O Trabalho das Imagens: Apresentação

Fotocronografias
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14 min readSep 14, 2020

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Felipe Rodrigues[1]
Guillermo Stefano Rosa Gómez[2]
Luísa Dantas[3]
Manoel Cláudio da Rocha[4]

“Como argumentar sobre o trabalho no fluxo do tempo, se não na experiência temporal de quem praticou, agiu, viveu […]” (Rocha & Eckert, 2015, p. 32)

O lançamento do dossiê “O trabalho das imagens”, tema da Revista Fotocronografias nº 13, representa para nós uma proposta de integração de duas comunidades interpretativas: a antropologia visual e a antropologia do trabalho. Assim, celebramos esse diálogo produtivo, o qual demandou uma seleção cuidadosa de ensaios fotográficos que contemplassem os debates conceituais dos universos do trabalho, não deixando escapar a abertura epistemológica ao imaginário e ao compromisso com a postura ética e de interlocução etnográfica no trabalho com e através de imagens.

Essa iniciativa quer, por um lado, tensionar a narrativa que apresenta as investigações do fenômeno do trabalho como “duras” ou “sérias”, tornando-as refratárias às dimensões sensíveis da experiência, às visualidades e ao imaginário — miradas que, quando muito, relegam a fotografia a uma ilustração, restringindo sua potência simbólica, afetiva, imaginativa e criadora. De outro, convida “as imagens a pensar” (Samain, 2012) sobre temas da política econômica, tais como o desemprego, o dinheiro, o assalariamento, os direitos, a dignidade, a desigualdade, o racismo, o machismo e a classe social. Essa dupla frente interpretativa segue na direção do que entendemos por uma antropologia visual do trabalho.

A afinidade do trabalho moderno com o tema das imagens fotográficas remete à origem industrial de ambos, produtos da modernidade técnica (Freund, 1993) e capitalista do ocidente. Nos dias contemporâneos, somos bombardeados por imagens que produzem significações sobre o trabalho e as/os trabalhadoras/es, ora de forma inacabada e limitada, ora eclodindo em uma polissemia de constelações imagéticas. Nesse amplo bojo de representação e imaginação, cabe perguntar: qual o papel da narrativa antropológica visual do trabalho? De que maneira podemos, a partir da perspectiva etnográfica, produzir e nos relacionar com imagens do trabalho aderindo ao horizonte imaginativo dos grupos de trabalhadores/as pesquisados/as?

Os pressupostos que fundamentam essa perspectiva partem de um trajeto intelectual[5] que valoriza a interpretação das narrativas e das “imagens de si” (Ricoeur, 1991) construídas pelos sujeitos de pesquisa (Dantas, 2020). Seu acesso se dá por meio do movimento intersubjetivo de imersão nas imagens do outro, orientado para a produção etnográfica que faz uso de uma estética ética, dialógica e restitutiva (Rocha & Eckert, 2013). Defendemos (Gómez, Rapkiewicz & Eckert, 2019) que o primeiro movimento dessa antropologia da imagem que se propõe compartilhada é o reconhecimento de quais são os regimes imagéticos que já existem nos universos pesquisados, permitindo que as produções realizadas durante a pesquisa de campo estabeleçam convergências a partir dessas imagens que estão “no campo” (Collier & Collier,1989) e que são evocadas ou mobilizadas pelos sujeitos com os quais pesquisamos.

As imagens antropológicas do trabalho têm um desafio de dar conta dos macroprocessos brutais e transformadores que envolvem as precarizações do trabalho e da vida de trabalhadoras/es, sem perder de vista as práticas de resistência, resiliências, e subjetividades nos contextos laborais (Ortner, 2016). A relação tensa entre glamourização ou nostalgia e a exploração “inescapável” se dá, justamente, no espaço imaginativo das narrativas do trabalho que comportam comporte os projetos singulares, os sonhos e a cultura do trabalho.

Enfatizamos, ainda, o vínculo deste dossiê com a Rede Latino-Americana de Antropologia do Trabalho (RELAT), que parte do movimento de consolidação de redes de pesquisa em torno do fenômeno do trabalho na América Latina em seus diferentes contextos e escalas (Gómez et al., 2020). Nesse mesmo sentido, anunciamos uma parceria com a Revista Latinoamericana de Antropología del Trabajo para a publicação de um segundo volume deste dossiê.

