Mulheres e graffiti: construindo imagens nas ruas de Belém do Pará

Fotocronografias
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5 min readJun 7, 2018

Thayanne Tavares Freitas [1]

Edição n° 4 — Arte urbana

Resumo: Este ensaio fotográfico traz alguns momentos etnográficos de mulheres grafitando em Belém do Pará, região Amazônica. Nas imagens busco protagonizar a participação destas mulheres na cena do graffiti no norte do Brasil, relacionando o estar na rua como forma de reivindicação de uma comunicação imagética por meio do graffiti. A hostilidade encontrada na rua, muitas vezes provocada pela presença de minorias, é mais tensionada quando está atrelada a uma arte marginalizada como o graffiti.

Palavras-chave: graffiti; mulheres; Amazônia; reivindicação; espaço; visibilidade.

Abstract: This photographic essay brings some ethnographic moments of women graffiti in Belém do Pará, Amazon region. In the images I seek to lead the participation of these women in the graffiti scene in the north of Brazil, relating the being on the street as a way of claiming an image communication through graffiti. The hostility found in the street, often provoked by the presence of minorities, is more tense when it is tied to a marginalized art such as graffiti.

Keywords: graffiti; women; Amazon; claim; space; visibility.

[1] Doutoranda em Antropologia pelo PPGAS/UFRGS
Bolsista CNPQ
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1393601607851756

Mulheres no graffiti. Como ainda existem dúvidas sobre a sua participação na arte urbana? Compreendendo o graffiti a partir da sua ligação direta com o movimento Hip Hop, a participação de mulheres, mesmo que em condição minoritária, está contida em diversas pesquisas como Magro (2003), Ganz (2006), Macdonald (2006), Silva (2008), Moreno (2011), Herse (2012) e daí por diante. A permanência destas mulheres em uma atividade artística repleta de desafios, como é o graffiti, traz múltiplas dificuldades. Esse contexto se mostra hostil pela tentativa de ocupação dos espaços públicos e por essa arte ser vista com estigma, como periférica e muitas vezes ilegal juridicamente (exceto nos casos em que os muros são cedidos pelos proprietários). Quando mulheres conseguem romper com os estereótipos e preconceitos que surgem, nesta busca de visibilidade e reconhecimento, é possível ampliar a perspectiva de constituição do que seria o graffiti.

Pude compreender melhor o assunto no final de 2014, quando participei de uma oficina de graffiti oferecida por uma grafiteira paraense, em que o principal objetivo era formar novas mulheres grafiteiras e que o ato de pintar fosse duplamente político. De início, uma mulher chegar a pintar o seu primeiro muro, possivelmente tenha passado anteriormente por múltiplas situações que a fizessem desistir, como: a associação da mulher a um espaço privado em que a rua fica cada vez mais distante de se ocupar; uma suposta fragilidade contida neste corpo feminino; algumas questões que envolvem a compra de material e em outros casos mais específicos a maternidade, e a condição de cuidadora exclusiva de seu filho.

Segundo, após essa miscelânea de desafios, quando finalmente essa mulher chega nos muros, ela precisa provar para muitos que o lugar dela também é estar na rua podendo construir uma nova relação com esse espaço, comunicando-se imageticamente por meio desta vivência. Quando Michelle Cunha trouxe a proposta da oficina, era uma mulher atraindo outras mulheres para essa nova forma de vivenciar e se relacionar com esse espaço urbano. E não só isso, mas comunicar lutas muitas vezes silenciadas.

Neste sentido, trago nesta sequência de imagens a vivência dessas mulheres que muitas vezes retratam a si próprias nos muros da cidade de Belém do Pará. Nas imagens a seguir aparecem as artistas: Ka Miranda, Ster, Juh e Luan (Freedas Crew), Camila (ex integrante das Freedas Crew), Michelle Cunha, Tica Loss (grafiteira de Porto Alegre), Daniella e Heloisa (Vida Loka Crew), Mina Ribeiro, Kah (grafiteira de Manaus) e artistas participantes do evento Motyrô: manas no muro.

Referências:

Ganz, N. 2006. Graffiti woman: graffiti and street art from five continents. London: Thames & Hudson.

Herse, L. F. H. 2012. Aproximaciones al análisis sobre graffiti e género en México. Revista de Estudios Urbanos y Ciencias Sociales 2(2): 133–141

Machado, T. P. A. 2011. Graffiti girl: contributos para uma identidade feminina no contexto da produção de graffiti e de street art em Portugual. Dissertação de Mestrado. Mestrado em Design da Imagem, Universidade do Porto, Porto.

Macdonald, N. 2006. The Feminine Touch: The highs and lows of the female graffiti experience. In: Graffiti Woman. Editado por Nicholas Ganz, pp. 12–13. London: Thames & Hudson.

Magnani, J. G. C. 2002. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais 17(49):11–29. Magro, V. M. 2003. Meninas do graffiti: educação, adolescência, identidade e gênero nas culturas juvenis contemporâneas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de Campinas, Campinas.

Moreno, M. 2011. Mulheres no muro: grafites e grafiteiras em Salvador. Dissertação de Mestrado. Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Silva, V. 2008. As escritoras de grafite de Porto Alegre: um estudo sobre as possibilidades de formação de identidade através da arte. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação

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