheios de glória: masculinidade, identidade e memória no remo’’, em que são feitas análises a partir de relatos etnográficos e fotografias, sobre a articulação entre relações de gênero, masculinidade, e conceitos antropológicos de identidade e memória no contexto do Clube de Regatas Riachuelo. A partir de uma abordagem teórica interdisciplinar, relaciona-se aportes da história, das teorias feministas, da antropologia visual e da antropologia urbana dentro do campo dos estudos sociais sobre o esporte, especificamente no contexto epistemológico da Antropologia do Esporte.

Alvorada do Remo tem como objetivo refletir, a partir das imagens da cidade de Florianópolis e de fotografias que compõem o acervo fotográfico do Clube Riachuelo, as relações e as dinâmicas das transformações entre identidade, memória e as várias masculinidades entre gerações de atletas que participam desta sociedade esportiva. O caminho metodológico escolhido foi a escrita de uma etnografia com elementos visuais a partir de registros fotográficos.

Em 2015, por motivo da comemoração do centenário do Clube, o acervo fotográfico passou por um processo de classificação, musealização e exposição das imagens. Este evento foi para os Riachuelinos um marco importante para repensarem sua identidade dentro de um processo histórico. Articulando algumas discussões sobre história e cultura que surgiram na antropologia a partir de autores como Marshal Sahlins (1987), Lilia Schwarcz (2005) e Jean e Jhon Camarrof (2016) podemos analisar este importante evento e seu reflexo sobre os processos históricos do Clube e da sua memória, como um momento elemental para a construção do presente dentro de uma dinâmica cultural caracterizada pela continuidade e mudança, simultaneamente.

O acervo fotográfico do Clube Riachuelo, aparece como um narrador da cidade, a partir da sua composição imagética podemos esboçar a transformação destes conceitos e como eles aparecem com a temporalização que as imagens fazem, permitindo criar uma interpretação sobre como a memória, a identidade e as relações de gênero emergem, se tencionam, se fragmentam e se recriam décadas depois de sua fundação, para chegarmos finalmente a uma interpretação aproximada sobre construção social da categoria nativa de ‘’Remador’’.

Referencias Bibliográficas

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

CONNELL, Raewyn. Masculinidades. México, D.F.: UNAM-PUEG, 2015a.

COMARROF, Jean e John. Etnografia e imaginação histórica. Tradução de Iracema Dulley e Olívia Janequine, 2016.

MARCUS, George. Identidades passadas, presentes e emergentes: requisitos para etnografias sobre a modernidade no final do s. XX ao nível mundial, in: Revista de Antropologia, Vol. 34, pp. 197/221, USP, São Paulo, 1991.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

SAHLINS, Marshall. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1987.

SCHWARCS, Lilia. Sobre uma antropologia da história. In: QUESTÕES DE FRONTEIRA, 2005.

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