Sepultura

Marcelo Garcia
fotografista
Published in
4 min readOct 2, 2017

29/07/2017, Sesc Belenzinho, São Paulo.

Esse show no Sesc Belenzinho se concentrou nas faixas de Machine Messiah, o 14º álbum de estúdio lançado pelo Sepultura em janeiro deste ano, mas os fãs de longa data que esperavam ouvir o material mais antigo da banda não sairam de lá decepcionados.

A banda abriu com a rapidíssima e brutal “I am the Enemy”, a mais hardcore de Machine Messiah. Em seguida, também do mesmo álbum, “Phantom Self”, que começa com a melhor mistura de sambinha, guitarras distorcidas e melodias indianas que já ouvi e emenda com um riff pesado sem passar aquela sensação ruim de colagem. O arranjo desta música é espetacular.

Foi a partir de “Kairos” que comecei a ver a formação de um ainda tímido mosh pit atrás de mim. A roda ficou maior com “Desperate Cry”, do cultuado Arise, o que me levou a prestar atenção nas reações do público conforme o material tocado no show viesse dos trabalhos mais novos ou do período clássico da banda.

De volta ao novo disco, “Sworn Oath”, com sua pegada épica, teclados e variações de dinâmica foi uma das músicas que mais me impressionou. Ótima performance de Derrick Green ao equilibrar a melodia vocal com a agressividade que a música pede.

“Inner Self”, de Beneath the Remains (1989), novamente fez o povo do mosh pit invadir o espaço vital do restante do público, mas o círculo encolheu em seguida, quando Derrick Green saiu do palco para que o trio remanescente tocasse a instrumental “Iceberg Dances”. Esta música tem o arranjo mais sofisticado e interessante de Machine Messiah, com muitas variações rítmicas e riffs pesados, além de um solo de violão que foi executado integralmente por Andreas no palco, e é a de que mais gosto no álbum.

Depois de “Choke” e “Dialog”, mandaram mais uma do novo álbum, “Resistant Parasites”. Esta música tem uma passagem complicada, um pouco antes do ótimo solo de guitarra de Andreas (no CD, na altura dos 2:45), que foi feita com a precisão de uma máquina pela banda ao vivo. O efeito é impressionante.

A banda dedicou a parte final do show quase exclusivamente ao material dos discos mais antigos. As três faixas de Chaos A. D. que se seguiram fizeram o mosh pit crescer ainda mais e deram origem a uns crowd surfing bem engraçados, que eu julguei que não veria no ambiente familiar do Sesc Belenzinho: “Biotech is Godzilla”, com a versão que fizeram de “Polícia”, dos Titãs, no meio, “Territory” e “Refuse Resist”.

Tocaram “Arise” e sairam do palco, mas ninguém saiu do lugar até que a banda voltasse para o bis. “Sepultura Under My Skin”, do single de mesmo nome feito em homenagem aos fãs que possuem tatuagens do Sepultura, foi seguida de “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”, ambas de Roots (1996), fechando o show.

As poucas resenhas que li do último álbum do Sepultura, Machine Messiah, lançado em janeiro de 2017, repetiam a mesma ladainha que vem sendo dirigida à banda desde a entrada do vocalista Derrick Green, em 1997 (!): E dá-lhe dizer que “o período em que os irmãos Cavalera estavam na banda foi seu auge”, “o trabalho atual não faz jus ao período clássico” e tal.

Acho que toda banda mundialmente famosa e longeva mais ou menos passa por isso, mas muitas delas passam a viver das conquistas passadas, não ousando mudar seu som “clássico” para não desagradar os fãs (e continuar vendendo discos). Não é o caso do Sepultura. Enquanto os irmãos Cavalera faziam uma turnê celebrando os 20 anos de lançamento de Roots com sua Cavalera Conspiracy, o Sepultura decidiu olhar para frente e lançar um álbum com material inédito, seguindo adiante com a adição de ingredientes diversificados e interessantes à brutalidade e ao groove que sempre caracterizaram seu som.

Para mais Sepultura, além de postar mais fotos deste show em minha conta do Flickr, fiz uma playlist com as músicas do show no Spotify.

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