Ratos de Porão

Marcelo Garcia
fotografista
Published in
3 min readJan 21, 2018

27.11.2017, Sesc Pompeia, São Paulo.

Tomando como base o ano de 1977, em 2017 se comemorou os 40 anos do nascimento do punk rock. Nessa época, algumas bandas brasileiras abraçaram o movimento e os primeiros discos em vinil foram lançados a partir da década de 1980, dentre eles Cruscificados pelo sistema, do Ratos de Porão, lançado em 1984.

Também em 1982, o Sesc Pompeia promoveu o festival Começo do Fim do Mundo, um marco do punk rock brasileiro. O Ratos de Porão, que estava entre as 20 bandas que se apresentaram em 27 e 28 de novembro daquele ano, voltou a subir ao palco do Sesc 35 anos depois para comemorar os 40 anos de punk rock.

Como o próprio vocalista João Gordo mencionou durante o show, só este primeiro álbum do Ratos pode ser chamado de punk. Depois dele, a banda começou a misturar seu som com o thrash metal e passou a ser definida como crossover, o que lhes rendeu a fama de “traidores do movimento”. A banda sempre tratou essa acusação com humor: quando, em 1998, foi lançada uma coletânea com 20 bandas fazendo covers do Ratos, o nome não poderia ser outro, Traidô!! . O guitarrista Jão, aliás, lembrou o fato com bom humor ao dizer que, enquanto alguns punks que o acusaram de traidor hoje estão na polícia ou são evangélicos, ele continua ali, fazendo o que sempre fez.

A constância com que mantiveram a postura antifascista e contra toda forma de opressão é um dos fatores que tornam a existência da banda uma necessidade neste tempos de apatia e conformismo social. João Gordo sabe disso e, entre uma música e outra, soltou vários comentários sobre a situação atual do país. Frases como “Pau no cu do Bolsonaro”, “vamos votar porque voto nulo vai eleger esse nazista” e “MBL filhos da puta” mostram que o tempo não trouxe acomodação aos caras.

Em pouco mais de uma hora de show, tocaram do primeiro álbum “Asas da Vingança”, “Crucificados Pelo Sistema”, “Morrer” e “Periferia”, mas repertório abrangeu boa parte da discografia da banda, incluindo “Igreja Universal” (após um apropriado “bancada evangélica do caralho” de João), “Crianças Sem Futuro”, “Ignorância”, “Crise Geral”, “Ódio”, “Lei do Silêncio”, “Amazônia Nunca Mais”, “Não Me Importo”, “Crocodila”, “Testemunhas do Apocalipse”, “Aids, Pop, Repressão”, “Herança” e “Desemprego”.

No palco, Ratos de Porão é uma banda impressionantemente competente e precisa. A coesão entre os riffs de Jão, as linhas de baixo de Juninho e o baterista Boka é de cair o queixo.

Fiz um álbum com fotos do show e mandei para minha conta do Flickr.

Mais material do show está disponível no You Tube:

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