Diário de Leitora #1 — Sobre respeitar o seu momento

Francelle Machado
Aprendiz de Bookaholic
5 min readFeb 24, 2018

A gente ama literatura. A gente surta numa livraria e tem uma lista de desejados que vai até o infinito e além. Aí a gente acorda, numa bela manhã de chuva (sim, porque chuva é vida!), e percebe que não está animada para ler. Mas não é apenas “não estar animada”. Parece uma recusa interior muito maior, que te afasta das coisas que tu mais ama e te mantém alheia a tudo isso.

Apresento a vocês, no Diário de Leitora de hoje, a minha situação nos últimos meses.

Imagem: Pexels

Não sei quantos de vocês, que estão lendo esse post, já passaram por isso também. Mas eu ainda não tinha passado por um momento tão complicado — literariamente falando — até o final de 2017. Normalmente, inconvenientes pessoais me impulsionavam ainda mais à leitura, até mesmo naquele clima de “vou ler pra esquecer”; mas descobri mais uma coisa sobre o ser humano: quando o problema é mais sério/chocante/inesperado que o normal, a reação de uma pessoa (nesse caso, euzinha) pode ser simplesmente paralisar. Seja parar de ler, de se inspirar para trabalhar, de planejar seus sonhos, de escrever… Parar com tudo, apertar o botãozinho de pause na vida. O problema é que esse botão nem existe, e pausando as atividades por muito tempo, a gente simplesmente para de aproveitar a vida. Ela segue impiedosamente, comigo ou “sem migo”.

Mas foi nesse clima ~animadérrimo~ que eu comecei 2018, meus amores. E mesmo tendo na Bookish Brasil um sonho que vem do fundo do coração, não tive empolgação suficiente para tocar o projeto como deveria. Na real, a empolgação não foi suficiente nem pra ler meus livríneos…imagina para escrever artigos e resenhas com a qualidade que eu sempre busco, né?!

Porém, contudo, todavia e entretanto, tudo na vida ensina alguma coisa pra gente, não é mesmo?! E nesse desânimo, em que a única coisa que rendeu nas minhas metas foi assistir Twin Peaks como se não houvesse amanhã, eu me dei conta de uma coisinha. Às vezes, o melhor a fazer não é se forçar. É, simplesmente, respeitar o seu momento; dar um merecido tempo off para si mesm@.

Venho fazendo exatamente isso. Estou respeitando um pouquinho das minhas vontades e lendo os livros que me sinto animada para ler. Sem forçar clássicos quando eu só quero uma leitura descomplicada, sem forçar romances fofurinha quando eu quero dramalhão investigativo puro e simples. Se não quero ler, não leio. E tento não ter problema com isso.

Quanto mais a gente força algo, mais aquilo se torna um fardo nas nossas costas. Então uma coisa que estou tentando implementar na minha vida é esse conceito de leitura e trabalho como forma de lazer. Conceito esse que os meus pais vivem me pedindo pra adotar, e que o trabalho em estilo home office carinhosamente me obriga a possuir. Mas esse é um hábito mais complicado de fazer do que de prometer na virada do ano. Exige muito foco, e para conquistar esse foco a gente precisa ter um psicológico que se garanta na maioria do tempo, correto?!

Para dar um descanso aos meus pensamentos e respeitar esse “bug” no meu raciocínio, decidi aceitar que estou — temporariamente — produzindo pouco e com um ritmo de leitura incrivelmente lento. Fazer o quê, né mores?!

E enquanto eu não consigo ler (e escrever) na mesma velocidade que antes, estou curtindo cada capítulo finalizado, cada dia de trabalho, cada seriado que assisto, cada coisa nova que aprendo. Tudo que importa, quando as coisas não estão na perfeição que queremos, é aproveitar o que a gente já tem.

Imagem: Philipp Cordts on Unsplash

Vivo falando que o sonho da minha vida é trabalhar — de algum jeito — com cultura literária, e percebi nos últimos meses o quanto eu realmente amo essa área de conhecimento. Nesse ano (e nos próximos) pretendo continuar firme aqui no projeto, e já me matriculei em um curso de especialização em Literatura Brasileira. Também estou desenferrujando o meu inglês em um curso online sobre obras literárias da antiguidade, e já começo até a pensar em um possível mestrado para o futuro. Mas essa parte depende de uma linda e sonhada bolsa de estudos, porque ainda não rolou de ganhar na Mega Sena, né gente.

Aos poucos, vou me reerguendo e voltando a planejar a minha carreira. Mas nem por isso pretendo surtar demais, como é um pouquinho característico de eu fazer. Essa não foi uma das minhas resoluções de ano-novo, mas estou tentando mudar em mim desde que cheguei à faculdade, em 2012. Costumo exigir 100% da minha capacidade, quando não estou com psicológico para fazer nem 30%; e quando chego aos 100%, ainda exijo mais uns 50% extra de trabalho ou criatividade. Quando eu falo que sou perfeccionista até dizer chega, não é nem para incitar elogios…é porque é um defeito chatíssimo mesmo! E me deixar trabalhar de uma forma mais natural e sem pressão psicológica é um dos objetivos pelos quais venho batalhando.

Mas enfim, eu não sei dizer direito porque resolvi escrever esse texto, mas senti que talvez alguém possa se identificar comigo, e sentir que não tá sozinh@. Quando a gente se cobra demais, até formas de lazer como a leitura acabam se tornando quase um martírio. Trabalhando com a literatura, isso pode vir a acontecer com ainda mais frequência, então quis escrever sobre isso aqui no Diário de Leitora porque penso que, para render nas metas literárias ou seja no que for, devemos respeitar o nosso próprio momento.

Aprendi isso um pouquinho na marra, mas quando o nosso psicológico não acompanha as nossas vontades, não é uma alternativa legal ficar forçando-o. Só o que acontece, nesse caso, é se sentir ainda mais impotente, por não ter foco para terminar nenhuma das mil atividades que tenha começado. E ler, por mais que seja relaxante, entra nessas atividades também. Infelizmente.

Peço desculpas se esse texto parecer meio non-sense, mas por ser uma reflexão que envolve o meu hábito de leitura, achei válido compartilhar com vocês, leitores da Bookish Brasil. E se você não sentir vontade nenhuma de ler hoje, mesmo que ame a literatura, não se angustie com isso. Dê um tempo off para você mesm@. Faça alguma outra atividade, pense sobre o que te desanimou, dê a volta por cima e, aí sim, dê uma segunda chance para aquela leitura. Ela vai estar te esperando.

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Francelle Machado
Aprendiz de Bookaholic

Estudante de Letras, Jornalista de formação e futura tradutora. Revisora textual, estagiária em Produção Editorial e pseudo-cronista nas horas vagas.