As coisas que a faculdade me ensinou
Uma reflexão que eu precisava escrever desde que me formei
Cheguei na universidade com 18 anos, muito nova para ter certeza do que queria na vida. Eu vivia indecisa, porque queria ser cantora mas já tinha aceitado que não iria rolar. Na época, tinha um blog que estava dando certo, recebendo uma média de 35 comentários por post, e com ele eu peguei um carinho enorme pela escrita.
Mas verdade seja dita: se eu chegasse na PUC do Rio Grande do Sul hoje, aos 24 anos, já encararia cada cadeira (ou disciplina, ou matéria) com um olhar bem mais atento.
Quando ganhei a bolsa integral do PROUNI em 2011, só pensava no quanto seria incrível trabalhar escrevendo textos, o que eu já amava fazer até de graça. Mas desde o primeiro dia de aula, já tremia só de pensar na possibilidade de falar para uma câmera ligada. Se bobear, até a minha pressão baixava.
Não vou detalhar as esquisitices que eu pensei e que me assombraram durante os cinco anos de curso, mas vou resumir: eu decidi que se fosse para trabalhar em uma redação, fazendo mais horas de trabalho do que vivendo e escrevendo sobre coisas que eu nem ao menos me interessava, não queria ser jornalista. O que eu queria era disseminar a cultura, falar sobre músicas, livros e filmes que agregassem algo na vida das pessoas. Queria conhecer o que eu estava escrevendo, ou ao menos me interessar (de coração) em pesquisar as pautas que caíssem nas minhas mãos. Se esse foi um pensamento infantil? Talvez. Se eu estava apavorada de me dar conta disso? Completamente.
No final das contas, me formei sem conseguir um estágio na área e a única redação em que trabalhei foi dentro da própria universidade. O estágio obrigatório teve seus pontos legais, mas só serviu para confirmar, na minha cabeça, que as grandes redações não eram o meu lugar.
Depois de formada, passei algumas semanas refletindo sobre os cinco anos que passaram voando e levantaram toda a poeira parada da minha vida. Em algum desses dias, que não vou saber qual, me questionei: a faculdade precisa servir só para o currículo e para bater na porta das empresas? Eu preciso me sentir triste porque ainda não trabalhei exatamente na área em que me formei? Preciso mesmo achar que tudo só valeu pelo diploma?
Para a minha própria surpresa, esses questionamentos me mostraram o quanto o curso de Jornalismo, e a querida Famecos, transformaram a minha forma de pensar, e alteraram significativamente a minha personalidade.
Aos 18 anos, eu me interessava demais por cultura, e só. Assistia aos jornais da TV só para saber quais bandas tocariam em Porto Alegre, lia as revistas só para ver se os Backstreet Boys apareceriam em alguma matéria (tá bom, eu ainda procuro isso…haháá) e nem parava pra ler algum post relacionado à política quando passava no meu feed do Facebook. Sim, eu confesso também que assistia os debates de políticos só para ver quando eles iriam se engalfinhar verbalmente ao vivo.
A faculdade de Comunicação Social, que engloba o Jornalismo, trabalha muito com a interpretação de notícias e textos, com a leitura de artigos e livros, e até nas conversas de corredor é simplesmente impossível ficar sem saber das coisas que acontecem no mundo. Hoje eu dou graças a Deus por isso. Tinha entrado na faculdade de jor-na-lis-mo e acabava de me dar conta que, pasmem, eu não era nem 50% informada como pensava que era. E não, eu não quero dizer que precisava decorar todas as notícias do site do O Globo, The New York Times e Le Monde a cada manhã. Mas eu não tinha nem ao menos um panorama geral do mundo lá em 2012! E percebi nos corredores da Famecos que eu nunca me interessei por assuntos que eram necessários que eu soubesse, por mais que fossem chatos à primeira vista.