Ensaios

Neste volume, apresentamos dezesseis ensaios que versam sobre o trabalho em uma multiplicidade de contextos e sentidos, evocando vozes e imagens de trabalhadoras e trabalhadores. As autoras e autores provém de distintas regiões do Brasil, além de duas contribuições da Argentina e uma do México. Destacamos, ainda, nosso agradecimento especial ao trabalho atencioso da equipe técnica, editorial e do corpo de pareceristas.

Os múltiplos sentidos do título “O trabalho das imagens” permitem pensar tanto as imagens do trabalho em si, como o trabalho feito pelas próprias imagens no curso de pesquisas antropológicas. Então, para além do “trabalho de impregnação da luz sobre superfície sensível”, evidente nos procedimentos técnicos fotográficos, está em jogo o “trabalho etnográfico” (Ferraz, 2013, p. 146) de pensar com e a partir das imagens. Levando isso em consideração, organizamos uma proposta narrativa de apresentação da revista, a qual tem como eixo norteador o trabalho enquanto fenômeno temporal, não deixando de valorizar e enfatizar a variedade de perspectivas e criatividades das imagens do trabalho e do trabalho das imagens neste conjunto de ensaios.

Ao iniciar o dossiê, adentramos na reabertura de um acervo de imagens de pesquisa (Cf. Bruno, 2019) de Cornelia Eckert com seu ensaio intitulado A morada operária, mergulho nas imagens de uma experiência etnográfica em La Grand-Combe (França). A partir de sua pesquisa de doutorado com a última geração tradicional de mineiros de carvão na França (Eckert, 2012), a autora reconta, por meio das imagens de seu acervo pessoal, os tempos de crise e de duração da comunidade operária que se sentia traída pela modernidade. Valorizando a experiência de transitar pela antiga vila mineira, outrora carregada de uma vocação industrial, Eckert realiza uma etnografia da crise que fica evidente no drama das ruínas e dos edifícios prestes a serem demolidos. A sobreposição de temporalidades nas moradias operárias e nos conjuntos habitacionais das “novas” políticas urbanas, revelam as contradições dos ciclos econômicos do final da década de 1980 na Europa. As imagens e os relatos de campo não dimensionam apenas a ruptura da comunidade com seu modo de vida: estão centradas na duração que emergia da vida cotidiana, das sociabilidades lúdicas e/ou da ocupação dos espaços públicos. A duração, tema central da obra de Cornelia (Rocha & Eckert, 2013), surge de seu próprio acervo e das vibrações e reflexões que essas imagens incitam nos dias atuais.

São os tempos de memórias e ruínas que fundamentam O trabalho das imagens nas experiências do confinamento em hospitais-colônia, de autoria de Daniele Borges e Claudia Turra Magni. As autoras privilegiam a potência das imagens na construção de narrativas sobre “patrimônios difíceis”, tais como os hospitais de confinamento compulsório na cidade de Viamão (RS). O entrecruzamento das memórias narrativas com as memórias imagéticas é um dos pontos centrais no ensaio, aberto às múltiplas “sobrevivências” (Didi-Huberman, 2018) e fantasmagorias evocadas pelas experiências de pesquisa de campo e do trabalho das e com imagens. Combinando os acervos, narrativas e as fotos produzidas em campo, essas constelações tornam-se chaves fundamentais para a interpretação das memórias dolorosas. É o trabalho das imagens que reverbera as emoções e subjetividades daquele espaço/patrimônio.

As memórias ferroviárias e suas imagens são o tema do ensaio Etnocolecionismo em imagens: reminiscências e durações ferroviárias no Rio Grande do Sul, de Yuri Schönardie Rapkiewicz. O conceito de coleções estrutura o ensaio, na medida em que aproxima eticamente o pesquisador e seus interlocutores como guardiões da memória das ferrovias no sul do Brasil. As coleções são compostas por imagens multifacetadas: são provenientes dos acervos pessoais mantidos pela comunidade ferroviária, de documentos remanescentes da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), de instituições como o Museu do Trem ou, ainda, produzidas por Rapkiewicz ao longo de quase uma década de pesquisa. As imagens e memórias do trabalho ganham força e significado na medida em que são incorporadas nos “desejos de memória” (Rapkiewicz, 2018) dos ferroviários, ferroviárias e suas famílias, isto é, em suas reivindicações políticas e cotidianas pela manutenção do patrimônio ferroviário.

