vol 06, n. 13 — O trabalho das imagens
O trabalho das imagens
Organização desta edição
Felipe Rodrigues
Guillermo Stefano Rosa Gómez
Luísa Dantas
Manoel Rocha
Submissão de trabalhos para este dossiê até 31/07/20
O trabalho, em sua feição moderna, foi tema privilegiado de uma vasta produção de imagens que tiveram e têm papel central nas narrativas sobre o Ocidente. A fotografia, meio de expressão característico de uma sociedade baseada na civilização tecnológica (Freund, 1993) acompanhou a industrialização e urbanização das sociedades modernas.
As imagens fotográficas e fílmicas — e a própria literatura -, formam “imagens do trabalho”, seja nas obras de Charles Dickens e Emile Zola, nos tempos modernos de Chaplin ou na Paris industrial de Germaine Krull (Sichel, 2014). Uma leitura antropológica do trabalho evidencia que “tornar-se moderno” detém em si “perturbações próprias das contradições do sistema capitalista e da ideologia da modernidade” (Cf. Eckert, 1995, p. 182). Desse modo, a potencialidade polissêmica das imagens também vibra desencaixes: “a imagem do ser humano na fábrica serve tanto à apoteose quanto à desconstrução dos valores e práticas dessa sociedade” (Casaqui & Hoff, 2010, p. 46). As fotografias de Lewis Hine, por exemplo, foram relatos da industrialização norte-americana, ao mesmo tempo que denunciaram o trabalho infantil.
É posto que o fenômeno do trabalho e suas imagens não se resumem à origem teológica do trabalho no mundo: esse conceito ganha força se entendermos o trabalho de maneira mais ampla, incorporando também práticas, concepções e perspectivas múltiplas. “Trabalho”, entendido nessa perspectiva ampla, está ligado a produzir e construir mundos.
Nos cenários contemporâneos, as imagens do trabalho surgem em profusão, seja nos discursos do marketing e consumo, narrativas empresariais, discursos políticos e de movimentos sociais, ou dos processos de consolidação das sociedades nacionais. As imagens do trabalho, das trabalhadoras e dos trabalhadores, são centrais nas negociações de sentido e disputas narrativas em torno dos dilemas do sistema capitalista contemporâneo.
Com essas reflexões em mente, nos interessa nesse dossiê perceber como a antropologia e áreas afins dialogam com a produção visual tecendo narrativas nos/dos universos de trabalho, em diferentes contextos e escalas. Se imagens convidam a pensar, oferecendo “uma faísca de imaginário para sonhar” (Samain, 2012), estendemos esse convite para pensar o trabalho em imagens — que podem ser produzidas em interação nas pesquisas de campo, ou oriundas de acervos públicos e/ou pessoais — e o trabalho das imagens na construção de narrativas, memórias e discursos.
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Submissão de trabalhos para este dossiê até 31/07/2020
Referências Bibliográficas
CASAQUI, Vander; HOFF, Tânia. Imagens do trabalho nos séculos XX e XXI: movimentos do sentido nas representações do corpo associadas à esfera produtiva. Galáxia, núm. 20, diciembre, 2010, pp. 44–56
ECKERT, Cornelia. Do corpo dilapidado à memória re-encantada. In. Leal, Ondina (Org.) Corpo e significado: ensaios de antropologia social. Porto Alegre: Editora UFRGS, 1995
FREUND, Gisèle. La Fotografía como Documento Social. México, Editorial Gustavo Gili, 1993.
ROCHA, Ana Luiza Carvalho e ECKERT, Cornelia. Etnografia do trabalho, narrativas do tempo. Porto Alegre: Marcavisual, 2015a.
SAMAIN, Etienne (org.). Como pensam as imagens. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2012.
SICHEL, Kim. Contortions of Technique: Germaine Krull’s Experimental Photography. In Mitra Abbaspour, Lee Ann Daffner, and Maria Morris Hambourg, eds. Object:Photo. Modern Photographs: The Thomas Walther Collection 1909–1949. An Online Project of The Museum of Modern Art. New York: The Museum of Modern Art, 2014. http://www.moma.org/ interactives/objectphoto/assets/essays/Sichel.pdf