A gente pensa que não, mas precisa saber mais sobre política, história, economia e, claro, cultura também. Mesmo que seja um pouquinho, mas pelo menos o básico. E olha que nós estamos na melhor época histórica pra isso: temos a internet todinha ao nosso dispor. Temos sei-lá-eu quantas páginas dedicadas a cada um desses assuntos, outras tantas dedicadas a todos eles em doses resumidas, e perdemos nosso tempo stalkeando o perfil de uma vizinha nas redes sociais, enquanto podemos aprender tanta coisa nova.
Eu pensava que não precisava aprender sobre economia, até que um palestrante foi lá na Famecos e nos disse que enxergava o Brasil em um período favorável a uma recessão. E olha só que doido: alguns meses depois, o país entrou na conhecida crise econômica, meu pai ficou desempregado e minha família ficou na maior dureza financeira de todos os tempos. Daí eu percebi o quanto já poderia ter me dado conta da tal crise nacional antes, se soubesse alguma coisinha de economia e política também.
Depois de me sentir deslocada em meio aos assuntos dos corredores, de ver o quanto eu tinha bloqueios para escrever, só por não ter conhecimento sobre as pautas que eu pegava, e de começar a sentir a autoestima baixando; depois disso foi que eu comecei a prestar atenção nos jornais da TV e nas notícias que lia na internet. Passei a pesquisar termos técnicos ou difíceis que nunca entendia, e já tinha decorado de tanto ouvir na faculdade. Comecei a consumir um conteúdo muito mais útil do que consumia antes. Continuei rindo com os memes (isso não dá pra parar, né gente?), mas aprendi a selecionar o que vejo na internet e fora dela, e nem citei aqui o meu amor pela literatura, que também se reacendeu dentro da biblioteca da universidade.
Aí sim, meus amores. Aí eu consegui entender que, se nada na vida é por acaso, a faculdade não passou pelo meu caminho sem motivos. Um curso não precisa servir só pelo diploma, e hoje eu acredito, até, que ele seja a parte mais ínfima da relevância da graduação. Eu descobri que entrei no Jornalismo para aprender sobre mim mesma e para entender o que me rodeia, e descobri o mais inusitado: eu sentia muita falta disso, mesmo sem saber. Tudo que passa pelo nosso caminho serve para nos ensinar algo, de forma natural, e um curso pode nos servir para muito além do que anotamos nos cadernos. O Jornalismo me ensinou a ser curiosa, a buscar conhecimento mesmo que ele não seja de acesso fácil, a conhecer o meu potencial e a nunca me contentar com o que já sei. Mesmo que eu não consiga um emprego no maior jornal do estado (e nem sei se gostaria), o que eu vivenciei no curso nunca terá sido em vão.
Aos 24 anos, os meus gostos são outros, mesmo que a essência da minha personalidade tenha permanecido a mesma. Eu continuo acreditando na cultura como algo necessário para a nossa inteligência, mas hoje valorizo cada outra área do saber, e enxergo todas elas como complementares. E com essas palavras, não quero indicar que sou mega inteligente, que sou descendente de Einstein e que sei mais do que alguém. Socorro, eu estou bem longe disso. O que entendo do mundo hoje é o mínimo do que ainda quero entender.
O que eu queria falar por esse textão é o seguinte: o segredo de tudo é a curiosidade. A faculdade me ensinou a manter a chama da curiosidade sempre acesa, e acredito que é isso que me leva pra frente na vida e na profissão que escolhi. Quero trabalhar com tradução e revisão de textos literários e sonho em viver disso. Mas quero, principalmente, aprender sobre todo o contexto que envolve essa forma de disseminação cultural. Agora eu sei que todo o conhecimento que adquiro pode ser útil em algum momento, e mesmo se não for útil praticamente falando, será relevante.
Ainda não arrumei um emprego em grandes redações com o meu diploma, mas o que eu aprendi dentro da Famecos supera tudo isso. Todo o conhecimento é válido, meus amores. E toda curiosidade é necessária.