O ensaio seguinte faz referência aos tempos de uma vida vinculada às imagens. O trabalho e o Homem que trabalha — Uma ode ao Trabalho: Percursos fotoetnográficos, de Luiz Eduardo Robinson Achutti, é fundamentado em sua atuação como fotógrafo e discute as relações entre arte, imagem fotográfica e trabalho. O conjunto de fotos perpassa sua trajetória acadêmica e as imagens da pesquisa de mestrado e doutorado para chegar no trabalho no “mundo da arte” (Becker, 2008) e, por fim, no trabalho operário. As imagens de seus percursos fotoetnográficos (Achutti, 2004) são multissituados: Cuba, Uruguai, Nicarágua e França, são alguns dos países que emergem em seu relato, junto com a cidade de Porto Alegre, no sul do Brasil.

Seguidas das imagens operárias de Achutti, o ensaio de Paulina Siciliani e Hernán Palermo, EL POZO MANDA”: Los trabajadores de la industria del petróleo en Argentina, apresenta uma densa etnografia entre os trabalhadores petroleiros da cidade de Comodoro Rivadavia, sul da Argentina. As imagens dialogam com o cotidiano de trabalho na “cidade do petróleo” e enfatizam a relação entre corpos e máquinas, o trabalhar ao relento, a periculosidade e as vestimentas de proteção. Os gestos do labor petroleiro têm respaldo tanto no disciplinamento empresarial como nas apresentações e idealizações da masculinidade subjetivada(Palermo, 2017).

O ensaio de Luísa Dantas, Movendo estrutura: Cleusa e a organização das trabalhadoras domésticas, traz ao dossiê a abordagem de um trabalho socialmente atribuído ao feminino, aspecto refletido nos dados estatísticos: mais de 95% das trabalhadoras domésticas no Brasil são mulheres. A autora propõe uma narrativa visual que acompanha uma doméstica na cidade de Salvador/BA em sua atuação política no sindicato e no grupo de mulheres que fundou em seu bairro, com o intuito de registar dimensões do trabalho e da vida que a própria trabalhadora decidiu enfatizar. As visualidades apresentadas por Dantas colocam em evidência a possibilidade de mulheres negras ocuparem espaços historicamente interditos, de forma a buscar produzir e construir um espaço de visibilidade e luta simbólica.

Se aqui nos aproximamos da relação do trabalho com o mundo urbano, os dois próximos ensaios vinculam essa urbanidade com a arte como forma narrativa. A proposta da artista Maria Rosa Andreotti valoriza seu deslocamento e seu olhar atento às questões do trabalho. Em #MariaRosaAndreottiProyectoTrabajadores, a autora compila parte de sua galeria virtual apresentada no Instagram. As fotografias dialogam diretamente com sua atuação como cineasta e partem de seus percursos pela Ásia, Europa e Américas, registrando de diferentes formas de trabalho e suas cotidianidades. Maria Rosa se posiciona como pertencente a uma geração que observou a fundamentação do emprego como um valor e que, nos dias de hoje, presencia a dissolução das políticas de proteção social e a agudização da precariedade. Esse movimento no tempo é fagulha inspiracional para tomar o trabalho em suas diferentes expressões, tanto como objeto quanto como motivação artística.

Se a arte de Maria Rosa lança uma mirada ao trabalho, Mauro Castro é um taxista que faz de seu trabalho uma arte. A vivência cotidiana dirigindo seu táxi pela cidade de Porto Alegre já proporcionou substrato para ampla produção literária (Castro, 2018), séries de televisão e crônicas visuais. A curadoria apresentada aqui, Cotidiano de Porto Alegre nas lentes de um Escritor-Taxista: Crônicas visuais do Taxitramas, parte de seu acervo divulgado no Instagram para refletir sobre a profissão do taxista na dupla condição de trabalhador e narrador urbano. O ensaio apresenta a diversidade de personagens com os quais Mauro se encontra e registra no cotidiano citadino e investe nas imagens da cidade em suas múltiplas temporalidades e espacialidades, como se Porto Alegre contivesse em si mesma múltiplas cidades (Calvino, 2003; Míeville, 2014). Por fim, sugere imagens de si mesmo, as quais ajudam a construir esse personagem híbrido que é Mauro Castro.

