Transitar pelas cidades sul-americanas:
uma experiência a partir dos lambes urbanos

Fotocronografias
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6 min readJun 7, 2018

Otros Hermanos:
Roberta Filgueiras Mathias[1],
Beatriz Fazolo Nogueira Miguel[2]

Edição n° 4 — Arte urbana

Resumo: O Otros Hermanos é um projeto amplo de pesquisa visual e audiovisual em contínua elaboração a partir de viagens pelos países da América do Sul. A partir da experiência transitando / caminhando por essas cidades, apresentamos neste ensaio nossas reflexões através da produção de lambe-lambes (parte de uma produção gráfica conceitual que temos desenvolvido a partir das relações entre antropologia, design e artes). Em uma tentativa de compreensão e de estabelecimento de conexões, criamos e nos deslocamos nesses espaços sobrepondo imagens como uma forma de co-existir e interferir na paisagem urbana.

Palavras-chave: Lambe-lambes, cidades, paisagem gráfica da cidade, América do Sul.

Abstract: Otros Hermanos is a visual project research from South America’s countries. From to experience to walk through the cities-metropolis, we present in this work our reflections through the production of urban arts (part of a conceptual production that we seek with the construction of the relations between anthropology, design and arts). Trying to understand and establish connections, we create and transit in these spaces overlapping images as a way of co-existing and interfere in the urban landscape.

Keywords: Urban arts, cities, city graphic landscape, South America.

[1] Doutoranda de Antropologia Social na Universidad Nacional de San Martín, Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e graduada em Ciências Sociais pelaPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É professora convidada do IUPERJ/UCAM na pós-graduação em Fotografia e Imagem onde leciona disciplinas que trabalham com a relação entre Antropologia e Visualidades. Pesquisadora do GRAPPA-Grupo de Análises de Políticas e Poéticas Audiovisuais.
http://lattes.cnpq.br/3104292258472067

[2] Designer formada em Desenho Industrial — Programação Visual pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduação em Design Estratégico pela ESPM-RJ, tendo cursado xilogravura pelo Sesc-Rio e Design e Arte Contemporânea: Identidade e Comunicação Visual na Casa França-Brasil. Atua como designer freelancer em projetos gráficos e pesquisadora independente em temas relacionados à Design, Artes e Cultura Latino-americana. http://lattes.cnpq.br/0890282250419695

Nosso trânsito pelas cidades sul-americanas e o projeto que desenvolvemos durante esses anos[3] faz parte de um esforço para compreender e estabelecer conexões, criar e recriar laços a partir de experiências acadêmicas e artísticas. Os lambes produzidos são uma parte desse processo e, nesse ensaio, iremos nos debruçar sobre a produção dos mesmos.

Pensar a produção desses lambes a partir de suas características técnicas talvez sirva inicialmente para trazer à tona conceitos com os quais procuramos trabalhar. As ideias de território fluido, de espaços múltiplos e complexidade da realidade sul-americana que nos acompanham ao longo de nossos diálogos e experiências sobre essas cidades podem ser entendidas aqui a partir de uma proposta oposta a de George Perec. A provocação é pela tentativa de não esgotamento de um lugar. Nossas imagens não possuem identificação espacial ou temporal. Ainda que possamos dizer que as imagens aqui expostas são de Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Buenos Aires, Lima, Cuzco e Santiago , essas cidades no sentido que pretendemos trabalhá-las, poderiam ser substituídas por qualquer grande ou média cidade sul-americana.

Não trabalhamos com a proposição ingênua de que todas as cidades são iguais, pois temos consciência das particularidades de cada cidade e cada país, mas apresentamos nuances que podem conectar esses território. Partimos das diferenças entre lugar e espaço tal qual Marc Augè entendendo o espaço como dotado de valor simbólico e da ideia de Canclini de culturas híbridas (e o hibridismo se torna essencial em nossa maneira de vivenciar essas cidades), mas nosso pensamento também é voltado para a ideia de acontecimento.

[3] O Otros Hermanos é um projeto de pesquisa visual e audiovisual em contínua elaboração a partir de viagens pelos países da América do Sul no qual trabalhamos as relações entre antropologia, design e arte.

É o efêmero que nos interessa. E aquilo que permanece dessa efemeridade. Assim como nos próprios lambes, as imagens apresentadas em geral não prezam pela fixidez , ou seja, não são reproduções de estereótipos desses espaços, mas há algum grau de cultura sul-americana que se pode pressentir nas imagens. O que se perde e o que permanece dessa cultura sul-americana e sem que adentremos o universo do estereótipo? O que isso pode nos dizer sobre o que é ser sul-americano na contemporaneidade? Como nos fortalecer a partir dessas semelhanças, mas também a partir dessas diferenças?

Nesse sentido, nossos trabalhos são mapas afetivos atemporais e um convite para aqueles que transitam pelas ruas experimentarem essas transposições de espaços e tempos. Os lambes são uma maneira de permanecer sempre em trânsito, co-existindo com os lugares em uma troca constante.

Esteticamente também é muito importante esse transitar reverberado agora pelos passos do outro e a ampliação da capacidade de comunicação a partir de inúmeras linguagens. As intervenções realizadas nas fotografias que produzimos ao longo desses trajetos, buscam sobrepor ou distorcer umas às outras. Novas imagens são geradas e criamos novos espaços, inexistentes fisicamente, mas que resistem em nossas memórias. Por sua vez, as intervenções geradas pelos interlocutores urbanos seguem sobrepondo esses lugares.

Referências:

AUGÉ, Marc. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994, 111p.

CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad. Heloísa P. Cintrão e Ana Regina Lessa. 2ª edição. São Paulo: Edusp, 1998. 392p

FABARON, Ana Clara Sobre la apropiación de símbolos culturales y una reflexión sobre posibles metodologías de investigación antropológica que combinen aportes del campo del arte, en Papeles de Trabajo, Año 6, Nº 9, junio, pp. 277–281. ISSN 1851–2577.

SOLNIT, Rebecca. A história do caminhar Martins Fontes; 2016, 512 páginas

O CONCEITO DE LUGAR. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225> Acesso em: 26 maio 2018.

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