Fotografias, territórios urbanos e reverberações da memória

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6 min readJun 23, 2019

Ana Patrícia Barbosa [1]

Resumo: Este ensaio fotográfico é resultado da pesquisa de doutorado realizada durante os anos de 2014 a 2017 na região da Grande Cruzeiro em Porto Alegre, RS. Minha aproximação com o uso de recursos visuais como instrumento metodológico de pesquisa tem início no doutorado, quando cursei, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), da Universidade Federal do Rio Grande do SUL (UFRGS), a disciplina de Antropologia Visual e da Imagem, e vinculei-me ao Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV) junto ao Laboratório de Antropologia Social da mesma Universidade.

Photographs, urban territories and reverberations of the memory

Palavras-chave: Espaço; Tempo; Territórios; Memória.

Abstract: This photographic essay is the result of the doctoral research
conducted from 2014 to 2017 in the “Grande Cruzeiro” region of Porto Alegre, RS. My approach to the use of visual resources as a methodological research tool starts in the doctorate in the Graduate Program in Social Anthropology (PPGAS) in the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), the discipline of Anthropology Visual and Image, and I joined the Image and Visual Effects Bank (BIEV) next to the Laboratory of Social Anthropology of the same University.

Keywords: Space; Time; Territories; Memory.

[1] Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale — Tese Defendida em 2017: Sobre Juventudes e Territorialidades: Estudo Etnográfico sobre as Trajetórias Juvenis na Grande Cruzeiro, em Porto Alegre/RS.

Em minha inserção etnográfica, as fontes visuais apresentaram-se como objeto de estudo da memória coletiva (HALBWACHS, 1990), em contextos urbanos. Com essa perspectiva, analisei as fotografias do acervo da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro do Sul (AMOVICS), desvendando todo o universo simbólico presente por detrás de uma simples foto. Percebi que a condição temporal da imagem, em relação à memória, também representaria aspectos do sujeito e do mundo, no momento em que evocava as suas narrativas. Seria uma forma de recomposição do passado, e não apenas uma representação de um fato que aconteceu. Não é apenas o registro de um passado estático, mas trata-se de dar vida por meio do olhar de quem interpreta. Nesse sentido, a etnografia da duração, nos moldes de Eckert e Rocha (2013), está ligada a esse ato de recordar, que opera por meio de uma intenção presente. A ênfase está no fato de que a imagem também contém em si essa diversidade de estruturas espaço-temporais que alimentam a memória e configuram o ato de duração.

Por intermédio do acervo de imagens da AMOVICS consegui antigas fotos da Região no intuito de reconstruir, por meio da memória dos moradores, um pedaço do passado da Região. O registro visual foi um importante recurso metodológico para construir uma “narrativa” não só sobre os espaços vividos, mas também sobre práticas cotidianas (DE CERTEAU, 2012), e estilos de vida dos moradores da região da Grande Cruzeiro.

Um levantamento histórico/imagético referente à formação inicial da região da Grande Cruzeiro foi realizado por mim junto ao acervo Associação de Moradores da Vila Cruzeiro do Sul. Lá, encontrei registros de jornais do bairro e fotografias que retratavam a paisagem urbana da Região no final dos anos 70 e início dos anos 80 que contribuíram para a minha compreensão sobre as sucessivas configurações que aconteceram no decorrer desses períodos. Esses documentos também influenciaram as narrativas de meus interlocutores sobre a formação inicial da Grande Cruzeiro, datada da década de 1950.

Andrade (2002, p. 49) diz que: “Olhamos para fotografias para resgatar o passado no presente. Existe uma magia quando imortalizamos as pessoas e o tempo nas fotos. Para as tribos urbanas, fotografias são provas de sua existência, de sua identidade e história”. As imagens apresentadas resultam da pesquisa etnográfica realizada neste estudo, tendo por objetivo registrar as transformações urbanas na Grande Cruzeiro. Elas contêm em si uma diversidade de estruturas espaço-temporais que alimentam a memória e configuram o ato de duração.

As primeiras ocupações na região da Grande Cruzeiro datam dos anos 1950 e início dos anos 1960, com a chegada de mais ou menos cem famílias, em sua grande maioria vindas de outras localidades da cidade que, vislumbram uma possibilidade de deixar de pagar aluguel, e fixar-se em nova moradia na condição de proprietário. A região da Grande Cruzeiro representava para a população das camadas mais pobres da população de Porto Alegre, a possibilidade de ascensão social, tanto pela oportunidade de emprego, de moradia própria, bem como por se tratar de uma área cuja distância era menor em relação ao centro da cidade. Esses primeiros ocupantes foram atraindo outras pessoas, dando início às primeiras ocupações na Região.

O conjunto de imagens a seguir revela detalhes das transformações da Grande Cruzeiro e dos personagens que habitam a Região, através de múltiplas temporalidades.

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: Olhares Fora-Dentro, São Paulo: Estação Liberdade, 2002.

DE CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

ECKERT, Cornelia; ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. Etnografia de rua: estudos de antropologia urbana. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2013.

ECKERT, Cornelia; ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. Premissas para o estudo da memória coletiva no mundo urbano contemporâneo sob a ótica dos itinerários urbanos e suas formas de sociabilidade. Iluminuras: Série do Banco de Imagens e Efeitos Visuais, Vol. 2, nº 4. Porto Alegre: Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001.

ECKERT, Cornelia; ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. Etnografia: saberes e práticas. Iluminuras Revista Eletrônica do BIEV/PPGAS/UFRGS, v. 31, p. 1, 2008.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução de Laurent Léon Schaffter do original La Mémoire Collective. Presses Universitaires de France, Paris, p. 25–47. 1990.

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