O leitor e a leitora são convidados/as a entrar no trabalho tanto pelas imagens como pelas sonoridades, registradas no processo etnográfico de Sylvia Caiuby Novaes em O Trabalho das Imagens — Imagens e sons do Trabalho. Remontando a importantes influências na fotografia documental que se interessaram pelo registro dos “pequenos ofícios”, a autora nos apresenta o personagem do amolador de facas, inserido no imaginário citadino dos sons de sua infância. Por meio de retratos, a autora traz pessoalidade e humor à sequência. A relevância dos personagens apresentados é evidente pelo trabalho enquanto talento familiar herdado, ou seja, a efígie do trabalhador artífice (Sennett, 2009) e do saber-fazer transmitido geracionalmente pela via da oralidade, os quais são pautados na não dissociação entre as práticas de aprendizagem e as práticas de trabalho propriamente ditas.

São trabalhadores manuais que ganham espaço em Artífices Cuiabanos, ensaio de Luzo Reis. Baseado em sua pesquisa realizada em 2018, o autor percorre o centro da cidade de Cuiabá/MT evidenciando os ofícios tradicionais e propondo uma reflexão sobre sua desvalorização na contemporaneidade. O ensaio reflete sobre a importância do estudo da cultura dos ofícios para que possamos compreender nuances de raça/cor/etnia, gênero e classe no mundo do trabalho. Mais do que perdurarem enquanto “sobrevivências” dos tempos pré-industriais, os artífices narrados por Luzo engendram a duração de tais atividades por meio do processo criativo e resiliente de reinvenção das práticas laborais, bem como da ressignificação dos sentidos do trabalho.

Em Pesca e Prosa, Alexsânder Nakaóka Elias acompanha Seu Édson, um peixeiro que aprendeu o ofício com o pai e ocupa a cidade de São Paulo desde as primeiras horas do dia para vender seu pescado. As imagens acionam os tempos dos ofícios, da rotina de trabalho, dos gestos, das repetições, da artesania individual dedicada a cada peixe. A poética do cotidiano e sua estética rítmica vibra na narrativa imagética e na maneira como Édson é construído visual e biograficamente por Elias. O “ensaio verbo-visual” é produto do aprendizado, do estar junto na observação da técnica e na escuta da narrativa.

Amanhecendo no Ver-o-Peso: o trabalho que nutre, ensaio de autoria de Nana Brasil, estetiza a cronologia e o metabolismo entre os tempos da natureza e as rotinas urbanas das trocas mercantis. As imagens acompanham trabalhadores e trabalhadoras que ocupam esta importante feira da cidade de Belém (PA) da madrugada até o amanhecer. As fotografias de Nana Brasil chamam atenção para as performances corporais dos/as trabalhadores/as na relação com compradores, mercadorias e equipamentos na poética do dia-a-dia.

Também do estado do Pará, Thiago Azevedo exibe múltiplos olhares de um trabalho regido pelo tempo das marés no ensaio Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuça entre o cotidiano e o poético. O registro imagético convida o/a leitor/a a imaginar uma poética da rotina e do cotidiano de trabalhadores conduzidos por outros fluxos que não os do relógio. As imagens contemplam os tempos do trabalho e os tempos do repouso, tensionando a tradicional dicotomia entre as categorias modernas de tempo produtivo (do trabalho) e não-produtivo (aqueles ociosos não capturados pela racionalização do trabalho). As rítmicas do descanso, da lúdico, do convívio familiar, assim como do trabalho propriamente dito, orientam-se por um tempo ecológico e cosmo-ontológico e se apresentam poeticamente na narrativa visual construída por Azevedo.

