A marca da ansiedade

Geane Durante
Frestas
Published in
2 min readSep 12, 2019

Desde criança carrego um vício que diz muito sobre mim: eu roo as unhas. Não! Eu não tenho orgulho algum em expor isso, pelo contrário, tenho vergonha de não conseguir parar até hoje. Mas, preciso desabafar na esperança de abrir esse debate (pelo menos aqui no Frestas) sobre um transtorno que está por trás dessa atitude: a ansiedade.

Sempre fui muito agitada, desde criança. Sofria por antecipação em ações que, por vezes, não estavam ao meu alcance: o colega de sala que não fez a sua parte no trabalho de história, a apresentação da feira de ciências, o resultado da prova que passei dias estudando; tudo para mim era e ainda é intenso demais. Como forma de externar o que sentia, eu roía as unhas, a ponto de machucá-las.

Imagem: Pixabay

Meus pais ofereciam todo suporte que tinham para que eu parasse com isso, mas não tem jeito, quando você enxerga naquilo uma “válvula de escape”, os conselhos infelizmente são em vão. Apesar desse mau hábito, cresci como uma criança normal que brinca, cai, diverte, chora, pula e faz tantas outras peripécias.

Quando entrei na faculdade em 2013, passei uns meses sem roer as unhas, arrumando e esmaltando-as toda semana. Elas foram crescendo e o sentimento de alegria também, por vê-las sem machucados, desenvolvendo com saúde, ainda que curtas (não gosto de unhas compridas em mim).

Infelizmente não adiantou, à medida que a pressão do ambiente acadêmico foi aumentando, voltei com o meu ciclo anterior: 1. to ansiosa / 2. desconto nas minhas unhas até machucá-las / 3. vem a sensação de prazer / 4. mas que logo em seguida passa / 5. sentimento de impotência e assim, sucessivamente, como um vício mesmo.

Hoje, convivendo com essa ansiedade há mais de 20 anos, vejo que preciso buscar uma ajuda psicológica, para trabalhar isso internamente primeiro. É um longo processo e, um dia, ainda buscarei ajuda profissional, porque tenho consciência que isso é um vício (bem menor se comparado a outros), mas que não deixa de ter uma carga psicossocial a ser tratada. Enquanto isso, vou tentando recomeçar quantas vezes forem necessárias, para que essa marca da ansiedade seja cicatrizada. Ainda há tempo!

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