Mário Manga

Marcelo Garcia
fotografista
Published in
4 min readOct 27, 2017

25/03/2017, Sesc Pompeia, São Paulo.

A diversificada carreira de Mario Manga está intimamente ligada à do grupo paulista Premeditando o Breque, conhecido tanto pelas letras irreverentes quanto pela qualidade de suas músicas, cujos arranjos misturavam rock, MPB, choro e música erudita. Aliás, o show de Mario Manga foi o mais próximo que cheguei de realizar o velho sonho de ver o Premê ao vivo.

E foi com uma versão power trio do Premê, que Mario Manga abriu seu show. Ao lado de Osvaldo Fagnani no baixo e Adriano Busko na bateria, tocou “I’m goig home”, do Ten Years After, música que Manga e Osvaldo tocavam quando ainda cursavam o segundo grau.

A esta formação mais minimalista foram sendo acrescentados músicos que fazem ou fizeram parte da diversificada carreira do compositor paulista. Wandi Doratiotto, Claus petersen, Marcelo Galbeti, Tuco Marcondes, Danilo Moraes, Swami Junior e Fabio Tagliaferri alternavam-se entre os instrumentos juntamente com Fagnani e Busko para apresentar músicas dos grupos Música Ligeira e Black Tie, além do Premê, claro.

A execução de “I’m the Walrus”, em que Manga assumiu o violoncelo e a incrível Ana Deriggi tocou violão e cantou, foi um momento especial para mim. Ana tem uma voz forte e expressiva e o desempenho de Manga como instrumentista e arranjador no violoncelo me causam admiração desde os tempos do Música Ligeira.

Músicas mais conhecidas do público, como “Rubens”, gravada por Cassia Eller, dividiram igualmente o espaço com músicas mais angulares e dissonantes (eu ia dizer “difíceis”) que representam a face erudita contemporânea do compositor Manga, como “Dedo de Deus”, cantada (?) pelo parceiro Arrigo Barnabé ao lado de Ana Deriggi.

Quando todos os músicos saem do palco, Mario anuncia um convidado que veio para fazer uma pausa nas músicas esquisitas que ele costuma compor e tocar “música bonita” para variar um pouco. Ivan Lins, com quem Mario Manga gravou e excursionou durante dois anos, entrou no palco e, em duo, executaram “Começar de novo” e “Dinorah, Dinorah”.

Em seguida, Mario divide o palco com a filha (e ótima cantora) Mariana Aydar a depois chama mais três filhos para o palco para encerrar o show em família.

Foi bacana, mas o bis foi melhor, com o Premê, claro, tocando “Balão trágico”. No meio da música, Marcelo Galbeti, disfarçado de policial, “atira” em Manga, impedindo-o de continuar a cantar. Wandi Doratiotto, em sua melhor entonação “Delegado do Bixiga”, manda o policial terminar a música, mas adverte: “Não pode mais falar a apalavra favela — fala comunidade”. Premê sendo Premê.

Com uma carreira tão rica e longeva, é fácil encontrar material de Mário Manga na internet. Para começar, tem mais fotos deste show em um álbum da minha conta no Flickr.

Do Premê nos anos 80, não encontrei uma apresentação deles na Fábrica do Som da minha preferida, “Fi-lo por que qui-lo”, mas encontrei “Saudosa Maluca”:

De uma apresentação mais recente, encontrei esse video de “Rubens” em que Mario explica o porquê de ter adotado o sobrenome Manga (a explicação é ridícula, como era de se esperar):

Ouvi incontáveis vezes o álbum que Mario Manga gravou com o trio Música Ligeira. O álbum está fora de catálogo, mas pode ser ouvido na íntegra no You Tube. A versão de “50 ways to leave your lover” é incrível. A música que dá nome ao grupo não está no álbum, mas foi incluída no DVD que o grupo lançou após a morte de Rodrigo Rodrigues, em 2005:

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