O ensaio seguinte, O tempo das mulheres: imagens e trabalho cotidiano no contexto rural, é produto de pesquisa no Sertão de Pajeú em Pernambuco. São múltiplas autorias que assinam o ensaio: Lorena Moraes, Shana Sieber, Nicole de Pontes, Juliana Funari, Nathália Nascimento, Roberta Gomes e Kecya Freire, enfatizando o caráter coletivo do projeto. Narram-se os usos do tempo empregados em diversas atividades laborais, enfatizando o predomínio do trabalho doméstico e de cuidado concomitante com o da agricultura e da organização política. A partir de uma abordagem feminista, as autoras chamam atenção para a divisão sexual do trabalho, o exercício generificado e racializado do trabalho não remunerado e a escassez de tempo para o lazer e autocuidado das mulheres.

Dando continuidade ao contexto rural, Janaína Santos e Alejandro Hoyos assinam O trabalho no Cacau Cabruca: conhecimento tradicional e agroecológico no assentamento Terra Vista no Sul da Bahia, ensaio fundamentado em etnografia na cidade de Arataca/BA. A autora e o autor chamam atenção para a ancestralidade negra e indígena nos saberes dos/as agricultores/as familiares. Essas pessoas, a partir da agroecologia agrícola e social, encontram na produção do cacau seu sustento e sentido para estar no mundo — apesar de muitas vezes o trabalho feminino ser invisibilizado e relegado à nomenclatura de “ajuda”. As imagens acompanham o cacau desde o germinar da semente até sua comercialização, aspecto que enfatiza o “envelhecer junto” (Schutz, 1979) dos tempos compartilhados da pesquisadora e pesquisador com seus/as interlocutores/as.

O ensaio que fecha o dossiê é Working tobacco hands, de Lourdes Salazar Martínez. A autora denuncia a falta de dignidade e de direitos trabalhistas a que indígenas mexicanos são submetidos no trabalho com o fumo, visto que são mão de obra procurada por sua suposta habilidade com as mãos [nimble fingers]. O ensaio chama atenção para formas de trabalho não-livres ou semi-livres que são constitutivas à manutenção e avanço do capitalismo, além de representar outra lógica de trabalho e/ou infância, posto que é comum que os indígenas sejam acompanhados de suas famílias e crianças no trabalho. As fotografias nos oportunizam o conhecimento dos corpos e locais de produção do fumo, bem como posturas de descanso e sociabilidade familiar.

Os ensaios que compõem este dossiê convocam as imagens do trabalho e o trabalho das imagens na construção de memórias, visibilidades e resistências, desde na permanência da artesanal dos “pequenos ofícios” até os grandes símbolos do trabalho industrial. São imagens que atravessam e provocam o pensar sobre trabalhadoras e trabalhadores do mundo rural e urbano, inseridos em lógicas de mercado, cosmologias e culturas distintas. Evidenciam-se múltiplas temporalidades: o tempo incessante do trabalho, a cronologia do relógio e do controle da rotina, os tempos do mundo, da natureza, do envelhecer, do passado e presente nas narrativas e acervos, do germinar das sementes, dos deslocamentos locais e globais de pessoas, mercadorias e imagens. São pesquisas que trazem à tona os desafios de uma antropologia do trabalho com imagens e de uma antropologia visual do trabalho, evidenciando o quão é rico esse diálogo e as possibilidades de conhecer e fazer pensar.

[1] Graduando em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
felipe.editoracao@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-3646-7641 http://lattes.cnpq.br/8171419229468738

[2] Doutorando em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
guillermorosagomez@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-2902-9993
http://lattes.cnpq.br/6493056213953884.

[3] Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA)
luisadantas@ufpa.br
http://lattes.cnpq.br/1573989294603242
https://orcid.org/0000-0003-0267-2778

[4] Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
manoelrochacs@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-8477-6062
http://lattes.cnpq.br/5627189989331476

[5] Em especial, nossa trajetória de formação no Núcleo de Antropologia Visual (Navisual/PPGAS/UFRGS) e no Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV/PPGAS/UFRGS), grupos consolidados que formam, há décadas, pesquisadores e pesquisadoras que atuam na interface da Antropologia Urbana, Antropologia Visual e Antropologia da Memória do Trabalho.

Referências

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